Lúcifer | 2011

Detalhes / OBRA DE ARTE


Título: Lúcifer

Criador: Alexandre Mury

Data de criação: 2011

Tipo: fotografia

Meio: C-print (impressão cromogênica)


Período da Arte: Contemporâneo

Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática

Assunto: autorretrato, releitura, demônio, Lúcifer, vermelho, luz e sombra

Obras Relacionadas: Lucifer, 1890, Franz von Stuck

Artistas Relacionados: Franz von Stuck



  Palavras-chave

#releitura #tableauvivant #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira


______________
Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal  de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
 Performance do artista Alexandre Mury encenando uma releitura da obra de Franz von Stuck, Lucifer, 1890
Título da obra: LúciferCriador: Alexandre MuryData de criação: 2011Fotografia / Autorretrato performático© Alexandre Mury

A obra "Lúcifer" (2011) de Alexandre Mury é uma performance fotográfica que reinterpreta a pintura homônima de Franz von Stuck, datada de 1890. Nesta releitura, Mury utiliza seu próprio corpo como meio de expressão, explorando temas como representação, emoção e a ressignificação de mitos na contemporaneidade.


A pintura "Lúcifer" de Franz von Stuck apresenta o anjo caído em uma pose contemplativa, com asas semelhantes às de um morcego e uma expressão enigmática. Mury recria essa imagem através de elementos contemporâneos: o guarda-chuva substitui as asas, e uma lanterna de pilhas posicionada à frente da câmera adiciona um toque moderno à composição. Essas escolhas não apenas homenageiam a obra original, mas também introduzem uma camada de ironia e questionamento sobre a representação do mal e do demoníaco na cultura visual.


Franz von Stuck foi um dos fundadores da Secessão de Munique, movimento que buscava renovar a arte alemã no final do século XIX. Sua obra "Lúcifer" reflete o interesse da época por temas simbólicos e pela exploração do inconsciente. Ao revisitar essa pintura, Mury dialoga com a tradição simbolista e questiona a relevância desses mitos na sociedade contemporânea. Sua performance insere-se na prática do tableau vivant, onde o artista encarna personagens ou cenas, fundindo performance e fotografia para criar novas narrativas. A obra de Mury pode ser analisada à luz da filosofia existencialista, especialmente as ideias de Jean-Paul Sartre sobre a construção da identidade e a responsabilidade individual. Ao se identificar com Lúcifer, Mury explora a liberdade humana e as consequências de nossas escolhas, desafiando as normas sociais e culturais.


O tema reflete a dualidade humana, o livre-arbítrio e a natureza do mal. Ao se colocar na posição do "outro", Mury provoca o espectador a confrontar suas próprias concepções sobre moralidade e identidade. A escolha de representar Lúcifer, figura que personifica a rebeldia e a queda, permite a Mury explorar temas como a dualidade entre o bem e o mal, a beleza e a feiura, e a construção cultural do medo. Ao utilizar objetos cotidianos, como o guarda-chuva e a lanterna, ele desmistifica a imagem do demônio, trazendo-o para o contexto mundano e sugerindo uma reflexão sobre como os símbolos são construídos e perpetuados. 


A performance "Lúcifer" de Alexandre Mury é uma releitura provocativa que une referências históricas a uma abordagem contemporânea. Ao incorporar elementos modernos e pessoais, Mury não apenas homenageia a obra de Franz von Stuck, mas também convida o espectador a refletir sobre a construção de mitos, a representação do mal e a influência dessas narrativas na cultura atual. Sua obra destaca-se pela capacidade de fundir técnica e conceito, oferecendo uma visão crítica e inovadora sobre temas atemporais.

