Cavaleiro Noturno | 2013
Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: Cavaleiro Noturno
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2013
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: autorretrato, releitura,
Obras Relacionadas: Schwarzer Fürst, Black Knight, Black Prince, Cavaleiro negro, 1927, Paul Klee
Artistas Relacionados: Paul Klee
⚿ Palavras-chave
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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
A obra Cavaleiro Noturno (2010), de Alexandre Mury, é uma fotografia performática que reinterpreta o universo pictórico de Paul Klee, especificamente a obra Cavaleiro Noturno, mas com uma abordagem que transita entre o histórico e o contemporâneo, o espiritual e o pop. Mury pinta seu rosto e busto com glitter prateado, criando uma superfície brilhante que, sob o efeito de uma luz negra, adquire uma tonalidade azul escuro e fluorescente. Esse efeito visual não apenas evoca a paleta de cores de Klee, mas também introduz uma atmosfera psicodélica e tecnológica, sugerindo uma ponte entre a dimensão espiritual da música, tão cara a Klee, e os novos contextos da cultura contemporânea.
A pintura corporal é meticulosamente elaborada, com detalhes em amarelo que remetem diretamente à obra original de Klee. No entanto, Mury substitui o objeto misterioso carregado pelo cavaleiro — possivelmente um instrumento musical, como uma ocarina — por um pastel, um alimento comum no cotidiano brasileiro. Esse gesto não é casual: a presença de elementos alimentícios nas obras de Mury é recorrente e carregada de significados. Aqui, o pastel pode ser lido como uma crítica à banalização da cultura, uma metáfora do consumo ou até mesmo uma alusão à ideia de sustento, tanto físico quanto espiritual. O pastel é pintado com tinta para harmonizar com as cores da obra, reforçando a ideia de que até o mais mundano dos objetos pode ser transformado em arte.
O título da obra, Cavaleiro Noturno, lança luz sobre a escolha dos materiais e a reencenação do quadro. Mury parece se inspirar não apenas na dimensão espiritual da música, como fazia Klee, mas também nas baladas noturnas contemporâneas, com suas luzes psicodélicas, maquiagens espetaculares e a cultura das festas eletrônicas. A figura do cavaleiro, em vez de ser um símbolo de transcendência, torna-se uma representação ambígua da cultura atual, onde a identidade é produzida, adulterada e performada através de tecnologias e efeitos visuais que embaçam a fronteira entre o real e o artificial.
A cenografia e a iluminação são recursos fundamentais na construção da narrativa visual. A luz negra, ao destacar o brilho fluorescente do glitter, cria uma atmosfera que oscila entre o místico e o tecnológico, o sagrado e o profano. Essa dualidade é reforçada pela postura enigmática de Mury, que, assim como Klee, dificulta interpretações fáceis, convidando o espectador a mergulhar em camadas mais profundas de significado. A obra não apenas dialoga com a história da arte, mas também com a cultura pop, a moda e as novas formas de expressão identitária que emergem na contemporaneidade.
A performatividade da cultura contemporânea é um tema central na obra. Mury, ao se pintar e se fotografar, questiona a noção de autenticidade e a construção da identidade em um mundo onde a imagem é constantemente manipulada e reinventada. O glitter, a luz negra e o pastel são elementos que, juntos, criam uma narrativa visual complexa, que pode ser lida como uma crítica à superficialidade da cultura de massa ou como uma celebração da capacidade de transformação e ressignificação.
Paul KleeSchwarzer Fürst, Black Knight, Black Prince, Cavaleiro negro, Cavaleiro Noturno1927Óleo e têmpera sobre tela33 × 29 cmColeção de Arte da Renânia do Norte-Vestfália, Düsseldorf
O Cavaleiro Noturno, de Paul Klee, é uma pintura abstrata com formas geométricas simples que representa uma fisionomia humana geometrizada que emerge na composição em realce no fundo escuro. Possivelmente, a obra ilustra um músico segurando uma ocarina, um tipo de flauta tradicionalmente feita de cerâmica. Acredita-se que este instrumento musical de sopro surgiu há mais de 12.000 anos e tem particular importância nas culturas chinesa e mesoamericana.
