Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: Papoula
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2013
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: fotografia de autorretrato, releitura, dramatização, pintural corporal, trompe-l'oeil
Obras Relacionadas: Le Coquelicot (The Corn Poppy), 1919, Kees van Dongen
Artistas Relacionados: Kees van Dongen
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A obra "Papoula" (2013), de Alexandre Mury, é um exemplo singular da interseção entre pintura, fotografia e performance, desafiando os limites entre essas linguagens artísticas. Inspirada em "Le Coquelicot" (1919) de Kees van Dongen, a obra de Mury não apenas referencia, mas também reinventa a tradição pictórica por meio de um jogo de ilusão e crítica. Utilizando a pintura corporal como estratégia central, o artista se camufla na imagem, transformando-se ao mesmo tempo em sujeito e objeto da obra. A sobreposição entre sua identidade real e a personagem representada cria um efeito de trompe-l'oeil, evocando uma tensão visual que desafia a percepção do espectador.
A referência a "Le Coquelicot" não é meramente formal, mas conceitual. A figura feminina retratada por Van Dongen, com seu chapéu vermelho vibrante, maquiagem escura e batom marcante, representa a mulher da "La Folle Époque", período em que as garçonnes francesas e as flappers americanas simbolizavam um novo ideal de feminilidade, marcado pela independência e liberdade. Ao se apropriar dessa iconografia e transpor para si mesmo, Mury subverte as convenções de gênero e identidade, introduzindo uma nova camada de interpretação à obra.
A técnica empregada por Mury reforça a ambiguidade entre o real e o ilusório. Seus olhos reais são ocultados sob camadas de tinta, enquanto olhos pintados acima de sua anatomia criam uma dissonância perceptiva. Esse recurso lembra a exploração do olhar em "Le Testament d'Orphée" (1960), de Jean Cocteau, no qual olhos artificiais simbolizam transcendência e repressão do desejo. Da mesma forma, o olhar deslocado em "Papoula" desafia a forma como enxergamos e somos enxergados, remetendo também à obra "O Falso Espelho" (1928) de René Magritte, que questiona a própria natureza da visão.
A construção visual de "Papoula" dialoga com diferentes tradições artísticas. O efeito trompe-l'oeil evoca a obra de Giuseppe Penone, "Rovesciare i propri occhi" (1970), onde lentes espelhadas invertem a relação entre observador e observado. A fusão entre figura e fundo em Mury também se aproxima das estratégias surrealistas de Man Ray e da exploração da transparência em Francis Picabia. Ao transitar entre pintura e fotografia, Mury remete à ambiguidade explorada por artistas como Salvador Dalí, que na obra "Rosto de Mae West que pode ser usado como apartamento" (1934-35) transforma um rosto em ambiente arquitetônico, reforçando a ideia de multiplicidade perceptiva.
Ao se tornar o suporte de sua própria obra, Mury desestabiliza noções tradicionais de autoria e identidade. A presença de sua barba, quase encoberta pela tinta, cria um atrito visual com a feminilidade da personagem inspirada em Van Dongen. Esse deslocamento entre o masculino e o feminino reforça uma leitura queer da obra, alinhando-se à fluidez identitária presente em sua produção. O ato performático de Mury não é apenas um gesto de mimetismo, mas um questionamento sobre como nos construímos e somos percebidos na cultura visual.
"Papoula" transcende a simples homenagem a Van Dongen. Alexandre Mury, ao empregar pintura corporal, fotografia e performance, cria uma obra que desafia a percepção, subverte normas e insere sua produção em um contínuo diálogo com a história da arte. A obra não apenas reflete sobre a tradição pictórica, mas também expande suas possibilidades, transformando o próprio corpo em um território de experimentação e crítica. Assim, "Papoula" se estabelece como uma peça fundamental na contemporaneidade, explorando as múltiplas camadas de identidade, ilusão e representação.
Com seu chapéu vermelho vibrante, que era popular na época; a maquiagem escura nos olhos, dando contornos misteriosos; a boca pequena, de lábios pronunciados no batom vermelho — tornam uma figura feminina definitiva do período “La Folle Époque” (anos loucos). Na década de 1920, eram conhecidas como as garçonnes na fraça; flappers, nos Estados Unidos; e melindrosas, no Brasil. Uma época de mais liberdade independência para as mulheres — elas eram fiéis a si mesmas.
