O mundo de Cristina | 2014

Detalhes / OBRA DE ARTE


Título: O mundo de Cristina

Criador: Alexandre Mury

Data de criação: 2014

Tipo: fotografia

Meio: C-print (impressão cromogênica)


Período da Arte: Contemporâneo

Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática

Assunto:  fotografia de autorretrato,  camuflado, verde oliva, militar, vestido, reclinado, gramínea

Obras Relacionadas: Christina’s World, 1948, Andrew Wyeth

Artistas Relacionados: Andrew Wyeth



  Palavras-chave

#autorretrato #releitura #tableauvivant #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira


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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal  de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
Título da obra: O mundo de CristinaCriador: Alexandre MuryData de criação: 2014Fotografia / Autorretrato performático© Alexandre Mury
Pintura intitulada Christina's World, criada em 1948 pelo artista americano Andrew Wyeth. A imagem retrata uma mulher de costas com um vestido rosa, deitada no campo, olhando para uma casa distante. O cenário é composto por uma paisagem rural, com grama alta, árvores e uma cerca de madeira. A obra é uma das mais famosas da arte americana e representa um marco no realismo regionalista.
© 2012 Andrew Wyeth

Andrew WyethChristina’s World1948Têmpera sobre painel81,9 x 121,3 cmMOMA, The Museum of Modern Art, New York

Embora Christina seja o tema desta obra de arte, Andrew Wyeth usou Betsy James Wyet, sua esposa, como modelo. A pessoa que inspirou a composição e está representada na obra, foi a vizinha de Wyeth, Anna Christina Olson. 



De costas para o espectador, a personagem olha para longe, usando os braços para arrastar a parte inferior do corpo. Talvez pareça estar em posição de repouso  — mas ela sofria de uma doença muscular degenerativa possivelmente poliomielite, Cristina não conseguia andar.

A figura parece vulnerável e isolada no campo aberto, poderia ser meramente uma cena idílica e kitsch. Mas o pintor de estilo regionalista revela, no título da obra, o significado interno de seus temas. Ele desenvolveu muita intimidade com local onde morava e buscou uma compreensão espiritual baseada em histórias e emoções vividas.



Christina's World tornou-se uma imagem icônica do realismo. A cena embuídas de mistério não é puramente documental ou ilustrativa. A atmosfera sentimental da vida rural que desperta nostalgia, pressentimentos e suspense inspirou novas gerações de artistas e cineastas.

Cena arcadiana, pintura de Thomas Eakins, mostra uma mulher reclinada na grama em uma paisagem idílica..
Thomas EakinsNa Arcádia1883Óleo sobre Lona140 × 180 cmColeção particular
Cianotipo de Thomas Eakins que serviu de estudo preparatório para a  série de obras conhecidas como arcadianas
No known copyright restrictions
Thomas EakinsSusan Mcadowell Eakins nua, sentada, olhando por cima do ombro direito.1883Fotografia, Cianótipo8,89 x 11,2 cmColeção Thomas Eakins de Charles BreglerPennsylvania Academy of the Fine Arts 

A ecolha do tema idílico e pastoral para desenvolver uma série de trabalhos, vinha do interesse por temas clássicos  —  mas sem os artifícios narrativos típicos e modelos idealizados. O ser humano sempre foi eixo temático de Thomas Eakins. O artista que procurava pintar o retrato e a figura de forma realista  —  frequentou cursos de anatomia e dissecção  —   tamanho era o interesse científico no corpo humano.



Thomas Eakins dava aulas de pintura e desenho na Academia de Belas Artes da Pensilvânia. A série de obras arcadianas declarava seu compromisso com o nu como base da arte e do ensino de arte. Eakins fotografou ao ar livre, vários modelos, em várias poses e usou as fotografias como estudos para muitos trabalhos subsequentes   —  inclusive,  a  pintora e fotógrafa americana, Susan Macdowell Eakins, que foi sua aluna e esposa,  serviu de modelo.



Eakins criou a série arcadiana e trabalhou em quase vinte esculturas, pinturas e fotografias que estão tematicamente interligadas. Ele usou seus amigos, familiares e alunos como modelos, muitas das fotografias foram usadas como investigação precisa da forma humana e do mundo natural, sendo reconhecido como um dos mais importantes artistas do realismo. 

Obra de arte, de Frida Kahlo, autorretrato deitada numa panície árida, com plantas nascendo de dentro do seu peito e alastrando pelo chão.
© 2015 Banco de México. Diego Rivera Frida Kahlo Museums Trust/Artist Rights Society/NYC. 

Frida Kahlo Raízes1943 30 x 50,3 cmóleo sobre metalColeção particular______________

De uma grande abertura em seu torso saem ramos com folhagens carregando fluxos de sangue pelo chão, como se estivesse alimentando a terra e presa a ela. No autorretrato, reclinada em uma paisagem árida há o forte elemento autobiográfico, muito constante na pintura de Frida Kahlo. Ela disse: “Eu me pinto porque muitas vezes estou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.



