Estudo para Seurat | 2011
Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: Estudo para Seurat
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2011
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: autorretrato, releitura, confete, pontilhismo, corpo masculino, plano inteiro
Obras Relacionadas: Estudo para "Poseuses", 1886–87, Georges Seurat
Artistas Relacionados: Georges Seurat
⚿ Palavras-chave
#releitura #tableauvivant #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira
______________
Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
Na obra Estudo para Seurat (2011), Alexandre Mury estabelece um diálogo visual e conceitual com a tradição artística do pontilhismo, em particular com o legado de Georges Seurat. Mury reinterpreta a técnica divisionista ao empregar confetes coloridos, criando uma releitura contemporânea que transcende a simples homenagem. A obra, um autorretrato performático, vai além da reprodução formal, abrindo espaço para uma reflexão sobre a efemeridade da experiência estética e a ressignificação de elementos artísticos.
Seurat revolucionou a pintura ao sistematizar a aplicação de cores em pontos individuais, baseando-se na teoria da percepção visual e na ciência das cores. Seu quadro Uma Tarde de Domingo na Ilha de La Grande Jatte (1884-1886) sintetiza esse método, transformando a cena cotidiana em um espectáculo de cor e luz. Mury, por sua vez, traduz esse efeito através de confetes carnavalescos, um material de caráter fugaz, contrastando com a permanência da tinta sobre a tela.
Ao utilizar confetes, um símbolo de festa e transitoriedade, Mury subverte a imobilidade do pontilhismo de Seurat, trazendo movimento e performatividade à composição. Dessa forma, a obra questiona a permanência da imagem e a relação entre arte e efemeridade, propondo uma interpretação dinâmica e contemporânea da história da arte.
A inserção do próprio corpo na obra reforça o caráter performático do trabalho de Mury, evocando a tradição do tableau vivant, em que artistas encenam pinturas clássicas. No entanto, ao adicionar elementos específicos da cultura brasileira, como o carnaval, Mury amplia o debate sobre identidade e referência artística. Os confetes não apenas simulam os pontos coloridos de Seurat, mas também sugerem uma discussão sobre a fragilidade da memória e da arte. Enquanto Seurat buscava estruturar a percepção através de uma metódica construção pictórica, Mury subverte essa técnica ao empregar materiais que remetem às festividades populares e ao efêmero. Assim, a obra tensiona a relação entre arte erudita e cultura popular, desafiando hierarquias tradicionais.
A estratégia de apropriação utilizada por Mury também suscita questões sobre autoria e originalidade na arte contemporânea. A fotografia pode ser um meio de ressignificação de formas e conceitos. Mury se insere nessa discussão ao transformar sua performance em um objeto fotográfico, elevando a efemeridade a um estado perene dentro da tradição artística.
Estudo para Seurat não apenas homenageia o mestre do pontilhismo, mas o reinsere em um contexto contemporâneo, questionando os limites da arte e sua relação com o tempo e a memória. A obra de Mury propõe um diálogo entre passado e presente, entre permanência e transitoriedade, reafirmando a capacidade da arte de se reinventar através de novas leituras e experimentações formais. Sua abordagem performática e conceitual reconfigura as narrativas estabelecidas, convidando o espectador a refletir sobre o potencial transformador da arte no século XXI.
Georges SeuratModelo de frente, 1887Óleo sobre madeira, 25,0 x 15,8 cmMusée d’Orsay
______________
Georges Seurat acolheu e subverteu a tradição histórica da arte com modelos
O pontilhismo, quando surgiu, foi rejeitado, por muitos críticos, na época, por ser muito metódico — um estilo que nunca poderia ser aplicado a assuntos nobres como o nu. "Les Poseuses" (as modelos) é a demonstração icônica do artista da versatilidade da técnica.
Seurat trabalhou em uma composição de três nus realizando estudos preparatórios com cada pose individualmente. O artista usou para ordenar seus pensamentos preliminares sobre os elementos de sua composição em grande formato.
© RMN-Grand Palais (Musée d’Orsay) / Adrien Didierjean
Georges SeuratModelo de frente, 1886Óleo sobre madeira, 25,0 x 15,7 cmMusée d’Orsay
Georges SeuratEstudo para "Les Poseuses" (As Modelos), 1886–87Lápis de cera Conté sobre papel avergoado(29,7 x 22,5 cm)Coleção Robert LehmanThe Metropolitan Museum of Art
Georges SeuratAs Modelos ( Les Poseuses), 1886–1888Óleo sobre tela, 200 x 249,9 cmBarnes Foundation
______________
Seurat simultanea e espirituosamente posicionou suas modelos contra "La Grande Jatte", no seu estúdio, que aprece à esquerda na cena de "Les Poseuses", permitindo uma comparação entre nu e vestido, interior e exterior, e demonstrando o processo e artifícios da criação de imagens. Era um quadro dentro de outro quadro — Uma citação de si mesmo.
Seurat era formado na École des Beaux-Arts, onde aprendeu fundamentos conservadores da prática artística. As três modelos invocam As Três Graças da antiguidade — o que poderia ser: prontamente reconhecido por críticos e espectadores sofisticados, toda abundância de referências às fontes acadêmicas e de vanguarda, clássicas, renascentistas e do século XIX.
