A Madonna rodeada por Serafins e Querubins | 2012
Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: A Madonna rodeada por Serafins e Querubins
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2012
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: autorretrato, portrait, leite, mamadeira, amamentação, bebê, anjos, bonecos infantis, plano médio
Obras Relacionadas: "Madonna Surrounded by Seraphim and Cherubim", 1452, de Jean Fouquet
Artistas Relacionados: Jean Fouquet
⚿ Palavras-chave
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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
A obra Madonna, Serafins e Querubins (2010), de Alexandre Mury, é uma fotografia performática que reinterpreta a iconografia religiosa tradicional, inserindo-a em um contexto contemporâneo carregado de ambiguidades e críticas sociais. Mury ocupa o lugar da Madonna, vestindo trajes que remetem às roupas sagradas da Virgem Maria, mas sua figura contrasta fortemente com a representação clássica: ele mantém a barba, um traço marcante de sua identidade masculina, enquanto segura um boneco de plástico no colo, criando uma tensão entre o feminino e o masculino, o sagrado e o profano.
A cena é construída com precisão visual: Mury e o boneco estão ambos vestidos de branco, estabelecendo uma conexão estética que sugere uma relação de cuidado ou parentesco. No entanto, em vez de oferecer o seio, como na pintura tradicional da Madonna lactante, Mury conduz até a boca do boneco uma mamadeira. Esse gesto, aparentemente simples, é carregado de significados. Ele pode ser lido como uma crítica à idealização da maternidade, uma reflexão sobre a adoção ou até mesmo uma metáfora da paternidade, temas que ganham relevância em um mundo onde as estruturas familiares e os papéis de gênero estão em constante transformação.
A presença da barba de Mury é crucial para a leitura da obra. Ao não esconder sua identidade masculina, o artista desafia a expectativa do espectador e questiona as convenções de gênero associadas à figura da Madonna. Essa ambiguidade conflituosa entre o feminino e o masculino gera uma tensão que vai além da mera androginia, propondo uma reflexão sobre como as identidades são construídas e performadas socialmente. Mury não se esconde atrás de uma persona completamente transformada; em vez disso, ele expõe a contradição, convidando o espectador a confrontar suas próprias noções sobre gênero, cuidado e sacralidade.
Os serafins e querubins, representados por bonecos de plástico, acrescentam uma camada de ironia à obra. Esses seres celestiais, tradicionalmente associados à pureza e à divindade, são aqui substituídos por objetos massificados e descartáveis, questionando a noção de sacralidade em um mundo dominado pelo consumo e pela produção em massa. A presença desses objetos também pode ser lida como uma crítica à banalização do sagrado na cultura contemporânea, onde símbolos religiosos são frequentemente apropriados e ressignificados de maneiras inesperadas.
A mamadeira improvisada, por sua vez, não é um mero substituto do seio materno, mas uma alegoria que Mury explora com engenhosidade. Ela sugere a possibilidade de uma parentalidade não biológica, como a adoção, e questiona os papéis tradicionais de gênero associados ao cuidado. Ao mesmo tempo, o gesto de alimentar o boneco pode ser visto como uma metáfora da criação artística, onde o artista nutre sua obra, dando-lhe vida e significado.
Jean FouquetA Madonna rodeada por Serafins e QuerubinsMadonna surrounded by Seraphim and Cherubim1420 - 1471Royal Museum of Fine Arts AntwerpAntwerpen, Bélgica
A Virgem e o Menino com Anjos (c. 1452), de Jean Fouquet, é uma das obras mais icônicas do Renascimento francês. Criada como parte do Díptico de Melun, a pintura representa a Virgem Maria segurando o Menino Jesus, cercada por querubins vermelhos e serafins azuis. A composição se destaca pela sofisticação técnica e pelo uso inovador da perspectiva e do volume, evidenciando a influência da arte italiana sobre Fouquet.
O aspecto marmóreo da Virgem e a composição simétrica sugerem não apenas um ideal estético, mas também um forte simbolismo religioso e político. Acredita-se que a obra tenha sido encomendada por Etienne Chevalier, conselheiro do rei Carlos VII da França. O díptico inclui ainda um retrato de Chevalier ao lado de São Estêvão.
Um dos aspectos mais marcantes da pintura é o contraste de cores, que acentua a nudez e destaca os seios fartos da Virgem, conferindo à imagem um toque quase erótico. De fato, especula-se que a Madona tenha sido inspirada nas feições de Agnès Sorel, amante de Carlos VII. Durante o Renascimento, à medida que a arte redescobria as representações físicas da Antiguidade, surgiram imagens mais sugestivamente eróticas da Virgem. Para uma obra devocional, esta Madonna se revela particularmente ousada, com seu seio grande, esférico e idealizado. Seu olhar, voltado para o filho por cima do seio, evidencia que ela, e não o bebê, é o verdadeiro ponto focal da composição.
A pintura, também conhecida como Madonna Rodeada por Serafins e Querubins (Madonna Surrounded by Seraphim and Cherubim), faz parte da coleção do Royal Museum of Fine Arts Antwerp, em Antuérpia, Bélgica.
Jean Fouquet (1420–1471) consolidou-se como um dos maiores pintores do Renascimento francês, e esta obra permanece uma de suas criações mais inovadoras e enigmáticas.
