Nu Azul | 2011
Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: Nu Azul
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2011
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Políptico: 4 partes (A, B, C e D)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: autorretrato, fotografia, body painting, (pintura corporal), azul, corpo masculino,
Obras Relacionadas: Nu Azul (I,II,III e IV), 1952, Henri Matisse
Artistas Relacionados: Henri Matisse
⚿ Palavras-chave
#obra de arte #releitura #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira #fotografia
______________
Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
Na série fotográfica "Nu Azul" (2011), Alexandre Mury estabelece um diálogo performático e visual com as emblemáticas obras "Nu Bleu" (I, II, III e IV) de Henri Matisse (1952). A releitura de Mury se insere em uma tradição artística que remonta às experiências de Matisse com recortes de papel, realizadas nos anos finais de sua vida, após enfrentar problemas de saúde. Enquanto Matisse sintetizava formas humanas em recortes de guache sobre papel, Mury transpõe essa estética para a performance e a fotografia, utilizando seu próprio corpo como meio de expressão.
A série "Nu Bleu" de Matisse representa um momento significativo na história da arte moderna, quando o artista explorou a simplificação formal e a expressividade por meio da cor e da forma. Esses trabalhos foram criados em um período de limitações físicas do artista, evidenciando sua busca por uma linguagem plástica essencial. O azul profundo escolhido por Matisse remete à espiritualidade e à introspecção, bem como ao legado do simbolismo e do expressionismo.
Mury se apropria dessa tradição ao recriar fotograficamente a corporeidade sugerida nos recortes de Matisse. Entretanto, em vez de reduzir a figura à bidimensionalidade do papel, ele reintegra a tridimensionalidade por meio de seu próprio corpo pintado de azul. A série fotográfica se apresenta como um políptico, evocando a sequencialidade e a repetição formal dos trabalhos de Matisse, mas introduzindo nuances performáticas e gestuais singulares.
A escolha do azul na obra de Mury reforça a conexão com Matisse, mas também dialoga com outras tradições artísticas. O "Período Azul" de Pablo Picasso (1901-1904), por exemplo, explorou o azul como uma cor de melancolia e introspecção, transmitindo emoções de solidão e desesperança. Em contrapartida, Yves Klein, em sua série "Antropometrias" (1960), utilizou corpos humanos cobertos de pigmento azul para criar pinturas, questionando a relação entre o corpo e a obra de arte. Mury transita entre esses referenciais, utilizando seu próprio corpo como ferramenta artística e suporte de expressão.
Ademais, a performatividade em "Nu Azul" reforça a dimensão da identidade e do autorretrato na obra de Mury. Ao se transformar na figura azul, ele assume a posição do modelo e do artista simultaneamente, desafiando as noções tradicionais de representatividade e subjetividade. Sua obra se situa, portanto, no cruzamento entre a pintura, a fotografia e a performance, promovendo uma fusão de linguagens que questiona os limites do autorretrato e da citação artística.
"Nu Azul" de Alexandre Mury não se limita a uma homenagem a Matisse, mas reinterpreta sua abordagem através de uma perspectiva contemporânea. Se Matisse rompeu com a pintura tradicional ao adotar a técnica dos recortes, Mury expande essa ruptura ao incorporar seu próprio corpo na composição, desafiando as fronteiras entre sujeito e objeto, artista e obra. A obra também propõe uma reflexão sobre a relação entre cor, forma e identidade, reativando questões centrais da história da arte em um contexto performático e fotográfico.
Dessa forma, "Nu Azul" convida o espectador a reconsiderar a dinâmica entre tradição e inovação, materialidade e efemeridade, gesto e representação. A obra de Mury reafirma o potencial da arte contemporânea de revisitar e ressignificar ícones do passado, criando novos discursos visuais e conceituais.
Após a cirurgia em decorrência de um câncer de estômago, Matisse começou a criar arte cortando e pintando folhas de papel à mão. Ele fez em 1952 uma políptico representando figuras nuas em várias posições.
O trabalho resultou em uma série de litografias coloridas que ele supervisionou a produção até sua morte em 1954.
"Ver pode ser azulcinação."
— Ferreira Gullar
Paul GauguinA Vida e a Morte1889Óleo sobre tela92 x 73 cm Mohamed Mahmoud Khalil
A maneira como Gauguin manipulava a cor, as formas e os temas emocionais e simbólicos foram elementos que Picasso absorveu e reinterpretou em seu próprio estilo revolucionário, tornando-se um dos pilares da arte moderna.
Essa exploração audaciosa do potencial expressivo da cor pode ter influenciado Picasso a se concentrar no uso do azul como uma maneira de transmitir emoções e criar atmosferas melancólicas em suas obras.
