Alexandre Mury
Vida e obra
Biografia resumida
O artista fidelense, Alexandre Mury, nasceu em 1976, vive e trabalha em São Fidélis, RJ.
Mury possui obras nos acervos de museus renomados, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF).
Mury é graduado em Comunicação Social e iniciou um mestrado em Comunicação e Cultura na UFRJ. Além de sua produção artística, Mury é um pesquisador independente dedicado aos estudos de iconografia na História da Arte.
Em 2016, recebeu uma indicação ao Prêmio Pipa, reconhecimento de sua significativa contribuição para a cena artística contemporânea.
Mury é um artista multidisciplinar multimídias que tem um trabalho de destaque com performatividade e fotografia, sua prática artística explora conceitualmente Identidade, Memória, Cultura e História da Arte e suas complexidades.
Trajetória e formação
Natural de São Fidélis, uma pequena cidade do interior do Rio de Janeiro, Alexandre Mury é filho de mãe costureira e pai carpinteiro. Desde muito cedo demonstrou interesse pelas habilidades manuais e pelo desenho. Iniciou sua carreira como desenhista aos 16 anos em uma fábrica de embalagens. Posteriormente, trabalhou como locutor de rádio entre 1996 e 2000.
Em busca de conhecimento e aprimoramento, mudou-se para Campos dos Goytacazes, RJ, onde cursou Publicidade e Propaganda na Faculdade de Filosofia de Campos (atualmente, UNIFLU), formando-se em 2000. Já no ano seguinte, atuava como diretor de arte em uma agência de publicidade, cargo que exerceu por três anos. Em 2003, iniciou um mestrado em "Comunicação e Cultura" pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas abandona-o pouco antes da conclusão. Durante esse período, também lecionou no curso de comunicação social no Centro Universitário Fluminense (UNIFLU, Campos dos Goytacazes, RJ), no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF, Campos dos Goytacazes, RJ) e na Fundação São José (FSJ, Itaperuna, RJ) até 2004.
Em 2005, mudou-se para Vitória/ES e retomou sua carreira como diretor de arte em uma agência de publicidade. Ao longo de suas mudanças de cidade, trabalho e estudos, Mury sempre reservou tempo para realizar experiências artísticas divulgadas de forma despretensiosa na internet. Em 2010, recebeu uma proposta de representação comercial de seu trabalho fotográfico. E, no mesmo ano, teve a honra de ser convidado para expor no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), participando da mostra "Novas aquisições da Coleção de Gilberto Chateaubriand - 2007/2010".
Suas obras estão presentes nos acervos do MAM-Rio (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), MAR (Museu de Arte do Rio) e MFF (Museu da Fotografia Fortaleza), além de variados acervos particulares de importantes colecionadores brasileiros e estrangeiros.
Destacam-se, no seu currículo, importantes exposições individuais, como "Fricções Históricas", em duas edições (2013 na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, e 2015 no SESC Glória, em Vitória, ES), com curadoria de Vanda Klabin. Além disso, participou da exposição "Genealogias do Contemporâneo" (2012) no MAM-RJ, onde compartilhou espaço com renomados artistas como Di Cavalcanti e Paulo Nazareth, sob a curadoria de Luiz Camillo Osório.
Entre as diversas exposições coletivas de destaque, Alexandre Mury participou da mostra "Espelho Refletido - O Surrealismo e a Arte Contemporânea Brasileira" no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, em 2012, com curadoria de Marcus Lontra Costa, onde dividiu espaço com renomados artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto e Brígida Baltar. No ano seguinte, esteve presente na exposição "Virei Viral" no CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro. Em 2015, participou da exposição "Ver e ser visto" no MAM-Rio, com curadoria de Guilherme Gutman, onde teve a oportunidade de compartilhar o espaço com grandes nomes como Artur Barrio, Cildo Meireles, Gustavo Speridião, Nelson Leirner, Rosângela Rennó, Tunga, entre outros. No mesmo ano, expôs na Caixa Cultural de Brasília e do Rio de Janeiro na mostra "Novos Talentos: Fotografia Contemporânea no Brasil", com curadoria de Vanda Klabin, ao lado de artistas como Berna Reale e Rodrigo Braga. Em 2017, participou da exposição "A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela" na CAIXA Cultural do Rio de Janeiro, com curadoria de Bruno Miguel, onde teve a oportunidade de expor junto a jovens expoentes da arte brasileira, como Camila Soato, Bruno Vilela e Ana Elisa Egreja.