Antoine Denis ChaudetPierre Cartellier (terminado por)"Oedipe enfant rappelé à la vie par le berger Phorbas qui l'a détaché de l'arbre"Forbas, o pastor que resgata e salva a vida do infante Édipo e finalmente o entrega a Políbio de Corinto. 1810-18181,96m x 0,75m x 0,82mEscultura de mármoreMusée du Louvre
O homem alimentando o bebê era Forbas, uma pastor que salvou a criança que encontrou pelo caminho. Ele o deu a Políbio e sua esposa, Peribea. Juntos, eles o criaram e o chamaram de Édipo. O menino era filho de Laio e Jocasta, reis de Tebas. Quando eles iam se casar, o oráculo de Delfos os avisou que o filho que eles teriam seria o assassino de seu pai e mais tarde se casaria com sua mãe. Quando seu primogênito nasceu, Layo encarregou alguém de matar a criança para que o futuro desastroso que o oráculo havia previsto para eles não se tornasse realidade. Essa pessoa foi ao Monte Citeron, amarrou os pés da criança e pendurou-a em uma árvore para que morresse aos poucos. Édipo, que significa aquele com os pés inchados.
Adam Rzepecki "Projekt pomnika Ojca Polaka""Projeto do Monumento ao Pai Polonês""Project of the monument of the Polish Father's"fotografia70 × 50 cm 1981
Na foto você pode ver o artista que está segurando sua filha Joanna ao peito. A obra foi criada em 1981 e foi uma resposta à homenagem à mãe polonesa usado na propaganda da decadente República Popular da Polônia. O fio político assume um novo significado atual. É uma das primeiras obras na história da arte polonesa a abordar a questão da performatividade de gênero. Durante séculos por imposição das religiões, papéis sociais foram “adequados” a pessoas de sexos opostos.
Maurice GuibertPortrait of Henri de Toulouse-Lautrec1892-1900Ferrotyped silver print23,5 x 17,8 cmColeção particular
Neste retrato, Toulouse-Lautrec exibe um coque no cabelo, veste um quimono japonês e posa com uma boneca e um leque. A composição desta fotografia é deliberada e complexa, com um uso notável de elementos culturais e acessórios simbólicos. Como muitos artistas franceses de sua época, influenciados pelo japonismo, Toulouse-Lautrec, explorou a estética japonesa não só nesta fotografia como em grande parte de seu trabalho com desenho e pintura.
O quimono, um símbolo de uma cultura distante e, na época, exótica, sugere uma fluidez e uma abertura cultural do final do século XIX. A boneca, tradicionalmente associada à infância e à feminilidade; O leque, por outro lado, é um objeto com conotações tanto práticas quanto estéticas, muitas vezes usado como um acessório de moda que também serve para ocultar e revelar, criando uma dinâmica de mistério e sedução.
Esta fotografia de Guibert é, portanto, não apenas um retrato de um indivíduo, mas uma declaração visual sobre identidade, cultura e gênero. Toulouse-Lautrec, conhecido por seu trabalho inovador e sua vida boêmia, encontra-se aqui retratado de maneira que amplifica essas qualidades, transformando a fotografia em uma obra de arte que transcende o simples registro.
Marina AbramovicBullett Magazine2012Fotografia de Xevi Muntane, diretor de arte: Jack Bencht
A imagem é cuidadosamente composta, com um uso magistral de contraste e simbolismo. Ao substituir o bebê humano por um filhote de tigre, Abramović não apenas desafia as normas tradicionais de maternidade, mas também questiona a própria natureza do cuidado e da nutrição. A escolha de um tigre, um animal associado à força e à ferocidade, sugere uma maternidade que é poderosa e selvagem, em oposição à visão suavizada e domesticada frequentemente imposta às mulheres.
A obra de Marina Abramović, tanto em sua prática artística quanto em suas declarações públicas, continua a ser uma força disruptiva no mundo da arte. Abramović declara que fez três abortos por que "um filho teria sido um desastre" para o seu trabalho. Politicamente, a imagem e as declarações de Abramović podem ser vistas como uma forma de ativismo. Sua arte, assim, não é apenas uma expressão pessoal, mas também um meio de catalisar discussões sociais e políticas. A decisão de Abramović de não ter filhos e sua franca discussão sobre o impacto das responsabilidades familiares na carreira das mulheres revelam as tensões persistentes entre gênero e trabalho.
Cindy ShermanSem título n.216.Da série Retratos históricos1989Fotografia, impressão cromogênica221,3 × 142,5 cmMoMA
Cindy Sherman denuncia a distorção que as obras de arte sofrem em função do tempo. Através da artificialidade da fotografia, combinando figurinos, dispositivos protéticos e maquiagem, sua obra não é um espelho fiel das obras originais. Sherman parodiando os estereótipos femininos acaba por desconstruir as concepções de feminino implantadas em nossa memória por tais obras do passado.
León FerrariLeche1996Tinta e colagem sobre caixa de leite de papelãoColeção Particular
Esta mistura de sagrado com o profano, recebeu muita rejeição. Para León, a reação não era só esperada, bem como contumaz. O polémico artista argentino León Ferrari reuniu arte erudita com imagens mundanas e criou os pacotes de leite mais controversos até então vistos. Como artista conceptual sempre lhe importou tanto a mensagem mas também a revolta sentida por instituições controladoras, como a Igreja Católica. A sua postura sempre desafiou a censura, inclusive a condenação do arcebispo Jorge Bergoglio, actual Papa Francisco.
Maria Magdalena Campos-Pons“When I Am Not Here / Estoy Allá” 1994
Esta obra tem afinidades com Iemanjá — a mãe carinhosa e protetora feroz. As cores branco e azul estão associadas á este orixá, que reside no oceano e é representada frequentemente, da cintura para cima, como uma mulher negra voluptuosa, e da cintura para baixo ,completa a figura híbrida, com uma cauda de peixe.
Temas recorrentes no trabalho da artista cubana, Maria Pons, abordam o papel da mulher na sociedade, bem como o caráter da herança afro-cubana.