Pablo PicassoNu azul I1902Óleo sobre tela40 x 46 cmColeção particular
Pablo Picasso transpôs para uma série de quadros sua tristeza após perder um grande amigo de maneria trágica. Ele usou tons de azul em motivos melancólico para retratar cenas de pobreza, miséria e solidão.
O "Período Azul", que compreende entre 1901 e 1904, surgiu de seus primeiros anos de pobreza durante a época em que ele se mudou para Paris, quando tinha apenas, 19 anos. Existem relatos de que Picasso queimava seus desenhos para se aquecer durante os invernos rigorosos.
Picasso não costumava usar pastéis; e como não tinha dinheiro para comprar telas, teve que se dedicar ao desenho. A falta de recursos financeiros pode ter sido uma das razões pelas quais Picasso optou por usar uma paleta limitada de cores, com destaque para o azul das nuances frias de índigo e cobalto.
Pablo PicassoMulher nua com as pernas cruzadas1903Lápis preto e pastel sobre papel57,5 x 45,8 cmColeção particular
Pablo PicassoAcrobata azul1929Carvão e óleo sobre tela162 x 130 cmCentre Pompidou
Embora Picasso não seja considerado um artista surrealista, suas experimentações com a distorção e maleabilidade do corpo em sua série de nadadores e acrobatas compartilham afinidades temáticas e técnicas com os princípios surrealistas. Por sua vez, os princípios estéticos de Matisse, como a rejeição da representação realista em favor de uma expressão mais subjetiva, também encontrara ressonância entre os surrealistas.
A relação entre Pablo Picasso e Henri Matisse é complexa e multifacetada entre rivalidade e admiração. Ambos influenciaram-se mutuamente de diversas maneiras. Ambos os artistas foram influenciados pelo chamado "primitivismo" e pelas artes não ocidentais, como a arte africana e o artefato ibérico. Essas influências se refletiram em suas representações do corpo humano, muitas vezes simplificando as formas e enfatizando a expressão emocional.
Henri MatisseO Cabelo Esvoaçante1952Guache sobre papel79 × 58 cmColeção particular
Picasso e Matisse desenvolveram abordagens individuais e distintas. Picasso tendia a desconstruir e fragmentar as formas, buscando uma expressão mais intensa e emocional, enquanto Matisse tendia a simplificar e harmonizar as formas, criando uma sensação de equilíbrio e serenidade.
Com a saúde piorando no final da década de 1940, foi nessa época que Matisse começou a criar seus recortes de papel. Enquanto Picasso foi pioneiro na técnica de colagem em suas obras cubistas no início de 1900, ele se inspirou ainda mais nos recortes de papel de Matisse, criando uma série de esculturas formadas a partir de folhas de metal recortadas.
Henri MatisseNu Azul (Lembrança de Biskra)1907Óleo sobre tela92,1 x 140,4 cm The Baltimore Museum of Art
Matisse, foi profundamente influenciado pelo pintor simbolista Gustave Moreau, que acreditava que toda arte deveria ser guiada pelos impulsos emocionais do artista. Em 1904, o pontilhismo de Georges Seurat, a paleta de cores de Paul Gauguin e a pincelada gestual de Paul Cézanne e Vincent Van Gogh já haviam inspirado Matisse a rejeitar a figuração precisa em seu trabalho.
O quadro em homenagem a Cézanne demonstra a liberdade de Matisse diante das convenções. A expressão, obtida por traços reduzidos, tinha sido objeto de uma observação proferida por Gustavo Moreau a seu discípulo, Matisse, logo no seu início de carreira: “Matisse, você vai simplificar a pintura”.
Matisse pintou o nu quando uma escultura em que estava trabalhando se despedaçou. Em 1907 a pintura teve um forte efeito sobre Georges Braque e Pablo Picasso, motivando parcialmente Picasso a criar 'Les Demoiselles D'Avignon'.
Ernst Ludwig Kirchner
Nu azul reclinado com chapéu de palha
1909
68 x 72 cm
Óleo sobre cartão
Coleção particular Museum Frieder Burda, Baden-Baden
Max Pechstein Manhã Cedo1911 Óleo sobre tela 75 x 100 cm Coleção Peter Selinka
Tanto Max Pechstein quanto Ernst Ludwig Kirchner faziam parte do grupo artístico conhecido como Die Brücke, que buscava romper com as convenções acadêmicas e criar uma forma de arte mais emocional, expressiva e subjetiva.
Eles acreditavam que a cor poderia evocar respostas emocionais intensas permitindo uma conexão direta entre a obra de arte e o espectador. Suas paletas vibrantes e contrastantes, combinadas com pinceladas ousadas e intensas, ajudaram a criar uma estética única.