Em 1917, Kees van Dongen, enquanto morava sozinho em Paris, iniciou um relacionamento com uma socialite casada, a diretora de moda Léa Alvin, também conhecida como Jasmy Jacob. Ela provou ser o canal entre van Dongen e as classes altas e, por meio de suas apresentações, surgiram inúmeras encomendas de retratos.
Kees van Dongen logo ganhou reputação por seus retratos sensuais. Quando alcançou a popularidade começou a pintar retratos das mulheres da alta sociedade. Algumas das obras mais famosas do pintor retratam celebridades da moda, incluindo a atriz francesa Brigitte Bardot. Àquelas que diziam «não estou parecida», respondia: Quando alguém se deixa pintar por um pintor célebre, só lhe resta uma hipótese: tornar-se parecida com o retrato.
O artista começou seus estudos na Academia Real de Belas Artes de Rotterdam, muda-se para Fraça em 1918. Van Dongen foi influenciado fortemente por seu envolvimento inicial com Henri Matisse e os Fauves. Seu estilo distinto de pintura também tem origem nos desenhos satíricos que fez para jornais no início de sua carreira. Van Dongen começou desenhando cenas de marinheiros e prostitutas. Ele ilustrou, em 1901, uma edição inteira de L'Assiette au beurre, uma revista que se dedicava à política e questões sociais, o tema de então era a prostituição sob a perspectiva das condições das prostitutas — a prostituição na Paris contemporânea como um fenômeno sintomático da degeneração da burguesia.
O olhar dos personagens de Jean Cocteau com olhos pintados, que parecem estar sempre olhando para um objeto desconhecido, que nunca piscam, mas que, no entanto, parecem ver algo no vazio — Na trama que narra a morte e ressurreição do poeta, Le Testament d'Orphée (1960), Jean Cocteau interpreta a si mesmo, misturando sonho e realidade, passado, presente e futuro num mundo onde reina a estética. É considerada a parte final de uma trilogia, seguindo "Le sang d'un poète" (1930) e "Orphée" (1950).
Cocteau descreve Édipo e Orfeu como figuras que assombram sua criação, das quais ele não pode escapar. Édipo é, em certo sentido, o duplo de Orfeu. Na filmografia de Cocteau, o uso de olhos artificiais representa o olhar interior, morte e transcendência — suas pálpebras fechadas com os olhos pintados também são uma metáfora da repressão dos desejos íntimos.
Apontando a câmera para uma direção enquanto tirava a foto na outra
— Strand executou uma série de retratos de rua espontâneos com uma câmera manual equipada com uma lente falsa.
"Quando eu conhecer sua alma, pintarei seus olhos” são as palavras mais citadas de Amedeo Modigliani , que ficaram famosas por um filme biográfico com Andy Garcia.
Léopold Survage perguntou, ao ver o retrato que Modigliani acabara de fazer dele:
“Por que você só me deu um olho?”
Modigliano respondeu:
“Porque olhamos o mundo com um olho e com o outro, olhamos para dentro de nós mesmos. "
Em outra ocasião Modigliani dirá:
"Olhos sem pupilas, na minha opinião, não tiram a alma de seus donos. No entanto, eles os tornam menos acessíveis para nós e mais afundados em seu próprio mundo interior."
No início dos anos 1970, Giuseppe Penone usou seu corpo como tema principal. Em 'Rovesciare i propri occhi' (Inverter os olhos), o jovem artista italiano usa lentes de contato espelhadas, feitas sob medida, tornando-o cego e oferecendo ao observador a sua visão. As superfícies sensíveis da córnea deixam de ser “ janelas da alma ” para se tornarem telas convexas para o ver-se a si mesmo no outro.
Quando Escher desenhou o esboço para esta obra, ele criou olhando para ele mesmo em um reflexo. Sentiu que era necessário e lógico transmitir alguém, um observador refletido no espelho convexo do olho, e então decidiu desenhar uma caveira também. Explicou: “todos nós somos confrontados com a morte, gostemos ou não”.