Georges Seurat foi um dos primeiros artistas a fazer um uso sistemático e dedicado da teoria das cores — Pioneiro da técnica neo-impressionista comumente conhecida como pontilhismo ou divisionismo.
Georges SeuratUm domingo em La Grande JatteA Sunday on La Grande Jatte — 18841884–1886óleo sobre tela207,5 × 308,1 cmThe Art Institute of Chicago
Aphrodite (Venus Colonna)Marble. Roman copy of the 2nd century CE after a Greek original of the 4th cent. BCE.H. 204 cm.Inv. No. 812.Roma, Musei Vaticani, Museo Pio-Clementino, Gabinetto delle maschere, 37
Afrodite Pudica (Vênus Pudica) é o apelido dado ao primeiro nu feminino completo em tamanho natural na tradição da arte grega. Em seu tempo a nudez pública só era aceitável para o corpo masculino.
Também conhecida por Afrodite de Cnido ("Cnidian Venus") esculpida em mármore Feita pelo escultor grego Praxiteles por volta de 350 aC…
A original não está mais preservada, a estátua foi a mais copiada da Antiguidade, mais de 330 cópias sobrevivem; a mais coerente com a original, chamada Venus Colonna, está no Gabinetto delle Maschere, nos Museus do Vaticano. A postura da mão direita também foi motivo de muita polêmica e ambiguidade desde que a estátua foi exposta ao público pela primeira vez.
Jeanloup SieffTributo a Seurat, 1965Gelatina de prata40.4 × 30.4 cm
Jeanloup Sieff (1933-2000) deixou uma marca indelével na história da fotografia. Foi muito autêntico, com seu estilo reconhecível pela elegância, capturando curvas suntuosas dos corpos femininos, em nus sensuais em preto e branco. Neste trabalho deixa explícita uma referência através do título da obra.
A pose da "Vênus Pudica" ou "Venus Modesta" é representada nua, mas com um braço ou mão cobrindo os seios e outra o púbis, ou apenas uma mão cobrindo o púbis também poderia estar associada à criação de Seurat homenageado por Jeanloup Sieff.
A modelo cobrindo a região pubiana lembra uma Vênus Pudica, que é o arquétipo de tantas representações do nu feminino que se seguem, incluindo "A Expulsão"(1427), de Masaccio e "O Nascimento de Vênus"(1485), de Botticelli.
Yayoi KusamaSelf-obliteration by dots1968
A japonesa Yayoi Kusama, A partir de 1958, começou a encenar happenings e performances que chamou de "Self-Obliterations". A artista colocava bolinhas em si, nos corpos de participantes voluntários e em tudo ao redor. Para Kusama, a imagem dos pontos representa os pedaços de si mesmo, obliterados; uma metáfora de desistir da identidade, abolir a singularidade e tornar-se um com o universo – ou “auto-obliteração”.
Yayoi Kusama leva o espectador a contemplação da arte e dos corpos – uma fusão de carne e identidades em um todo, sem unidades individuais discerníveis. Kusama foi uma das primeiras artistas a experimentar trabalhos imersivos no início do movimento pop art.
John Hilliard 765 Paper Balls1969Fotografia em preto e branco122 x 122 cmColeção particular
O artista britânico John Hilliard criou, em 1969, uma instalação com 765 bolas de papel suspensas por fios invisíveis em uma sala vazia ao lado de uma janela.
O trabalho foi realizado exclusivamente para fins fotográficos – como parte da investigação do artista sobre se uma fotografia poderia tornar-se uma escultura.
Nesse sentido, a obra oferece a lembrança física, e o remanescente, de uma presença sempre ausente, duplicando a capacidade do meio fotográfico de suspender o ato de ver no tempo e no espaço.
Pioneiro da arte conceitual na Grã-Bretanha, John Hilliard inovou na fotografia ao desafiar seu potencial como dispositivo representacional e seu status nas artes visuais.
Joel-Peter WitkinTrês Tipos de Mulheres1992Impressão em gelatina prata61,6 x 84,5 cmThe National Museum of Modern Art, Tokyo東京国立近代美術館
Em 'Three Kinds of Women', México, 1992, o artista Joel-Peter Witkin faz referência direta a 'Les Poseurs', de Seurat, ao mesmo tempo, em que faz uma tradução inteiramente latina. Ele substituiu 'La Grande Jatte' de Seurat por um pseudo mural de Rivera; Os estudos de desenho de Seurat com retábulos mexicanos, e os três modelos franceses com mulheres latinas menos modestas.
Joel-Peter Witkin constrói narrativas e fantasias em torno de fragmentos da cultura contemporânea. Criando cenários detalhados e elaborados para seus modelos, Witkin transforma o incomum e às vezes grotesco em uma descarada visão pessoal do sublime. Ele continua a basear-se em grande parte em temas históricos da arte, literatura e religião. Ainda trabalhando com esqueletos, cadáveres e indivíduos que podem ter sido rotulados de “aberrações”.
Repercussão
ESTUDO para Seurat. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra72989/estudo-para-seurat. Acesso em: 02 de março de 2024. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
A Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira é uma obra de referência virtual que reúne informações sobre arte e cultura brasileira. Os verbetes presentes na Enciclopédia são disponibilizados gratuitamente ao público, de forma abrangente e dinâmica. O conteúdo das bases de dados está em contínua ampliação e atualização.