Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: Apollinaire
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2010
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: fotografia de autorretrato, releitura, dramatização, teatro de sombras, óculos escuros, pintura corporal, cenografia, forma de peixe, forma de concha, ambiente interno
Obras Relacionadas: Portrait prémonitoire de Guillaume Apollinaire, 1914, De Chirico
Artistas Relacionados: De Chirico
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Nesta pintura de 1914, Giorgio de Chirico presta uma homenagem ao poeta Apollinaire, que teve um papel significativo na promoção dos principais movimentos artísticos do século XX. O busto representado na obra evoca as esculturas da Grécia Antiga, mas é caracterizado por uma sombra ameaçadora, que dialoga com o personagem retratado, resultando em uma espécie de retrato duplo. Essa silhueta sinistra marcada com círculo sobreposto em sua têmpora esquerda, parece-se com um alvo Apollinaire.
A pintura possui uma composição enigmática que retrata o personagem usando óculos escuros, simbolizando clarividência, ao lado de moldes que representam um peixe, como princípio masculino e uma concha , como princípio feminino. O silêncio e a meditação do personagem conferem um caráter premonitório ao retrato. Notavelmente, a intenção de eternizar Apollinaire por meio de sua efígie adquire um significado assombroso quando consideramos que o poeta se alistou no exército francês durante a Primeira Guerra Mundial e, em 1917, sofreu um grave ferimento na cabeça.
Este busto é um retrato idealizado de Apollinaire, trata de uma estátua ddo deus Apolo, entendida como metáfora da poesia e da arte em geral. De fato, o título original da pintura diferia do atual, e essa modificação ocorreu em razão dos eventos que suscederam. De muitas maneiras as referências se embaralham e a obra de De Chirico é uma expressão artística que reverencia os poetas, ao mesmo tempo que sugere uma visão premonitória do futuro, perpetuando a memória de Apollinaire de forma intrigante e memorável com a sua trágica morte em 1918.
Este desenho, erroneamente considerado um retrato de Paul Guillaume, que mostra precisamente o "perfil numismático" de Apollinaire. Na parte inferior aparece a importante inscrição: A Guy Romain, o homem e o patrono, homenagem de amizade metafísica e memória pacífica MCMXIV Georgio de Chirico.
Apollinaire alistou-se na Primeira Guerra Mundial. Ele foi ferido por estilhaços e enviado de volta para casa em Paris. Picasso registrou seu amigo com a cabeça enfaixada em seu desenho. Dois anos depois, enfraquecido pelos ferimentos de guerra, Apollinaire sucumbiu à pandemia de 1918.
À margem de um Modernismo que celebrava a especificidade dos vários meios de expressão da época, de Chirico apresentava-se como artista, filósofo e estudioso, de acordo com as suas raízes clássicas e simbolistas.
Em de Chirico a redescoberta da mitologia clássica não ocorre como no Renascimento para reconstruir uma história do passado, mas para sair da história. De Chirico é nietzschiano e absorve o conceito de tempo circular, o artista remete para a mitologia e para o conceito de metamorfose.
A ideia de metamorfosear em pedra na obra de autorretrato de Giorgio de Chirico está profundamente enraizada em sua cultura grega e no conhecimento dos mitos das metamorfoses. Além disso, ela pode refletir sua exploração pessoal da identidade, bem como suas escolhas artísticas e filosóficas, ao se afastar do modernismo e abraçar suas raízes clássicas e simbolistas. Através dessa representação enigmática, De Chirico oferece ao espectador uma visão única e poética de si mesmo e da condição humana.
Quando já afinado com os caligramas de Apollinaire, de Chirico pintou o seu único quadro com palavras, no quadro-negro ("em hieróglifos egípcios") são desenhados sinais matemáticos e detalhes de rostos. Na composição, De chirico retrata a própia mãe, Gemma de Chirico, em um busto escultural com sombras rígidas. Todas essas áreas se distinguem, por sua vez, do espaço sem pintura, apenas com o molde de peixe desenhados a carvão.
