Nick Bottom | 2011

Detalhes / OBRA DE ARTE


Título: Nick Bottom

Criador: Alexandre Mury

Data de criação: 2011

Tipo: fotografia

Meio: C-print (impressão cromogênica)


Período da Arte: Contemporâneo

Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática, Nick Bottom, William Shakespeare

Assunto: autorretrato, releitura, Sonho de uma Noite de Verão, burro, asno, peça teatral, personagem, 

Obras Relacionadas: "Titania, Bottom and the Fairies", 1793-1794, Johann Heinrich Füssli

Artistas Relacionados: Johann Heinrich Füssli, William Shakespeare



  Palavras-chave

#releitura #nickbottom #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira


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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal  de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
Performance do artista Alexandre Mury encenando uma releitura do personagem Nick Bottom da obra de William Shakespeare, Sonho de uma Noite de Verão.
Título da obra: Nick BottonCriador: Alexandre MuryData de criação: 2011Fotografia / Autorretrato performático© Alexandre Mury
pintura de Henry Fuseli, ilustrando uma cena de sonho de uma noite de verão com os personagens:Titania, Bottom and the Fairies Titania, Bottom e as Fadas
Vereinigung Zürcher Kunstfreunde, 1941


Henry FuseliTitania liebkost Zettel mit dem EselskopfTitania, Bottom and the FairiesTitania, Bottom e as Fadas1741 – 1825óleo sobre tela169 x 135 cmKunsthaus Zürich

BOTTOM  [despertando]


— "Tive uma visão extraordinária. 

Tive um sonho, que não há entendimento humano capaz de dizer que sonho foi. 

Não passará de um grande asno quem quiser explicar esse sonho." 


ATO IV, Cena I 

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO (A Midsummer-Nigth’s Dream) 

William Shakespeare 

Creative Commons CC-BY-NC-ND (3.0 Unported)

Henry FuseliTitania and Bottomc.1790Óleo sobre tela2172 × 2756 mmTate
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O duende Oberon arma com a fada Puck um plano ardiloso envolvendo uma poção mágica, que faz com que qualquer pessoa se apaixone pelo primeiro ser vivo que veja pela frente. Isso fez com que a rainha da floresta, Titânia, se apaixonasse à primeira vista por um burro... Puck arma outras confusões levando os casais na floresta a caírem de amores pelos pares errados.

quadro com a Cena pintada inspirada na peça Sonho de uma noite de verão. Titânia e Bottom
 National Gallery of Victoria, Melbourne 


Edwin LandseerCena de Sonho de uma noite de verão.Titânia e Bottom1848-51óleo sobre tela82,0 × 133,0 cmNational Gallery of Victoria


John Anster FitzgeraldTitânia e Bottom: Cena de Sonho de uma noite de verãoSem dataÓleo sobre tela44,4  x  68,6 cmColeção particular


Sir Hubert von HerkomerBottom The Weaver1891Oil on board 29,21 cm × 21,01 cmColeção particular

Podemos encontrar semelhanças entre Nick Bottom e o Rei Midas, da mitologia grega. Enquanto Nick Bottom acorda com a cabeça de um burro, Midas é agraciado (ou amaldiçoado) com orelhas de burro. Ambos os personagens possuem uma reputação e posição social respeitáveis. Nick Bottom é visto como um líder no grupo de atores amadores, enquanto Midas é um poderoso rei na mitologia grega.


Tanto a lenda de Midas quanto a representação de Nick Bottom envolvem associações com o símbolo do burro, mas enquanto Midas é associado à burrice, Nick Bottom transcende essa associação e se revela como um personagem mais complexo. Enquanto Midas é frequentemente associado a burrice ou falta de discernimento, a personagem de Nick Bottom, é retratada como tendo um intelecto razoável e até mesmo algum senso de sabedoria em suas ações.



Andrea Vaccaro1670 ECRei MidasÓleo sobre tela71 x 54 cmColeção particular

De acordo com a lenda, o sátiro chamado Marsyas, desafiou o poderoso deus da música, Apolo, para um desafio musical. O deus da montanha Tmolus e o rei Midas foram convidados para julgar a disputa. Marsyas tocou uma melodia simples em sua flauta e Apolo tocou sua lira de maneira encantadora. Quando a música terminou, Tmolus escolheu Apolo como vencedor; já o rei Midas escolheu o sátiro. Apolo ficou furioso e deu orelhas de burro a Midas, como sinal de sua tolice. 

Domínio público


Jacques JordaensApolo como Vencedor de Pan1636-1638Óleo sobre tela180 x 270 cmMuseo del Prado


Autor desconhecidoEstúdio de Francesco PrimaticcioO Julgamento de MidasÓleo no painel107,5 x 143,4 cmColeção particular


Jacob JordansO julgamento de Midas na disputa entre Apolo e PãPor volta de 1640Óleo sobre madeira49,5 x 71,4 cmColeção particular

Há uma possível confusão entre o Rei Midas da Frígia e Midas de Panasos. É importante observar que eles são personagens homônimos, distintos, cada um com suas próprias histórias e episódios mitológicos associados, embora seja comum combiná-los em uma única figura na tradição mitológica. O Rei Midas da Frígia é conhecido pelo mito do "Toque de Midas" e por sua riqueza, enquanto Midas de Panasos está associado ao desafio musical entre Apolo e Marsyas. 