Os sinais na coroa e no colar são ornamentos que podem remeter a traços da cultura andina, lembrando desde os incas aos astecas, passando pelos maias, e também a traços egípcios, ou até mesmo partituras musicais. Klee experimentou incessantemente meios e materiais pictóricos para produzir um corpo de trabalho que oscila entre a representação figurativa e a construção abstrata.
Paul Klee dotou sua obra de inúmeras referências misteriosas, deliberadamente enigmáticas. Levando em conta sua propensão à ironia, suas obras refletem seu humor suave e sua perspectiva propositadamente infantil. Paul Klee foi um artista influente, que teve uma ampla variedade de abordagens artísticas. Ele incorpora elementos da música como parte de sua própria linguagem artística, como uma forma de expressar a beleza de maneira sensorial.
Paul KleePrincesa árabe1924Aquarela opaca25,6 x 19,8 cmThe Baltimore Museum of Art
Paul Klee viajou ao Egito por volta de 1900 e as impressões que obteve ao visitar o local despertaram nele um virtuosismo no trato com a cor e a composição. Klee não foi o único entre os artistas modernos a recorrer à arte "oriental" e "não-ocidental" para renovar ou inspirar sua própria pintura européia moderna, no entanto, muitos de seus contemporâneos se contentaram em ficar na Europa e estudar esses objetos em museus etnográficos ou em exposições.
Em 1912 Paul Klee viaja para Paris e, dois anos depois, para a Tunísia, recebendo influência do cubismo e da cultura oriental, mas também teve interesse especial nas estruturas e formas decorativas da arte pré-colombiana. A viagem à Tunísia em 1914 alimentou ainda mais seu interesse pelo Norte da África e pelo Oriente.
Paul Klee mostra em seus quadros a mistura de inúmeros elementos, desde a arte pré-colombiana à tapeçaria persa, do mosaico bizantino ao racionalismo geométrico. Algumas formas em suas obras remetem a hieróglifos e partituras. A relevância da relação entre design e produção artística, assim como a geometria, determinaram seu trabalho na década de 1920. Entre 1921 e 1926, Klee trabalhou na Bauhaus como artista e professor. Após viagens pela Itália e Egito, entre 1926 e 1928, começou a ensinar na Academia de Dusseldorf, na Alemanha.
“Em todo lugar vejo apenas arquitetura, ritmos de linha, ritmos de superfície.”
— Paul Klee, em seu Diário, em 1902
Paul KleePastoral (ritmos)1927Têmpera sobre tela montada em madeira69,3 x 52,4 cmMoMA
Nesta pintura as divisões horizontais não são diferentes das pautas de uma partitura musical, nessas linhas estão sinais e caracteres diferentes e repetidos que são como as notas de um compasso musical. Klee olhou para a música como um meio de derivar um princípio organizador para a pintura, como uma forma de pensar sobre a composição na pintura.
Paul KleeAuserwählte Stätte, Lugar escolhidoAquarela sobre papel192757 × 40,8 cmSammlung Moderne Kunst in der Pinakothek der Moderne München
Paul Klee transitou entre diferentes estilos e mídias. Ele era instigado por Wassily Kandinsky e Franz Marc, mas também foi atraído pelo trabalho dos cubistas Pablo Picasso, Georges Braque; e mais ainda pelo corido translúcido do Cubismo Órfico de Robert Delaunay.
Paul Klee
Relâmpago Colorido, Bunter Blitz, Colourful Lightning1927óleo sobre tela50,3 x 33,9 cm Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen
Uma obra representativa da pronunciada qualidade linear e da expressividade da cor que caracterizam grande parte da obra de Klee. São esses dois elementos fundamentais da pintura — linha e cor — que Klee conduz à sofisticada simplicidade para transmitir a essência de um determinado assunto.
Paul KleeRetrato de um Equilibrista1927Óleo e colagem sobre cartão sobre madeira com rebordo em gesso pintado63,2 x 40 cmMoMA
Este boneco alongado com joelhos dobrados e braços estendidos atinge um equilíbrio precário ajustando as bolas redondas ou pesos que segura. Este conjunto de linhas e formas, incluindo os degraus e a plataforma amarela, também pode ser lido como um rosto — as bolas formam olhos e a perna dobrada torna-se um nariz.