Outro aspecto do modernismo inicial de De Chirico que certamente foi absorvido do cubismo é sua ruptura com as noções tradicionais de unidade e continuidade de superfície. Ao explorar técnica cubista de trompe l'oeil e colagem (como papéis falsos de madeira) de Chirico permitiu-se, pelo menos em certas pinturas, uma mistura inteiramente anticlássica de meios, texturas e técnicas.
"O que ouço não importa;
o que importa é o que vejo,
principalmente quando fecho os olhos."
— Giorgio di Chirico
Segundo uma antiga tradição que remonta a Homero, os poetas cegos eram muitas vezes dotados de um tipo especial de visão. Como compensação pela perda da visão, por exemplo, o adivinho Tirésias recebeu a preciosa graça da profecia. Ao que tudo indica, o busto do Retrato de Guillaume Apollinaire representa o Poeta Apolíneo, que é simultaneamente profeta e visionário.
Em abril de 1914, Alberto Savinio, irmão de De Chirico, descreve em um poema dramático para o balé de ópera chamado "Les chants de la mi-mort" (Canções dos meio-mortos), um dos personagens principais era chamado de "o careca", descrito como um homem sem voz, olhos e rosto.
É nesse contexto de figuras desumanizadas e sem características faciais que Giorgio de Chirico começou a incluir manequins em suas pinturas. A representação dos manequins, como efígies humanas sem vida, olhos ou identidade, pode ter sido inspirada pelas descrições literárias de personagens como "o careca".
De Chirico se propôs a “pintar o que não se vê”, e o alcançou ao justapor imagens de modo a criar sensações inusitadas e profundas emoções poéticas, capazes de induzir no espectador a intuição daquele indescritível 'não-sentido' que rege o mundo.
Italiano nascido na Grécia, de Chirico foi muito inspirado pela arquitetura clássica e paisagens urbanas que viu em Florença e Turim e começou a criar imagens baseadas nessas paisagens urbanas na década de 1910. Usando um estilo realista, ele justapôs ambientes silenciosos e às vezes enigmáticos com figuras igualmente enigmáticas e objetos aparentemente aleatórios para criar representações intrigantes de lugares sem hora ou local específico.
Giogio de Chirico evoca os famosos autorretratos de Nicolas Poussin e de Arnold Böcklin em uma série de autorretratos “duplos”, nos quais de Chirico se retratou com bustos de estátuas e com sua mãe ou irmão como seus alter-egos “metafísicos”.
Este autorretrato de Poussin é uma pintura erudita. O artista que valorizava a lógica enfatizando a forma e a composição, retrata várias telas empilhadas contra a parede atrás de sua imagem. Poussin de fato identificou a pintura com a perspectiva, pois ela provocava a razão. A perspectiva de Poussin é uma importante junção entre sua teoria da pintura e sua prática. O mundo visível de Poussin era autocontido em sua moldura, como se estivesse em um palco. Seu processo criativo é pragmático e ele aborda representações complexas e repletas de significados e referências a literatura e a cultura. A exemplo da mulher que aparece ao fundo, usando uma tiara decorada com um olho, que se trata de uma Alegoria da Pintura.
Conhecido como La Schiavona, a famosa pintura do século XVI, de Ticiano, é uma dupla representação, pictórica e escultórica, do mesmo rosto. A influência desta obra é observável em muitas de De Chirico, especialmente aquelas que aparecem os relevos da concha e do peixe. A relação fica ainda mais evidente no seu autorretrato feito entre 1920 e 1922, no qual seu rosto aparece duas vezes, no mesmo quadro. À direita está em uma pose de três quartos e direcionando seu olhar para o observador, à esquerda a representação de uma escultura retratando o artista de perfil. O canto inferior direito contém a assinatura do pintor, com a inscrição em latim se ipsum, que significa eu mesmo.
Em janeiro de 1919, de Chirico publicou seu ensaio “Arte metafisica e scienze occulte” na revista Ars Nova. De Chirico escreve sobre "nosso duplo" em seu ensaio; as duas faces do pintor são dois aspectos de uma mesma realidade, que por um lado parece real apesar de literalmente repousar na literatura, enquanto por outro está “oculta” mas capaz de olhar para o mundo com “clarividência”.