Alexandre Mury é reconhecido pela sua contribuição artística e indicado ao Prêmio Pipa em 2016.
Linguagem e conceitos
A obra de Alexandre Mury é permeada por uma narrativa pessoal e autobiográfica, em que ele se coloca como "protagonista e agente de suas próprias criações", como descreveu a curadora Vanda Klabin. Sua biografia é intrinsecamente ligada às suas expressões artísticas, e é por meio desse mergulho profundo em sua própria identidade que ele alcança uma poética única e instigante.
Mury utiliza o autorretrato como uma ferramenta poderosa para explorar questões de identidade, cultura e história da arte. O psicanalista e crítico de arte Guilherme Gutman diz que sua abordagem poética do espelho reflete uma profunda consciência do passado e do presente, entrelaçando-se com referências e obras icônicas de artistas consagrados. Ao recriar e reinterpretar essas obras, ele estabelece um diálogo provocativo com a tradição artística, desafiando convenções e criando novos significados.
A presença física de Mury em suas obras é essencial para a construção de sua linguagem artística. Ele se coloca como sujeito e objeto, fundindo-se com personagens da cultura popular, mitos históricos e até mesmo elementos da natureza. Para Gutman, o corpo de Mury desempenha um papel importante em sua estética, sendo uma expressão da vulnerabilidade e da autenticidade humana. Através do corpo despido, Mury revela camadas emocionais e transcende as fronteiras do que é convencionalmente aceito.
Mury é um artista que não teme transgredir as normas estabelecidas e experimentar novas formas de expressão. A Historiadora da Arte Elisa Byington aponta que sua abordagem desafia convenções, seja através da apropriação, do pastiche, do kitsch ou da ironia. Ele desloca o vetor histórico da arte, recontextualizando obras de arte do passado e desconstruindo-as com uma visão contemporânea. Sua obra é um convite à reflexão e à ampliação dos limites estéticos e conceituais.
Ao se deparar com as obras de Alexandre Mury, o Historiador e Curador Roberto Conduru salienta que o observador é confrontado com um universo artístico rico em referências, subversões e questionamentos. Através de sua linguagem visual e conceitual, Mury estimula o público a refletir sobre sua própria identidade, sobre os padrões estabelecidos pela sociedade e sobre a natureza da própria arte. Suas obras impactam emocional e intelectualmente, convidando o espectador a se engajar em um diálogo profundo e pessoal.
Alexandre Mury é um artista multifacetado que utiliza a fotografia conceitual e o autorretrato como ferramentas poderosas para explorar questões de identidade, cultura e história da arte. Sua obra transgressora e experimental desafia convenções, estabelecendo um diálogo provocativo com o passado e o presente. Ao inserir sua presença física nas obras, ele cria uma conexão íntima com o espectador, despertando reflexões e emoções profundas.
Texto: Visão poética da obra de Alexandre Mury (Texto de 2020)
O tempo se dissolve em um eco de memórias, aí surge o opus majestoso do artista Alexandre Mury. A fotografia se desvela das telas e esculpidos, ele não apenas pinta ou esculpe, mas tece fios de narrativas etéreas, entrelaçando passado e presente em frouxos nós. Seus autorretratos são como espelhos mágicos, refletindo não apenas a imagem física, mas os anseios mais profundos da alma humana. Neles, a trama do tempo se desfaz, e o passado dança com o presente em um dueto eterno.
Cada obra é um portal para um mundo além, onde a realidade se desdobra em camadas de significado, como as páginas de um livro que sussurra segredos ao vento. Mury mergulha nas complexidades simbólicas, onde os objetos se transformam em arquétipos e os elementos adquirem vida própria, conduzindo-nos através dos labirintos do ser. Em suas mãos habilidosas, o tempo se curva e se contorce, tornando-se maleável como argila. Ele desafia os limites da realidade, transmutando o comum em extraordinário, o trivial em sublime. Cada obra é uma ode à humanidade, um testemunho silencioso de nossa busca pela transcendência.
Mury é um alquimista dos sentimentos, destilando a essência da emoção, onde o melancólico se mistura ao jubiloso, e o efêmero se funde ao eterno. Como um poeta das formas, ele nos convida a desvendar os enigmas do universo, a sentir além do que os olhos podem ver. Assim, ao contemplar as criações de Alexandre Mury, somos levados a uma jornada interior, onde as fronteiras entre arte e vida se dissolvem, e nos tornamos parte de algo maior do que nós mesmos. Pois, como ele nos lembra, a verdadeira arte não é apenas uma expressão estética, mas um acesso para a alma, um eco eterno na vastidão do universo.