Embora as histórias de Ovídio forneçam detalhes sobre os dois episódios, elas não oferecem indicações explícitas de que se tratam de personagens diferentes. A distinção entre os reis Midas da Frígia e de Panasos é mais baseada em estudos comparativos de diferentes fontes e tradições mitológicas.  


A associação dos dois episódios e a combinação dos dois reis Midas em uma única figura são mais comuns em fontes posteriores a Ovídio em adaptações literárias e artísticas. A distinção entre os dois Midas, o da Frígia e o de Panasos, é mais resultado da análise e interpretação de estudiosos ao longo do tempo. 



Jean-Joseph CarrièsAuto-retrato como MidasPor volta de 1885Getty Center

Jean-Joseph Carriès esculpiu esta cabeça de gesso com o Rei Midas em mente. Seu brilho dourado (de goma-laca) nos lembra a outra lenda sobre o rei que transformava tudo em ouro com um toque do dedo.   No "Julgamento de Midas", Midas atua como juiz e declara Marsyas como vencedor. Isso provoca a ira de Apolo, que o castiga dando-lhe orelhas de burro. No "Toque de Midas", Midas recebe o desejo de transformar tudo o que toca em ouro. Ele percebe rapidamente que essa habilidade é uma maldição e implora aos deuses para reverter o desejo.

Baigio da Cesena, um mestre de cerimônias papal, criticou o trabalho de Michelangelo dizendo que figuras nuas não tinham lugar em um local tão sagrado e que as pinturas ficariam mais à vontade em uma taverna pública.


Michelangelo incluiu da Cesena no Juízo Final como Minos, um dos três juízes do submundo. Quando Baigio reclamou com o Papa, o pontífice explicou que não tinha jurisdição sobre o inferno e que o retrato deveria permanecer.


Como o gênio toscano anterior, Dante, fizera com seus inimigos políticos em sua poética obra-prima Inferno, Michelangelo colocou Cesena em sua própria visão do Inferno, dando-lhe orelhas de burro e pintando uma serpente mordendo eternamente seus testículos .



Michelangelo BuonarrotiJuízo Final (detalhe) 1537-41 Afresco Capela Sistina, Vaticano

Minos era o lendário rei de Creta e também conhecido como um dos três juízes do submundo, ao lado de Éaco e Radamanto. Ele foi responsável por julgar as almas dos mortos e determinar seus destinos após a morte. Na obra "O Juízo Final", de Michelangelo, Minos é retratado com orelhas de burro, o que pode ter sido uma maneira de simbolizar sua ignorância, estupidez ou bestialidade, de acordo com a visão artística e liberdade criativa ele adicionou seus próprios elementos e simbolismos.

© Fundación Goya en Aragón 

Francisco de Goya y LucientesAté o avô deleSérie: Caprichos1797-1799 21,4 x 15 cmMuseo Nacional del Prado

Goya era conhecido por sua habilidade em expressar críticas sociais e políticas através de suas obras. Essa representação simbólica do burro como um ser ignorante permite a Goya expor as falhas e os vícios da sociedade em que vivia. Goya pode ter se inspirado na literatura e textos que abordam a questão da vaidade da nobreza hereditária e fazem alusão ao fato de que a mera ancestralidade nobre não garante a utilidade ou o mérito pessoal. Ele pode ter se inspirado  em obras como "El asno erudito. Fábula original", de Juan Pablo Forner e "Memórias da Insigne Academia Asnal", de Primo F. Martínez de Ballesteros.


De acordo com os manuscritos sobre "Los Caprichos", é possível perceber que a obra retrata um burro tentando provar suas origens nobres. Acredita-se que Goya utilizou essa imagem para criticar o hábito comum entre a aristocracia do século XVIII de buscar suas origens nobres, o que muitas vezes se torna a atividade mais importante de suas vidas, uma vez que não exerciam nenhum trabalho. 

© Fundación Goya en Aragón 

Francisco de Goya y LucientesO discípulo saberá mais?Série: Caprichos1797-1799 Gravura, água-tinta polida e buril21,8 x 15,3 cmMuseo Nacional del Prado

É provável que Goya tivesse conhecimento da presença do "burro" nos escritos de Erasmo de Rotterdam, que também poderia ter servido de inspiração .


Erasmo de Rotterdam, um dos principais humanistas do Renascimento, abordou a figura do burro em sua obra "Elogio da Loucura" (Encomium Moriae). Publicado em 1511, o livro é uma sátira social que critica vários aspectos da sociedade e da igreja da época. 


O burro é frequentemente mencionado como uma metáfora para pessoas que agem sem razão ou discernimento, seguindo cegamente tradições e convenções estabelecidas. Para Erasmo, o burro representa aqueles que são incapazes de questionar as normas sociais e religiosas, agindo de maneira irracional e acrítica. 