Giorgio de Chirico expressa nos vários contrastes conceituais e emocionais: luz/sombra, vida/morte, bem/mal, corpo/alma, vivente/escultura, ser/não ser. O duplo exprimia sobretudo uma autocontemplação íntima, narcísica, sempre vivida numa chave irônica, ou revelava o seu oposto animista, como o demonstram os muitos autorretratos duplos dos anos vinte.
Parte do gênio de Chirico foi empregar um estilo realista na busca de fins antirrealistas. Uma vez que a Arte Metafísica está preocupada com a essência, e não com a aparência física, o significado é relegado ao plano simbólico.
Giorgio De Chirico dedicou vários retratos à sua mãe (entre 1911 e 1923). O retrato do artista com sua mãe ilustra a sua fidelidade aos modelos clássicos. Em 1919, De Chirico abandona temporariamente a metafísica para revisitar os velhos mestres. Ele dá à mãe o gesto de uma Madona, veste-a com uma toga roxa; o seu autorretrato de perfil está reduzido a uma silhueta inexpressiva na sombra.
Fundada em 1910, a arte metafísica é um estilo de pintura focado na representação de espaços ambíguos e vazios que não estão presos a nenhum ponto claro no tempo ou lugar. Enquanto de Chirico é creditado por inventar a estética desse movimento em 1910, a escola e os princípios da arte metafísica foram formalizados com a ajuda de seu irmão mais novo, Alberto Savinio, e do artista futurista Carlo Carrà.
O tema da estátua já estava presente no nascimento da pintura metafísica. Já ficou claro que a fonte das estátuas que aparecem em muitas de suas obras, desde 1909, é a figura de Ulisses em Ulysses and Calypso de Böcklin. Desde então, o tema da estátua foi associado ao pensamento de Nietzsche e produziu diversas variações.
De Chirico, com seu caráter enigmático do qual transparece um sutil fio de ironia. Ao deixar o objecto revelar a sua verdadeira essência, liberta-o da rígida ordem do tempo, colocando-o fora do tempo humano, num tempo e espaço diferente, outro, em que o espectro do passado se junta aos signos da vida moderna.
De Chirico move a sua pesquisa, transformando-se numa 'máquina do tempo' através da sua imaginação. Na sua navegação toca tempos e espaços onde é sempre o denominador comum, como forma de unificar o tempo.
Como o navegador Odisseu fugindo de costa a costa, forçado, mas também curioso de como teria estado em companhia, na ilha de Calipso, com os antigos filósofos, com Hermes, Eurípides, Mercúrio.
Neste autorretrato a referência é ao trágico grego Eurípides, cujo busto de mármore é representado atrás dele. O artista tem na mão uma tabuleta gravada com uma frase em latim que traduzida significa: "Não há glória sem tragédia", ou seja, em essência, a fama e o sucesso são alcançados através do sofrimento. Assim o pintor, adotando a admoestação da antiga lápide, nos fala de si mesmo, de sua condição de artista.
Depois de Salvador Dali se autodeclarar a encarnação de Hermes (o deus dos ladrões, dos viajantes e do comércio), no documentário que também é conhecido pelo título: 'Autorretrato mole", ele realiza na sequência da cena uma experiência moldando a cópia da topografia da face de uma escultura usando papel alumínio.
Durante seu período metafísico, de Chirico estava frequentemente preocupado com Apolo. O motivo é recorrente insistentemente ao longo de suas obras do começo ao fim. O busto clássico era um motivo recorrente em suas obras - a peça é o foco central na obra, trata-se de uma cabeça de mármore de Apolo, patrono da música, da poesia e da medicina.
Parte do gênio de Chirico foi empregar um estilo realista na busca de fins antirrealistas. Uma vez que a Arte Metafísica está preocupada com a essência, e não com a aparência física, o significado é relegado ao plano simbólico.
Magritte, quando viu 'Le Chant d'amour' em uma revista de arte, chorou dizendo que tinha visto o pensamento representado. A obra de De Chirico foi uma descoberta seminal para Magritte durante os primeiros anos de sua carreira. E começa a retratar objetos inconseqüentes como símbolos monumentais com significados misteriosos e, em última análise, indeterminados.