Texto: Mury e o Campos Expandido na Arte do Autorretrato e da Intervenção (Texto de 2024)
Alexandre Mury percorre uma trajetória rara na arte contemporânea: partindo de uma fotografia performática incisiva, evolui para intervenções urbanas e digitais que, sem abrir mão de sua essência, transformam e amplificam o impacto de sua obra. No início, Mury desenvolveu uma linguagem visual singular no autorretrato performático, evocando tanto a reverência quanto a ironia em relação a ícones culturais e imagens consagradas da história da arte. Sua fotografia nunca foi apenas um registro de performances, mas um ato de escultura visual e narrativa onde o artista se apropria, altera e recontextualiza símbolos que ecoam questões de identidade, memória e cultura. Trabalhos como Abaporu (2010) ou Cristo Redentor (2011) exemplificam esse interesse pela subversão das imagens clássicas, imbuindo-as de uma crítica mordaz e sensível ao universo cultural brasileiro.
À medida que sua obra amadurece, Mury se afasta das representações fotográficas puramente performáticas e adentra um campo expandido de possibilidades tecnológicas e estéticas. As suas recentes ocupações urbanas e digitais não representam uma ruptura, mas uma expansão lógica, na qual o artista converte o espaço público e o ambiente virtual em cenários de intervenção crítica. Suas inserções em plataformas como o Google Maps, ou obras de realidade aumentada, desafiam a percepção de limites entre o real e o simbólico, colocando o público como participante de uma experiência que mistura a arte relacional e a performance digital. Ao substituir o pedestal monumental por objetos ordinários e jogar com a efemeridade das imagens digitais, Mury descontrói os objetos de veneração cultural, deslocando-os para o cotidiano e, simultaneamente, questionando a própria estrutura da arte como instituição.
Mury mantém sua essência crítica em um movimento que dialoga, com precisão, com as grandes linhas de pensamento contemporâneo. Inspirado por uma crítica cultural de caráter visceral, ele explora a justaposição entre corpo e imagem, efêmero e permanente, sagrado e profano. Não é o mero experimentalismo que o define, mas uma continuidade da investigação sobre o papel da arte como espelho e agente de uma sociedade em constante mutação. Em seu uso de tecnologias, o artista não se alinha a uma fetichização do novo; ao contrário, ele potencializa o aparato tecnológico para abrir camadas de leitura sobre o poder, o consumo de imagens e a apropriação da cultura popular, realizando um trabalho que é, ao mesmo tempo, poesia visual e crítica estrutural.
A produção de Mury, em suas diferentes fases, evoca influências que vão da "Antropofagia" de Oswald de Andrade ao diálogo com movimentos pós-modernos que incluem a "Pictures Generation" e a "Arte Relacional", embora transcenda qualquer categorização simplista. Sua habilidade de intercalar o banal e o monumental gera uma tensão produtiva, onde cada obra é uma incitação ao público para revisitar suas próprias crenças culturais. Na obra de Mury, o autorretrato torna-se múltiplo e coletivo, um palimpsesto onde o espectador também se vê refletido.
Em suma, Alexandre Mury não apenas ocupa espaços, mas os transforma e os subverte, criando uma arte inquieta e profundamente ancorada nas questões urgentes do contemporâneo. Ele mantém o que lhe é essencial – uma crítica irônica e sensível ao imaginário cultural – enquanto explora, de modo inovador, as fronteiras entre o físico e o virtual, o artístico e o político. É este equilíbrio entre tradição e transformação que faz de sua obra uma contribuição indispensável para a arte do presente e, inevitavelmente, do futuro.
Coleções Importantes
Coleção Gilberto Chateaubriand — MAM-RJ (Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro), Rio de Janeiro, RJ – Brasil.
Coleção Joaquim Paiva, Rio de Janeiro, RJ — Brasil.
Coleção de Paula e Silvio Frota — MFF (Museu da Fotografia Fortaleza), CE — Brasil.
MAR (Museu de Arte do Rio), Rio de Janeiro, RJ — Brasil
Acervo Performatus — Coleção de Hilda de Paulo e Tales Frey
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Programa do Jô
Programa de entrevistas comandado por Jô Soares, que conversa com personalidades da política, das artes ou dos esportes, além de brasileiros anônimos.
O artista plástico Alexandre Mury fala sobre seu trabalho fotográfico com autoretratos.
Trecho: 16 min
Gênero: Talk Show, Personalidade, Variedades
Programa foi ao ar: 27/04/2012
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