O Pesadelo | 2011
Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: O pesadelo
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2011
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: autorretrato, fotografia, cor-de-rosa, monocromia, quarto de menina, cama, corpo masculino reclinado
Obras Relacionadas: "The Nightmare, (1781), Henry Fuseli
Artistas Relacionados: Henry Fuseli
⚿ Palavras-chave
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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
Em "O Pesadelo" (2011), Alexandre Mury apresenta uma performance fotográfica que reinterpreta a célebre pintura "The Nightmare" (1781) de Henry Fuseli. Na obra original, Fuseli retrata uma mulher adormecida em uma pose vulnerável, enquanto um íncubo sinistro repousa sobre seu peito, e uma figura equina fantasmagórica emerge ao fundo, simbolizando os terrores noturnos e os mistérios do subconsciente.
Mury transpõe essa atmosfera onírica para uma cena contemporânea, utilizando elementos que subvertem as expectativas do espectador. Em sua composição, o artista se retrata reclinado em uma cama adornada com lençóis cor-de-rosa, evocando um ambiente que sugere inocência e feminilidade. Essa escolha cromática contrasta com a inquietação presente na obra de Fuseli, criando uma tensão entre o cenário acolhedor e a inquietude implícita no título.
A pose de Mury, embora serena, carrega uma ambiguidade que convida à introspecção. Ao se posicionar em um quarto tipicamente associado a uma menina, o artista desafia as normas de gênero e explora a fluidez da identidade, temas recorrentes em seu trabalho. A ausência de figuras ameaçadoras, como o íncubo e o cavalo espectral de Fuseli, desloca o foco do medo externo para uma exploração mais introspectiva dos pesadelos internos e das ansiedades pessoais.
A releitura de Mury não apenas homenageia a obra de Fuseli, mas também a ressignifica, trazendo-a para o contexto contemporâneo e pessoal. Ao incorporar elementos de performance e autorretrato, ele convida o espectador a refletir sobre as camadas de significado presentes na interseção entre o consciente e o subconsciente, o real e o imaginário, o masculino e o feminino.
Em "O Pesadelo", Mury demonstra sua habilidade em fundir referências históricas da arte com questões atuais, criando uma obra que é ao mesmo tempo uma homenagem e uma crítica, uma reflexão sobre a natureza dos medos humanos e a construção da identidade.
A evocação onírica, assombrosa e erótica da pintura foi um enorme sucesso popular. Amplamente plagiada, as paródias eram comumente usadas para caricatura política. Fuseli pintou outras versões de O Pesadelo após o sucesso da primeira.
O Pesadelo de Fuseli reverberou entre os teóricos da psicologia do século XX. A pintura é considerada representativa dos instintos sexuais sublimados. Tanto o sono quanto os sonhos eram temas comuns para Henry Fuseli, "O pesadelo" detaca-se pela inspiração no folclore e ausência de referências diretas a temas literários ou religiosos.
Acreditava-se que o Íncubo era um diabo que possuía e praticava sexo com as mulheres que dormiam sozinhas. A obra lida com assuntos sobrenaturais, Fuseli jogava com os medos e instintos primitivos do espectador, destacando-se, numa época em que a reverência moralista era a base da pintura acadêmica britânica.
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Repercussão
TransCultura
EM BUSCA DE UM PAPEL NA HISTÓRIA
Alexandre Mury faz mostra individual com autorretratos inspirados em obras clássicas
FABIANO MOREIRA
segundocaderno@oglobo.com.br
Volta e meia, o artista Alexandre Mury é surpreendido com o pedido de algum veículo de imprensa para que envie uma foto “normal” para publicação. Autotransfigurado em personagens
icônicos de obras da história da arte em seus trabalhos, Mury tem poucas fotos “normais”, e ele mesmo muda sempre o próprio lay-out, de forma que costuma atender ao pedido com uma foto 3x4, aquela da carteira de identidade. Amanhã, às 16h, na Caixa Cultural, ele abre a sua primeira mostra institucional individual, “Fricções históricas”, com 42 autorretratos, em grandes formatos, nos quais interpreta o “Abaporu” de Tarsila do Amaral, o “Adão” de Michelangelo, a “Mona Lisa” de Leonardo Da Vinci e o “Lucífer” de Franz von Stuck, entre outros personagens reconhecíveis pelo público.
Tudo começou como uma brincadeira de internet, nos anos 1990, época do Fotolog, ainda longe da esfera do mundo da arte institucional, no qual hoje Mury tem obras em coleções importantes, como as de Gilberto Chateaubriand e Joaquim Paiva. — Eu fazia essas brincadeiras para produzir conteúdo para o meu canal no Fotolog e ver o poder de
interatividade dessas imagens — conta ele. — Investi dinheiro em perucas para postar as fotos até que fui descoberto por um marchand, Afonso Costa. Tomei um susto quando ele disse que meus posts eram arte.
SEM PHOTOSHOP
Na exposição, que fica em cartaz até o dia 8 de setembro, o artista mostra também o primeiro vídeo que produziu sobre seu processo de transformação para a realização da “Monalisa” (O vídeo já está disponível em seu canal: vimeo.com/mury.)
— Foi o trabalho mais performático que já fiz, raspando o cabelo, a barba e até as sobrancelhas — conta. — Nunca tinha mexido tanto no corpo. Todo o resto é sempre maquiagem.
Quando Mury fala em maquiagem, nem sempre se refere a cosméticos. O rosto brilhante de sua “Medusa”, por exemplo, foi obtido com óleo de cozinha. A lágrima que cai em seu rosto em “Aranha chorando” é um bocado de mel. Tudo obtido por meio de um processo de experimentação que ele desenvolve em sua casa, em São Fidélis, interior do Rio.
— Sempre uso um espelho para ver como ficará a foto e dou os cliques com um disparador ou pelo timer. Às vezes, algum amigo aperta o botão, mas eu faço toda a produção — revela. — O “Abaporu”, por exemplo, levou três dias, entre a busca de um cacto e de um local onde o pôr do sol ficasse exatamente na posição que ocupa na obra original. Fazer tudo sozinho é importante porque ajuda a configurar uma estética, sem o perfeccionismo da fotografia publicitária. Também evito o Photoshop, para deixar os vestígios de que é feito à mão, as pistas do improviso.
Além do trabalho da “Monalisa”, o primeiro no qual transformou seu corpo, Mury expõe também “A criação de Adão”, seu primeiro nu frontal, todo sujo de barro, que levou a exposição a ter uma recomendação para maiores de 16 anos. Aliás, esta e outras imagens são proibidas pelo Facebook.
— A imagem faz um diálogo com a obra original e remete à ideia de uma escultura com o meu próprio corpo. Não é uma cópia. Ela fala por si, ganha autonomia e conta sua própria história — reflete Mury, que tem sua obra comparada a samplers pelo psiquiatra Guilherme Gutman, que assina o texto do catálogo.
O Globo | Segundo Caderno | Transcultura | 19/07/13