Yves Klein
Antropometria (Período Azul)1960Pigmento puro e resina sintética sobre papel 156,5 x 282,5 cmCentre Pompidou
Yves Klein usou corpos femininos nus como ferramentas para aplicar tinta diretamente na tela, criando uma fusão entre o corpo humano e a obra de arte.
As pinturas antropomórficas de Klein transcendem as fronteiras da forma criando novas experiências sensoriais e emocionais. O trabalho de Klein desafiou a definição tradicional da pintura, abrindo caminho para novas abordagens artísticas.
O trabalho de Klein com o azul teve um grande impacto no movimento minimalista. Sua ênfase na redução intencional, autolimitando-se ao essencial, demonstra como uma cor pode se tornar o elemento central da obra de arte.
O trabalho de Klein com o azul teve um grande impacto no movimento minimalista. Ao autolimitar-se dando ênfase na redução intencional, demonstra como uma única cor pode se tornar o elemento central da obra de arte.
Odilon Redon"La Cellule d'Or" (A Célula Dourada), perfil da cabeça de uma mulher à esquerda.1892Óleo e giz colorido, com ouro30 x 24,7 cmThe British Museum
Estúdio do artista
Matisse at the Hôtel RéginaNice, c. 1952.Photo: Lydia Delectorskaya.
Repercussão
Exposição:
ESPELHO REFLETIDO – O Surrealismo e a Arte Contemporânea Brasileira
2012
Curadoria: Marcus de Lontra Costa
Rio Show, O Globo - 06/06/2012
Exposição:
ESPELHO REFLETIDO – O Surrealismo e a Arte Contemporânea Brasileira
Curadoria: Marcus de Lontra Costa Inauguração: 09 de junho de 2012 Exposição: 10 de junho a 29 de julho
O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica inaugura sábado, nove de junho, às 17h, a exposição Espelho Refletido – O Surrealismo e a Arte Contemporânea Brasileira, com cerca de 200 obras de 57 artistas em atividade no Brasil. A exposição apresenta pinturas, esculturas, objetos estáticos e em movimento; vídeos e performances que em sua poética contém narrativas estranhas, paradoxais, fantásticas e absurdas. A partir da ótica surrealista, são explorados o caráter provocativo e diversificado de nossa produção artística atual. Espelho Refletido mostra como alguns representantes da chamada arte contemporânea, ao invés de afirmarem bruscas rupturas, buscam negociar com alguns dos mais marcantes postulados da arte moderna. Segundo o curador Marcus Lontra as pesquisas de Dalí, Magritte, Max Ernest, Man Ray e Marcel Duchamp foram fundamentais na afirmação do modernismo na Europa e nas Américas. “Aqui no Brasil, momentos-chave da epopeia modernista de nossas artes visuais e literatura são reflexos diretos dos avanços das tropas surrealistas: Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem – nos fala o Manifesto Antropófago, um ritual artístico e cultural tropicalmente surreal. E o que dizer, é claro, da figura tragicômica do “Abaporu” de Tarsila do Amaral, dos corpos bizarros e andrógenos nas pinturas de Ismael Nery, do mundo sem peso de Cícero Dias; do anti-herói Macunaíma; da “pedra no caminho” do poeta Carlos Drummond de Andrade; da Praça dos Três Poderes de Oscar Niemeyer, cercada de palácios de vidro flutuantes?”, afirma categórico. “O público vai fazer associações com diversas as expressões artísticas ao longo da história e vai perceber que o surrealismo está presente e faz parte da realidade cultural brasileira”, completa.
ARTISTAS: Adriana Varejão – Alexandre Mury – Alexandre Mazza – Ana Linnemann – Ana Miguel – Ângelo Venosa – Armando Queiroz – Barrão – Brígida Baltar – Bruno Borne – Camila Soato – Camille Kachani – Carlos Melo – Cristina Salgado – Eduardo Coimbra – Ernesto Neto – Fábio Magalhães – Felipe Barbosa – Felipe Bittencourt – Flávia Metzler – Francisco Hurtz – Franklin Cassaro – Gabriela Mureb – Gilvan Nunes – Hildebrando de Castro – James Kudo – Janaína Tschäpe – Jeanete Musatti – João Bosco – Jorge Duarte – José Paulo – José Rufino – Kátia Maciel – Kilian Glasner – Leo Brizola – Lia Menna Barreto – Luciano Zanette – Luiz Mauro – Luiz Zerbini – Marcos Chaves – Mariana Manhães – Nazareth Pacheco – Nelson Maravalhas – Nino Cais – Paulo Almeida – Paulo Climachauska – Pedro Paulo Domingues – Pedro Varela – Roberto Magalhães – Rodrigo Braga – Shima – Thiago Martins de Melo – Ueliton Santana – Vicente de Mello – Victor Arruda – Wagner Willian