Lucifer" é uma pintura a óleo de Franz von Stuck que retrata a figura mitológica de Lúcifer, um anjo caído, em um fundo escuro e sombrio. A figura é representada com asas de morcego e chifres, e seu olhar é intenso e penetrante. A pintura é conhecida por sua representação dramática e simbólica do mal e da queda.
Natoinal Gallery, Sofia, Bulgaria


Franz von StuckLucifer1890–1891Óleo sobre tela161 x 152.5 cmNatoinal Gallery, Sofia, Bulgaria

As pinturas de Franz von Stuck, de modo geral, alegóricas e simbólicas foram influenciadas por Böcklin e Klinger. Na obra,  Lúcifer, a figura com a cabeça apoiada na mão, possivelmente, seja uma referência ao introspectivo Pensador de Auguste Rodin.  


Von Stuck, fez algumas versões: uma pequena, como estudo prelimiar;  uma gravura e a pintura a óleo, maior  —  que foi comprada pelo rei Fernando da Bulgária, Em 1891. Na época, dizia-se que alguns de seus cortesãos faziam o "sinal da cruz" sempre que passavam diate do quadro.




Franz von StuckEstudo para Lúcifer1890òleo sobre tela29 x 25,5 cmKunkel Fine Art
Gravura de Franz von Stuck, Lucifer, 1890
Musée des beaux-arts du Canada 


Franz von StuckLucifer1890Musée des beaux-arts du CanadaEtching on chine collé on wove paper23,4 x 20,9 cm Musée des beaux-arts du Canada 
Estudo de Retrato Masculino por Franz von Stuck
Museu Wiesbaden

Franz von StuckMännliche Porträtstudie (Das böse Gewissen)Estudo de Retrato Masculino (A Consciência do Mal)1896Óleo sobre tela50 x 46,5 cmMuseu Wiesbaden, Alemanha
Commons, Domínio público


Albrecht Dürer Melancolia I1514Gravura24,1 x 19,1 cmThe Metropolitan Museum of ArtInventário: 43.106.1

A gravura de Albrecht Dürer, "Melancolia I", é uma obra complexa e rica em simbolismo, que tem sido objeto de diversas interpretações ao longo dos séculos. Criada durante o Renascimento alemão, a obra retrata uma figura feminina alada, sentada em meio a um cenário de ferramentas e objetos geométricos. Seu olhar é pensativo e introspectivo, transmitindo um sentimento de tristeza e introspecção. Muitos estudiosos veem a gravura como um autorretrato espiritual de Dürer, o que levanta uma questão interessante sobre a identidade de gênero da figura.


A filosofia medieval associava a melancolia a um dos quatro humores, a bile negra, e considerava os melancólicos propensos à loucura. Em contraste, o pensamento renascentista valorizava a melancolia como um estado de espírito favorável à criação artística e intelectual. Dürer, como artista e intelectual renascentista, pode ter buscado conciliar essas duas visões da melancolia em sua obra.


No entanto, a obra de Dürer também pode ser interpretada como uma reflexão sobre a condição humana, a busca por conhecimento e sentido na vida, e a relação entre melancolia e gênio criativo. A gravura "Melancolia I" apresenta uma variedade de instrumentos e ferramentas, incluindo um compasso, um esquadro, um martelo, uma balança, um relógio de areia e um poliedro. Esses objetos podem ser interpretados como símbolos da geometria, da matemática, da ciência e da arte, representando a busca por conhecimento e sabedoria.  No entanto, a presença desses objetos também pode expressar a frustração e a impotência diante da complexidade do mundo e da natureza humana.

pintura de George Dawe, com o título de O Demoníaco
© Photo: Royal Academy of Arts, London.


George Dawe RAThe Demoniac (O Demoníaco)1811óleo sobre tela174 cm x 130 cmRoyal Academy of Arts

No canto inferior direito da pintura, pode-se ver algemas quebradas, um osso, e o que parece ser, um crânio de animal possivelmente de um porco. Estes elementos, dão pistas para acreditar que a pintura seja baseada na história do Novo Testamento: 'Exorcismo do endemoninhado geraseno', conforme relatado nos Evangelhos.




