Exposições 2009

“Sobre as águas, a solidão e o olhar”

Curadoria:

Marcus Vinícius


Coletiva


Galeria Homero Massena


Vitória, ES, Brasil


2009

15/outubro - 13/novembro

Artistas Participantes

Alexandre Mury

Barbara Rodrigues

Fabiana Wielewicki

Flávia Vivacqua

Henrik Hedinge

Jean Sartief

Letícia Cardoso

Marcelo Gandhi

Marcus Vinícius

Oriana Duarte

Renan Araújo

Shima

Valeria Cotaimich

Verónica Meloni

Waléria Américo


Marcus Vinicius e Alexandre MuryAbertura da exposição, na Galeria Homero Massena, Vitória, no ES, em 2009.

Alexandre MuryVista panorâmica da exposição Sobre as águas, a solidão e o olha, na Galeria Homero Massena, Vitória, no ES, em 2009.

Alexandre MuryApresentação do típtico de fotografias que compõem a obra "Narciso", de 2009, exposto na Galeria Homero Massena.
Alexandre Mury

Alexandre MuryNarciso2008FotografiaTrípticoColeção particular

Texto curatorial

SOBRE AS ÁGUAS, A SOLIDÃO E O OLHAR

Marcus Vinícius - 2009


O projeto curatorial Sobre as á guas, a solidão e o olhar é concebido a partir da coincidência de interesses na natureza, na paisagem e no territ ó rio de artistas contemporâneos que vivem e realizam deslocamentos por distintos lugares do mundo, propondo ao espectador novas perspectivas ao olhar, a partir de possibilidades po é ticas da rela ç ão indiv í duo x á gua, seja como mar, lagoa, rio, imagem ou desejo.


A á gua, elemento emblem á tico dos parâmetros geogr á ficos e culturais, é tanto alimento indispens á vel do mundo e seus habitantes, como tamb é m via de deslocamento, al é m de sua interpreta ção imemorial como metáfora da vida Atrav é s de m últiplos olhares, as á guas são percorridas indistintamente em suas perspectivas naturalista, mística, histórica, polí tica, ecológica e poética


Aqui,a á gua é abordada pelos artistas a partir de vivências essenciais que são protagonistas ou testemunhas de acontecimentos que relatam suas met á foras visuais As obras se referem às rela ções das á guas com/em seus autores a partir de experiências pessoais em que os artistas combinam a admiração, acontemplação, a imersão e a reflexão


Para esta abordagem o projeto curatorial est á dividido em três eixos contempla ção interferência e absorção Cada um pressupõe um tipo de atitude do artista em relação à paisagem enquanto território, envolvendo não s ó a constru ç ão de uma visibilidade como maneiras de assumir as significações nelaimplícitas.


Contemplação


O eixo contemplação pode ser descrito como uma postura de reprodução de uma paisagem território observada de longe, evidenciando distanciamento e curiosidade Existe nas obras deste eixo um clima de mistério que vem do olhar estrangeiro com que o artista contempla a paisagem que lhe é estranha e que ele tenta apreender, fixando a em imagens de seu repertório pessoal.


São artistas que, na contemplação das paisagens, exploram sua sensibilidade, abrindo se para um diálogo com o “ em cidades que assustam e fascinam com tons de cinzas da poluição mascarando uma geometria confusa de espaços urbanos.


Aqui, os artistas dão vazão às suas memórias e paixões para construir uma narrativa pontuada pela coerência e banhada pelas águas da simbologia que alimenta lendas, mitos, histórias e desejos.


Uma viagem fora do lugar comum


Interferência


O eixo interferência pode ser visto como atuação artística sobre a paisagem território Aqui a natureza deixa de ser uma realidade autônoma para se tornar suporte da representação artística Transitórias, essas ações atuam sobre o olhar do espectador estabelecendo novas possibilidades de relações do público com seu meio.


A visualidade é alterada pela ação poética dos artistas que a modificam ora com sutileza, ora com força bruta.


O artista, através de sua ação, surpreende ou intriga o espectador e de alguma maneira transforma sua relação com seu espaço A obra cria um lugar, particulariza e personaliza aquilo que antes era um espaço neutro, cotidiano.


Absorção


O eixo absorção pode ser analisado como forma de incorporação que determinados artistas realizam de elementos de uma paisagem território que lhes é próxima, sem nenhuma intencionalidade ou mesmo sem ter disso consciência Esse eixo pressupõe uma relação intima do artista com determinada paisagem e o estabelecimento de uma identidade com esse território, num processo de afirmação de peculiaridades.


Onde o olhar desliza no horizonte.


A absorção da paisagem não é a representação ou a identificação direta de uma visibilidade perseguida na busca de sua reprodução Ela se dá pela incorporação de imagens fortes, de um entorno geográfico marcante e permanente na memória, em uma vivência de territorialidade que os muitos deslocamentos impostos pela realidade contemporânea não apagam.


Dentro da água, observando a água Ao passo que estes artistas se inserem e mergulham profundamente nestas águas, estas ações possuem também um distanciamento crítico Ao mesmo tempo em que perpassam dramaticidade, fruto de um entendimento absoluto da tragédia humana, são na verdade muito leves Os artistas deste eixo apresentam, através das águas, um diálogo entre eles e o universo.


Considerações finais


Os três eixos de relações dos artistas com a paisagem contemplação absorção e interferência evidenciam diferentes experiências da territorialidade na paisagem contemporânea Podem ser tomados como marco de possíveis articulações entre o local e o global, pois constituem diferentes formas de relação de um olhar com determinando espaço geográfico, seja ele rural ou urbano, próximo ou distante, alterado ou rememorado.


Sobre as águas, a solidão e o olhar celebra as águas que banham os sentimentos mais profundos dos amores e desamores, da relação com a terra e tudo que dela emana, do enlace entre o sagrado e o humano, da reverência às próprias referências.


A exposição apresenta subjetividades emergentes no confronto com territórios paisagens e que evidenciam as identidades múltiplas e flexíveis que se enfrentam com as tensões e as oposições colocadas pela globalização da cultura de massa, reafirmando a especificidade da arte, enquanto depositária de sentidos Subjetividades que, recriando territórios reais ou simbólicos, tentam responder aos problemas colocados pela contemporaneidade no qual a paisagem natural ou urbana ainda é um fator determinante de identidades.


São as várias expressões artísticas dialogando entre si Sobre as águas, a solidão e o olhar flerta com o mundo real ainda que mantenha um excesso de poesia, conduzindo a uma viagem pelas várias faces da criação artística genuína de um mundo tão complexo quanto desconhecido através de águas doces, salgadas e limpas, cada vez mais raras por aqui.