René Magritte sempre falou de Chirico como seu único mestre. Via de regra, ele era extremamente parcimonioso em sua avaliação de outros artistas, do passado e do presente. Em seu próprio tempo, de Chirico (1888-1978) e Ernst (1891-1976) aparecem como os únicos dois que ele admirava incondicionalmente.
A chegada de Giorgio de Chirico em Paris, acompanhado por seu irmão, o artista Alberto Savinio, no ano de 1911, marcou um ponto crucial em sua vida artística. Em 1913, sua carreira teve um impulso significativo quando foi descoberto pelo influente escritor e crítico de arte, Apollinaire, o qual proporcionou apoio e exposições através do jovem galerista Paul Guillaume.
Nesse período em Paris, De Chirico conseguiu desenvolver um estilo original e complexo, baseado em diversas influências. Paul Gauguin, um dos artistas que o inspirou, contribuiu com sugestões valiosas para sua jornada criativa. Além disso, De Chirico não deixou de confrontar-se com outras figuras importantes da arte, tanto do passado quanto contemporâneas.
Cézanne, cujo impacto foi profundo diante das paisagens e naturezas-mortas do mestre francês do pós-impressionismo. Por outro lado, em relação a Matisse foram permeadas por críticas e reservas, especialmente quanto à abordagem artística do uso da cor. As pinturas estilizadas e abstratas, as formas sólidas e geométricas de Picasso impactaram significativamente.
A experiência de viver em Paris proporcionou a Giorgio de Chirico um ambiente rico em correntes artísticas diversas, permitindo-lhe absorver influências de diferentes movimentos e desenvolver sua própria estética.
A fusão de elementos metafísicos e surrealistas nas obras de Dalí resultou em uma iconografia distintiva que explorava a psique humana, o simbolismo e a natureza do tempo e da realidade. Assim, a influência de Giorgio de Chirico desempenhou um papel fundamental na formação do estilo artístico de Salvador Dalí.
Os surrealistas, por sua vez, se alimentaram da obra de Freud com um rigor geralmente arbitrário e caprichoso, como não é incomum neste tipo de apropriações criativas. Por outro lado, Giorgio de Chirico, alimentou-se especialmente de Nietzsche. Desde então, o tema da estátua foi associado ao pensamento de Nietzsche e já estava presente no nascimento da pintura metafísica.
Vincent van Gogh, no início de sua carreira, pintou algumas Naturezas Mortas retratando bustos e pequenas esculturas de gesso. Essas obras demonstravam sua busca por desenvolver técnicas de pintura, uso expressivo da cor e estudo de luz e sombra. Van Gogh estava interessado em retratar a vida cotidiana e objetos comuns com um olhar artístico. Suas Naturezas Mortas, embora já apresentassem suas expressivas pinceladas, não possuíam a abordagem filosófica da metafísica de De Chirico.
Os livros retratados são Germinie Lacerteux, de Edmond e Jules de Goncourt, sobre a trágica vida dupla de uma empregada doméstica, e Bel-Ami, de Guy de Maupassant, sobre um oportunista que consegue chegar ao poder usando seus encantos. Van Gogh menciona esses romances repetidamente em suas cartas, chamando-os de exemplo de "vida como ela é" e "obra-prima", respectivamente.
De Chirico foi profundamente influenciado pela literatura, filosofia e mitologia em suas criações artísticas, e os livros que ele incluía em suas pinturas podem ser interpretados como símbolos carregados de significados ocultos. No entanto, é sabido que ele se inspirou em escritos de Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer e Otto Weininger, cujas ideias sobre o existencialismo, a filosofia e a arte tiveram uma grande influência em seu pensamento criativo.
Às maçãs de Cézanne, cuja planicidade ele condenava, De Chirico opõe duas peras modeladas pela luz
O peixe tem conotações adicionais como um símbolo religioso. Talvez, não por acaso, a imagem do peixe também tenha sido amplamente adotada pelos surrealistas, como símbolo de fascínio, habitando as profundezas do subconsciente.