Jean-Jacques FeuchèreSatan1833Bronze34,3 cmClark Art Institute

A escultura representa Satã (Lúcifer) após sua expulsão do céu, sentado em postura melancólica com suas asas envolvendo seu corpo. Ele segura uma espada quebrada e apoia a cabeça em uma das mãos, simbolizando sua derrota e impotência. A obra é considerada emblemática do Romantismo Francês, movimento que privilegiava emoção, imaginação e fantasia.


Originalmente concebida como parte central de uma decoração de lareira, a peça seria acompanhada por dois vasos em forma de morcego. Sua composição foi influenciada pela "Melancolia" de Dürer (c.1514), e se insere em um contexto maior de fascínio romântico por temas satânicos, inspirados por obras como a "Divina Comédia" de Dante, "Paraíso Perdido" de Milton e "Fausto" de Goethe. Essa representação influenciou escultores posteriores, incluindo Auguste Rodin. Embora não possamos afirmar categoricamente que Feuchère influenciou diretamente Rodin, a pose melancólica e reflexiva de "Satan" é frequentemente comparada à de "O Pensador" de Rodin, sugerindo uma possível inspiração. 

Escultura em bronze, O Pensador, de Rodin.



Auguste Rodin"Le Penseur" [O Pensador]1881 (concepção original)Bronze71,5 x 45 x 58,5 cmMusée Rodin, Paris, FrançaInventário: S.161

Originalmente intitulada "Le Poète" [O Poeta], a obra foi concebida como representação de Dante Alighieri para "A Porta do Inferno". Esta versão em bronze do Musée Rodin é uma das primeiras fundições da obra, antes de sua ampliação para escala monumental em 1904. É uma das peças fundamentais da coleção do museu e um dos mais importantes estudos do que viria a se tornar uma das esculturas mais icônicas da história da arte.





Joseph Geefs"Le Génie du Mal" [O Gênio do Mal/Lúcifer]1842Mármore brancoAproximadamente 165 cm de alturaMusées Royaux des Beaux-Arts (Museus Reais de Belas Artes) em Bruxelas, Bélgica.

Esta foi a primeira versão da escultura, comissionada para a Catedral de São Paulo em Liège. Permaneceu na catedral de 1842 até 1848, quando foi removida por ordem do bispo devido à sua beleza considerada inadequadamente sedutora para um ambiente religioso. Foi a primeira tentativa de representar o tema do "anjo caído" na catedral, antes de ser substituída pela versão mais austera de Guillaume Geefs.




Guillaume Geefs"Le Génie du Mal" [O Gênio do Mal/Lúcifer]1848Escultura em mármore brancoAproximadamente 165 cm de alturaCatedral de São Paulo, Liège, Bélgica

Esta escultura foi encomendada para substituir uma versão anterior criada pelo irmão de Guillaume, Joseph Geefs, que foi removida por ser considerada muito sedutora e inadequada para um ambiente religioso. A versão de Guillaume mantém a beleza clássica, mas adiciona elementos que enfatizam mais claramente a natureza caída da figura, como as correntes quebradas aos seus pés e uma expressão mais atormentada.

Lúcifer, Rei do Inferno, ilustração por Gustave Doré, para o Canto XXXIV, da Divina Comédia, Inferno, de Dante Alighieri
Wikimedia Commons, Domínio público

Gustave Doré Lúcifer, Rei do Inferno1861–1868GravuraIlustração para o Canto XXXIV da Divina Comédia, Inferno, de Dante Alighieri

Lúcifer, do Latim (lucem ferre) traduz-se como "portador de luz",  é o nome dado ao anjo caído, da ordem dos Querubins, como descrito no texto Bíblico, do Livro de Ezequiel, no capítulo 28.  Lúcifer foi identificado como Diabo e Satanás no cristianismo e também na literatura  — como em "Inferno" de Dante Alighieri e "Paraíso Perdido" de John Milton.  

Satã, de Gustave Doré, Ilustração para “Paradise Lost” de John Milton
Wikimedia Commons, Domínio público


Gustave DoréSatã, Adão e EvaIlustração para “Paradise Lost” de John Milton1866Gravura O Earth, How Like to Heaven, if not Preferred More Justly (Livro 9, 99-100)
Wikimedia Commons, Domínio público


Gustave Doré"The Fall of Lucifer" [A Queda de Lúcifer]1866GravuraDimensões originais da página: aproximadamente 38 x 28 cmIlustração para "Paradise Lost" de John Milton. Cassell, Petter, and Galpin, Londres, 1866.