'Olho' é uma obra de arte única cujo jogo de luz e sombra, perspectiva e forma, convida o espectador a contemplar os mistérios do olho humano como uma janela para a alma. Nesta obra, Escher mostra o domínio da técnica e seu interesse pela ilusão e percepção de ótica. Escher contribuiu para o desenvolvimento do surrealismo e do expressionismo, e é mais conhecido por seu trabalho pioneiro no cubismo e por fraturar o plano bidimensional da imagem.
O céu parece visto através de uma janela circular, em vez de espelhado na superfície líquida esférica de um olho, não apresenta nenhum traço de convexidade. O fotógrafo surrealista Man Ray já foi dono de 'O Falso Espelho', que ele descreveu de forma memorável como uma pintura que “vê tanto quanto ela mesma é vista”.
A apropriação do borrão e do desfoque acidental na fotografia pelos artistas do século XX permitiu a liberdade de explorar novas formas de representação visual. Man Ray adicionava um elemento de imprevisibilidade e transformava as imagens em algo mais surreal. Ele busca ir além dos limites tradicionais da fotografia, explorando técnicas como a solarização, queima, dupla exposição e sobreposição para criar efeitos visuais únicos e incomuns.
A Marquesa Casati, conhecida por sua exuberância e extravagância, foi uma musa e mecenas que atraiu a atenção de diversos artistas, incluindo Man Ray. Ela era uma figura marcante do início do século XX e foi imortalizada em retratos feitos por vários pintores, assim como em fotografias de Man Ray.
A Marquesa Casati era famosa por suas festas e seu estilo de vida luxuoso, que atraíam aristocratas, intelectuais, poetas e artistas. No entanto, sua vida extravagante e as dívidas acumuladas levaram à sua ruína, e ela morreu na miséria em 1957.
Em 1925, Francis Picabia estabeleceu residência na Côte d'Azur, mais especificamente em Mougins, próximo a Cannes. Essa mudança ocorreu devido ao seu descontentamento com o ambiente artístico de Paris. Durante esse período, ele desenvolveu um novo estilo pictórico que ele mesmo definiu como "monstros e transparências". Mais tarde, Picabia retornou ao surrealismo.
As obras dadaístas de Picabia e seu fascínio pela transparência e opacidade influenciaram suas estratégias de pintura nas décadas de 1920 e 1930. Ele utilizou técnicas de camadas, mascaramento e sobreposição, buscando inspiração em fenômenos naturais, afrescos românicos, pintura renascentista e arte catalã. Na série chamada de "Transparências" Picabia complexifica a concepção de arte como uma janela ou reflexo direto do mundo. Em vez disso, ele procurou criar uma interação surreal de imagens que desafiasse as interpretações tradicionais e imediatas.
Nesta obra são duas fotografias sobrepostas, onde o assunto é o artista surrealista, Max Ernst. Ao combinar um retrato com a imagem de uma parede corroída, Sommer gerou imagens reais para criar uma que não existe na realidade. Sommer explorou os limites da abstração e da representação, assim como se desafiou por meio de exercícios formais na relação de cores, linhas e espaço compositivo.
No variado corpo de trabalho de Frederick Sommer fica demonstrada a influência de suas amizades com outros artistas. Sua amizade com Max Ernst, cujas técnicas de pintura automática e imagens misteriosas encorajaram Sommer a reconfigurar objetos familiares em novas e estranhas criações. Sua abordagem inclue a influência de Man Ray ao fotografar montagens e sua exploração da abstração
Tomando como base uma página de revista, Dali fez uma extravagante intervenção com lápis, guache e colagem. Esta é uma representação da atriz, dramaturga e cantora americana, Mae West, uma controversa diva e "sex symbol" da época. A obra de Dalí confunde um rosto com o interior de uma sala e seus móveis: seu nariz se torna a lareira, seus lábios o sofá, seus olhos um par de pinturas na parede e seus cabelos as cortinas.
Edward James, um poeta britânico e patrono da arte surrealista, encomendou os primeiros sofás Mae West, que desde então foram copiados, modificados, revisitados, reproduzidos e vendidos sob diferentes nomes por vários fabricantes de móveis e designers.
Produzido pelo poeta e colecionador Edward James e por Dali em 1938, a sala composta por 2 quadros do artista, uma lareira e o sofá - olhos, nariz e boca - é uma reprodução da obra de Salvador Dali. O mobiliário está exposto no Dali Museum.