Paul KleeTod und Feuer (Morte e Fogo)1940Óleo e pasta colorida sobre serapilheira43 × 43 cmZentrum Paul Klee , Berna , Suíça
Inspirado pelo interesse de Klee em hieróglifos, "Death and Fire" sugere que a abstração e a representação têm se acomodado mutuamente, ou de outra forma complementares meios de expressão. A palavra alemã para morte, "Tod", compõe as feições do rosto no centro da imagem. "Tod" pode ser encontrado novamente na forma de "T" do braço erguido da figura, a letra "O" é a esfera dourada em sua mão e a forma de "D" em seu rosto.
O quadro foi um dos últimos antes de sua morte em junho de 1940. Em um poema, Paul Klee descreve em detalhes o que esta pintura está retratando.
“In the beginning there was…? Things moved freely,
so to speak, neither in a curve
nor in a straight line. Think of them
as moving elementally, they go
wherever they go, in order to go
destination-less intent-less disobedient
with movement the only certainty,
a “state” of elemental motion.
It is at first only a principle: to move,
not a movement principle,
no particular intent,
nothing special, nothing organised.
Chaos and anarchy, murky seething
Intangible, nothing heavy nothing
light (heavy-light) nothing white
nothing black nothing white (only greyish) nothing red nothing yellow nothing blue (only greyish) not even directly grey, nothing at all
distinct only indeterminate, vague.
No here, no there, only an everywhere
No distant near
No today, yesterday tomorrow only a tomorrow yesterday
No doing only being
No marked rest no marked movement
only “shadow formation”
only a something: motion as a prerequisite
to change from this elemental state.”
— Paul Klee
James Abbott McNeill WhistlerNocturne in Black and Gold, the Falling Rocket1875Óleo no painel60,3 × 46,7 cmDetroit Institute of the Arts
Quando o colecionador de arte britânico Frederick Leyland viu as pinturas de Whistler intituladas “moonlights”, ele imediatamente pensou na música de Chopin e chamou as pinturas de Whistler de “nocturnes”.
Whistler adorou a ideia e mudou os títulos de suas pinturas de “luar” para “noturnos”. Ele então pintou novos, evocando o clima sonhador de uma caminhada pelo rio Tâmisa e outros lugares ao luar. Muitos de seus títulos incorporam alusões à música: “noturnos”, “sinfonias”, “arranjos” e “harmonias”.
O compositor francês Debussy se inspirou nas pinturas de Whistler para compor Nocturnes, uma peça em três partes em que a música evoca os movimentos das nuvens à noite, o clima das festas noturnas e os movimentos do mar ao luar, que vira tão poeticamente sugerido nas obras de Whistler.
CHOPIN THE NOCTURNES
Nelson Freire
Gravado em dezembro de 2009 na Inglaterra, traz Freire interpretando a integral dos Noturnos de Chopin.
The Music of Painting: Music, Modernism and the Visual Arts from the Romantics to John Cage
Peter Vergo
A sequel to Phaidon's That Divine Order, (2005), which surveyed the relationship between music and the visual arts from ancient times until the mid-eighteenth century, The Music of Painting continues this fascinating study in the period covering the emergence and development of Modernism, c.1850-1950. Composers and artists repeatedly borrowed from one another, yet their motives have seldom been explored. Professor Peter Vergo provides a broad analysis of changes in the character of the analogies drawn at different times, using in his analysis critical and philosophical sources as well as evidence about artistic and musical practice.
Music has inspired some of the most progressive art of our time from the abstract painting of Wassily Kandinsky to the mid-century experimental films of Oskar Pischinger. The most complete examination of this phenomenon to date, The Music of Painting features major works of art plus related documentation, focusing on abstract and mixed-media art forms and their connections to musical forms as varied as classical and jazz.
Sobre a arte moderna e outros ensaios
Paul Klee
Paul Klee, além de músico e desenhista, estudou orientalismo, experimentou e dominou a teoria das cores, e escreveu extensivamente sobre isso; suas palestras Writings on Form and Design Theory (Schriften zur Form und Gestaltungslehre), publicadas em inglês como Paul Klee Notebooks, são consideradas tão importantes para a arte moderna que são comparadas à importância que o Tratado de Pintura de Leonardo da Vinci teve para o Renascimento .