Em Ferrara, em plena guerra, a pintura metafísica mudou completamente, tanto por razões práticas como por novas fontes de inspiração. Privado de um atelier, obrigado a pintar em casa muitas vezes à noite, nas raras horas em que se encontra dispensado do serviço militar, Giorgio de Chirico pinta pequenas telas e centra o seu olhar no microcosmo do quotidiano e na análise da loucura que se apoderou do mundo. A representação de interiores fechados e protetores denota a necessidade de criar um espaço de reflexão e segurança em que orquestra diálogos silenciosos e absurdos entre objetos descritos com a maior precisão realista: mapas geográficos, praças e instrumentos, biscoitos e bolos típicos de Ferrara, condecorações militares, pernas de mesa, fragmentos de manequins
Durante anos, esta pintura, propriedade do poeta surrealista Paul Éluard na década de 1930, foi atribuída a de Chirico por importantes especialistas, incluindo James Thrall Soby e William Rubin. Mais recentemente, essa atribuição foi contestada e algumas autoridades agora a atribuem ao colega surrealista Óscar Domínquez. A filha de Éluard, Cécile Grindel, acredita que foi pintada por um amigo próximo de seu pai, o surrealista alemão Max Ernst.
Os críticos frequentemente associam os primeiros trabalhos de Morandi ao movimento metafísico, devido à atmosfera de suspensão que permeia suas naturezas-mortas. Mas a pintura metafísica permaneceria essencialmente a de De Chirico, que imbuiu suas perspectivas distorcidas e composições do que muitas vezes eram objetos altamente díspares com uma atmosfera de enigma.
Além de retratar ambientes esparsos, de Chirico também criou pinturas metafísicas retratando pequenas salas lotadas de objetos. Essas imagens claustrofóbicas contrastavam fortemente com os trabalhos anteriores do artista - que contavam com grandes áreas de espaço vazio.
Giorgio Morandi pintou um pequeno número de naturezas-mortas, onde aparecem elementos típicos da iconografia metafísica, como cabeças de manequins e objetos do cotidiano.
As elegantes conexões tonais de Morandi jogam com uma gama quase monocromática de cores; os objetos são reduzidos a estruturas arquetípicas e primárias e os níveis, entrecruzados entre si graças a um trabalho de sombras e linhas, negam uma evidente alusão tridimensional.
A inclusão de manequins nas pinturas de Giorgio de Chirico permitiu que ele explorasse temas como a solidão, a natureza enigmática da existência humana e a sensação de desolação em ambientes urbanos. Essas figuras inanimadas, muitas vezes colocadas em cenários arquitetônicos clássicos e desertos, criavam uma atmosfera onírica e filosófica em sua arte, tornando-se elementos-chave do seu estilo artístico único.
Embora de Chirico não fosse um 'decadentista' declarado, a presença da arquitetura clássica e ruinas de esculturas gregas antigas em suas pinturas, podem ser considerados como referências ao passado histórico. As referências antropomórficas entram principalmente na forma de estátuas (muitas vezes fragmentadas), espectros envoltos em togas e sombras humanóides cujas funções são subseqüentemente em parte substituídas pelos manequins.
Salvador Dalí foi influenciado por várias fontes ao longo de sua carreira. Durante o período da carreira, que abrange a década de 1920, podemos ver obras que reúnem elementos da estrutura em planos retirada do cubismo e os volumes retirados da pintura metafísica. A abordagem inovadora em relação à forma e à perspectiva teve um impacto profundo na arte moderna e influenciou muitos artistas da época.
Embora Dalí tenha sido influenciado pelo cubismo e por Picasso, ele rapidamente desenvolveu seu próprio estilo surrealista distintivo, que se afastou da abordagem cubista para explorar temas do subconsciente, do sonho e do irreal.
A obra de De Chirico lembra Uccello em seu uso obsessivo de ortogonais, formas simplificadas e efeito de pano de fundo semelhante a um palco. Como Uccello, Piero della Francesca provoca uma sensação de mistério e tempo suspenso, em sua representação da praça renascentista, com suas arcadas, geometrias e fortes luzes e sombras. Klinger e Bocklin afetaram profundamente Ernst e de Chirico, e Dali declarou Bocklin um dos maiores artistas de todos os tempos.