Franz von StuckMedusa1892 Óleo sobre tela Museen der Stadt Aschaffenburg, Gentil-Haus 


Arnold Böcklin Medusa1878Óleo sobre madeira39 × 37 cmGermanisches Nationalmuseum 

Autor desconhecidoMarte de ZeugmaSéculo II d.C. Bronze, com olhos de ouro e prata. Altura: 1,45 metrosZeugma Mosaic Museum, Gaziantep, Anatólia.

Marte, o deus da guerra, representado nesta escultura de bronze, foi encontrado na antiga cidade de Zeugma, em 2000. O rosto carrancudo do jovem é marcado pela testa franzida, as sobrancelhas fortemente contraídas e um olhar muito intenso, realçado por incrustações de prata e ouro em volta das pupilas.

Obra de arte, pintura que representa Satanás convocando sua legião. Arte por Sir Thomas Lawrence.
© Foto Royal Academy of Arts, Londres. Fotógrafo Marcus Leith.


Sir Thomas LawrenceSatanás convocando suas legiões1796-1797Óleo sobre tela. 431,8 cm x 274,3 cm. Royal Academy of Arts, Londres
© Musée Fabre de Montpellier Méditerranée Métropole


Alexandre CabanelO Anjo Caído (L'Ange déchu, no original em francês)1847Óleo sobre tela121 cm x 189,7 cmMuseu Fabre, Montpellier, FrançaInventário: 889.2.1

O próprio Cabanel comenta o assunto que o assombra em uma carta endereçada ao seu amigo e patrono de Montpellier, Alfred Bruyas:

 "Eu retrato duas naturezas, duas raças, uma inexoravelmente condenada, predestinada ao mal e ao infortúnio, para finalmente cair; enquanto a outra casta e pura se eleva radiante em direção a Deus glorificando-o. Agora, o tema principal da minha pintura é o gênio do mal, Satanás! Sobre quem, no passado, Deus se agradou de derramar as graças da beleza divina; hoje um poder quebrado curvando a cabeça diante de seu criador e mestre, a quem ousou se tornar um rival. Ele esconde a vergonha da derrota, porém, sempre orgulhoso, desesperado, vingativo."


© © Stanford University. Stanford, California 94305.


Jackson PollockLúcifer1947Óleo e esmalte sobre tela109,7 x 268 cm Anderson Collection at Stanford University

Jackson Pollock, em 1947, criou a obra "Lúcifer", uma obra seminal e uma peça emblemática do expressionismo abstrato que exemplifica sua técnica inovadora de "dripping" ou "action painting". Nessa abordagem, Pollock derramava e respingava tintas industriais sobre uma tela disposta horizontalmente, permitindo-lhe gerar composições dinâmicas e integradas que rompem com as estruturas narrativas tradicionais.


O título "Lúcifer" refere-se ao anjo caído,  aquele que desejando igualdade com Deus e incitando outros anjos a se rebelaram contra Deus. A escolha desse nome por Pollock pode ser interpretada como uma metáfora para o ato da tinta caindo sobre a tela, simbolizando uma "queda" que resulta na criação de algo novo e iluminado. Além disso, o termo "Lúcifer" deriva do latim "lux" (luz) e "ferre" (portar), significando "portador da luz". Nesse contexto, a obra pode ser vista como uma representação da iluminação criativa e do surgimento de uma ideia revolucionária na arte. 

"Que demônio benévolo é esse que me deixou assim envolto em mistério, em silêncio, em paz e perfumes?"

  Charles Baudelaire

© Foto de Paulo Jabur

Alexandre Mury e a obra (autorretrato como Lúcifer)Abertura da exposição "Ver e Ser Visto"Dia 15, de abril, de 2015Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RIO)