Quentin MassysAlegoria da loucura C. 1510Óleo sobre painel 60,3 x 47,6 cmColeção particular

O tolo de Massys foi quase um contemporâneo exato do 'Elogio da Loucura' de Erasmo, no qual o personagem da Loucura é de fato um comentarista sábio e astuto da loucura nos outros. Os tolos eram assunto popular tanto na arte quanto na literatura dessa época e o trabalho de Erasmo foi particularmente importante para os círculos humanistas do século XVI na Antuérpia.


"Alegoria da Loucura" de Massys, retrata um 'bobo da corte' usando um traje tradicional com orelhas de burro. Na cultura popular, o burro é frequentemente percebido como um animal de carga, lento, simplório, tendo pouca perspicácia, incapaz de perceber as consequências de suas ações. Nesse contexto, as orelhas de burro no traje do personagem na pintura de Massys servem para enfatizar a ideia de que o retratado é visto como tolo e ingênuo. 


O traje grotesco, juntamente com outras deformidades exageradas, representa uma visão caricatural do tolo da época, que era muitas vezes, eles eram deficientes mentais, ridicularizado e utilizado para entretenimento público em peças de moralidade e esquetes satíricos.


Além disso, a pintura de Massys também faz uso de outros elementos simbólicos, como o gesto de silêncio e a presença de uma figura esculpida em um cajado conhecido como "marotte". Esses elementos contribuem para a crítica social e a sátira presente na obra, abordando temas como indiscrição e loucura na sociedade da época.

© Lucien Clergue, SAIF


Foto de Lucien ClergueFantasia de cavalo de Janine Janet para Le Testament d'Orphée, dirigido por Jean Cocteau1959
Jean CocteauO Testamento de Orfeu  (Le Testament d'Orphée)1960Filme em preto e branco com alguns segundos de filme colorido emendados.  Terceira parte da séries de filmes: Trilogia ÓrficaFantasia/Drama 1h 19m 

A imagem do homem-cavalo, na obra de Jean Cocteau, pode ser interpretada como uma metáfora da dualidade humana. O homem representa a consciência, a razão e a individualidade, enquanto o cavalo personifica a natureza animal, os instintos e o inconsciente. Essa fusão de opostos pode ser vista como uma reflexão sobre a condição humana e os conflitos internos. A presença dos homens com cabeça de cavalo em "Le Testament d'Orphée" oferece um campo fértil para múltiplas interpretações.

© ADAGP - Comité Jean Cocteau

Traje do homem-cavalo feito por Janine Janet, usado por Daniel Moosman em O Testamento de Orfeu, dirigido por Jean Cocteau, 1959
 © Laval-Jeantet & Mangin.

Marion Laval-Jeantet & Benoît ManginQue le cheval vive en moi (Deixe o cavalo viver em mim)Art orienté objet2011Perfomance e objetosColeção particular

No projeto chamado "Que le cheval vive en moi" (Deixe o cavalo viver em mim), a dupla de  artistas franceses apresenta ao público uma transfusão de sangue injetando plasma de cavalo em um humano. Esse sangue misturado é colhido e liofilizado, e então a partir do qual é feita uma coleção de oito relicários. O encontro do sangue das duas espécies produziu um objeto de arte: sangue de centauro. 

 © Laval-Jeantet & Mangin.

Marion Laval-Jeantet & Benoît ManginArte Orientada a Objetos, "Sangs mêlés"2011Relicários gravados com diagramas de imunologia em aço cromado contendo o sangue liofilizado de Marion que recebeu a injeção de soro de sangue de cavalo. Coleção particular

A nível científico, a experiência terá sido minuciosamente preparada há mais de três anos, com trabalho com investigadores e laboratórios em questões de 'compatibilização' do sangue, de forma a correr o menor risco possível durante a injeção.

A bioarte é um movimento artístico contemporâneo relativamente recente que surgiu a partir dos anos 2000. Os artistas se inspiram na ciência e seus métodos já há vários séculos e como a bioarte avançou muito, de fato, ela tem o potencial de provocar discussões sobre temas delicados, como a manipulação genética, a biopolítica, a privacidade genética e a relação entre humanos e outras formas de vida. No entanto, a bioarte também levanta questões importantes sobre bioética.

 © Laval-Jeantet & Mangin.

Marion Laval-Jeantet & Benoît ManginArt Orienté ObjetQue o Cavalo Viva em Mim! 2011Vídeo digital de alta definiçãoDuração: 00:24:00 
 © Laval-Jeantet & Mangin.

Marion Laval-Jeantet & Benoît Mangin"Le leurre de Centaure"Art orienté objet2011Par de próteses, metal, couro, resina, madeiraDimensões variáveis Coleção particular

Marion subiu sobre plataformas semelhantes às patas de cavalo e realizou um ritual de comunicação com um cavalo. Ao mesmo tempo, a nível formal, a confecção de próteses permitiu estabelecer uma outra espécie de aproximação, de apropriação do ser-cavalo, colocando-se à sua altura, no sentido literal. A abordagem da dupla de artistas é multidisciplinar para assuntos como biologia e ciências comportamentais (etologia e psicologia).

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