De Chirico, mais do que qualquer um desses outros precursores, serviu para inspirar os surrealistas e definir a direção de sua arte. Atraídos para o mundo tridimensional irracional, onírico, mas representativo que ele criou, seduzidos por sua afirmação da qualidade poética e emotiva da perspectiva profunda, eles procuraram ecoar seu espaço vasto, ilusionista e distorcido. Empregando suas justaposições ilógicas, escala irracional e luzes e sombras alucinatórias, eles também criaram relacionamentos perturbadores. Todos perseguiram sua representação de imagens transparentes e ocas, um motivo que se tornou um dos principais temas surrealistas. Todos compartilharam um objetivo poético relacionado com de Chirico e assimilaram diretamente muitas de suas ideias estilísticas e formas iconográficas.
De Chirico liberta a pintura do antropomorfismo que sufoca a escultura, deixando objetos e formas destituídos de seu papel representativo aparecerem como puras epifanias do mistério. Ver tudo como uma coisa, até o homem, esse era o método de Nietzsche, esse era o método de De Chirico.
Conceitualmente, a sombra assombra De Chirico equivalendo à ausência do homem e, portanto, às metáforas da silhueta, do gesso, dos moldes, para chegar à síntese sublime do Manequim.
Toda a cultura da época desde o romantismo é morbidamente atraída pelo autômato, pelo boneco, pela máscara. Veremos o manequim, o homem sem rosto, aparecer na obra "Chants de la Mi-Mort" de Savino que são de 1914, até mesmo nos futuristas, "o homem mecânico" de Marinetti.
De Chirico escreveu em 1918: "O mundo está cheio de demônios - costumava dizer Heráclito de Éfeso enquanto passeava nas sombras dos pórticos ao meio-dia ... É preciso descobrir o demônio em cada coisa."
Embora a maioria das imagens metafísicas de Chirico sejam desprovidas de vida humana real ou insinuem-na à distância, ele frequentemente incluía figuras semelhantes a manequins sem características faciais. Esses corpos anônimos imbuem o cenário de uma sensação de anonimato e mística.
Enquanto de Chirico é creditado por inventar a estética da arte Metafísica, em 1910, a teoria e os princípios foram formalizados com a ajuda de seu irmão mais novo, Alberto Savinio, e do artista futurista Carlo Carrà. De Chirico e Savinio escreveram artigos que apareceram em vários periódicos italianos, explicando o movimento como uma nova arte.
Savinio apresenta uma ilustração inquietante, 'As sombras são os acusadores', de 1944, tirada, claramente, de uma obra de Max Klinger, artista que foi uma importante fonte de inspiração para os irmãos. Na gravura de Klinger, apenas a mulher tem a sombra de si mesma na parede.
No início de sua carreira, enquanto ainda aprimorava seu ofício, de Chirico imitou artistas como Arnold Böcklin, que para ele era "o pintor poeticamente mais profundo", e, também, um "imenso realista". O estilo de Arnold Bocklin para transmitir uma sensação de mistério e sonho foi de suma importância para de Chirico.
Dentro da arte de Giorgio de Chirico, as sombras desempenham um papel extraordinariamente criativo e, ao mesmo tempo, desafiador. A realidade dos objetos é questionada devido à ausência de sombras adequadas, o que lança dúvidas intrigantes sobre a própria natureza da realidade representada. Com frequência, como exemplificado em 'O Mistério e a Melancolia de uma Rua', sombras misteriosas, enigmáticas e, por vezes, ameaçadoras são criadas por objetos que estão além do campo de visão do observador.
De Chirico se formou Em 1910, na Academia de Belas Artes de Munique, onde teve aulas com o pintor Carl von Marr. Desde então, o tema do enigma tornou-se fundamental para a pintura Metafísica, depois das leituras do filósofo alemão, Nietzsche. Em 1911, Giorgio de Chirico mudou-se para Paris. Durante a viagem, ele esteve em Turim, na Itália. A cidade, relacionada à loucura de Nietzsche, era particularmente interessante para de Chirico. A arquitetura de Turim é amplamente revisitada nas pinturas de De Chirico nos anos seguintes.
Giorgio de Chirico produz nas suas pinturas um impacto inquietante no espectador, ao utilizar múltiplos pontos de fuga. Ele se apropria de elementos arquitetônicos deliberadamente, para pintar as paisagens sem representar um lugar particular na realidade.