Aos seis anos, Frida contraiu poliomielite, o que deixou sua perna direita mais fina do que a esquerda. Mais tarde, ela cobriu essa deformidade com vestidos longos e coloridos. Frida usou a pintura para processar sua dor durante os períodos de recuperação e cura. 


Aos 18 anos, um acidente fraturou sua coluna, costelas e pélvis. Ninguém acreditava que Frida Kahlo sobreviveria —  mais de 30 cirurgias e sofreu várias complicações ao longo da vida. Muitas de suas pinturas evidenciam que ela viveu grande parte de sua vida engessada e com aparelhos de suporte presos ao corpo. 



Os autorretratos de Frida Kahlo muito influentes no empoderamento feminino, refletem a interioridade da artista, a cultura e vida no México, bem como debates atuiais sobre o decolonial. Kahlo foi associada ao primitivismo, indigenismo, realismo mágico e surrealismo. 

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"El milagro vegetal del paisaje de mi cuerpo es en ti la naturaleza entera. Yo la recorro en vuelo que acaricia con mi dedos los redondos cerros, penetran mi manos los inébrios vales en ansias de posesión y me cubre el abrazo de las ramas suaves, verdes y frescas. Yo penetro el sexo de la tierra entera, me abrasa su calor y en mi cuerpo todo roza las frescura de las hojas tiernas."  


  Frida Kahlo
obra de arte, pintura de um pavão entre as folhagens causando um efeito de camuflagem.
Creative Commons Zero (CC0).


Abbott Handerson Thayer e Richard S. MerymanPeacock in the Woods, estudo para o livro Ocultando Coloração no Reino Animal1907óleo sobre tela114,9 x 92,4 cmSmithsonian American Art Museum
 

Por volta de 1892, Abbott Handerson Thayer começou a estudar como certos animais se misturam perfeitamente com o seu ambiente natural. Para ilustrar sua teoria, ele e seu jovem assistente Richard Meryman pintaram, em 1907 "Peacock in the Woods" para o livro "Concealing Coloration in the Animal Kingdom", publicado em 1909.



Thayer é considerado o pai da camuflagem e teve um amplo impacto sobre o seu uso militar durante a Primeira Guerra Mundial. Embora ele não tenha inventado a camuflagem, foi um dos primeiros a escrever sobre o assunto. Abbott Handerson Thayer foi um artista, naturalista e professor americano. Seu trabalho se concentrou na pintura de animais e paisagens. Suas pinturas de 'anjos', alguns dos quais utilizaram seus filhos como modelos, se tornaram muito conhecidas. Os dois filhos  mais jovens, Gerald e Gladys, compartilharam totalmente o entusiasmo de seu pai, e tornaram-se pintores.

Obra de arte de Andy Warhol fazendo uma apropriação da imagem da Santa Ceia  de Da Vinci imprimindo a imagem sobreposta em uma superfície com padrão de camuflagem militar
© 2022 The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. / Licensed by DACS/Artimage, London

Andy WarholCamouflage Last Supper1986Serigrafia, acrílica sobre tela2,03 × 7,75 mColeção privadaThe Andy Warhol Foundation for the Visual Arts

Essa mistura de religião e camuflagem pode ser perturbadora para o público. A colossal serigrafia, "Camouflage Last Supper",  de 1986 é uma sobreposição de camuflagem militar com o icônico mural do século XV de Leonardo da Vinci é uma das obras finais de Andy Warhol – ele terminou antes de sua morte, apenas um mês após a inauguração da exposição.



A iconografia religiosa – incluindo cruzes e representações de Jesus e Maria – é recorrente em toda a obra de Warhol. O artista colecionava artefatos religiosos e começou a combinar arte pop com imagens cristãs nos anos 60. Warhol foi criado como católico bizantino; em seus diários, revela suas idas à igreja e sua viagem ao Vaticano em 1980, onde conheceu o Papa João Paulo II. 



Warhol explorou implicações psicossociais enigmáticas recriando a camouflagem para satirizar ou apenas trata de uma homenagem a um dos mestres da pintura renascentista?  – Pode ser, apenas, mais um comentário irônico sobre o clichê e o kitsch, mas também refletia algumas preocupações da época, incluindo a Guerra Fria entre os EUA e a URSS e a escalada da epidemia de AIDS.

autorretrato de Warhol com sobreposição de camuflagem militar
Andy WarholAutorretrato 1986Serigrafia, tinta acrílica sobre tela

León Ferrari pensa, sente e produz a partir de uma oposição radical à guerra dos Estados Unidos contra o povo do Vietnã. Considerada blasfema pela igreja, “La civilización occidental y cristiana” (1965) que é a sua obra de maior destaque — era assumidamente um protesto contra o governo dos Estados Unidos e a idéia de uma política de matar em nome de Cristo.

Escultura, trabalho mais conhecido de Leon Ferrari, a cena da crucificação com um avião no lugar da cruz.
León Ferrari"La civilización occidental y cristiana"1965Gesso, madeira e óleo200x120x60 cm

León Ferrari queria expor o absurdo de uma fé que usa ameaças para conquistar os crentes. Para ele, o verdadeiro inferno era mental: viver com a ideia de castigo eterno. Disse ele "A Bíblia é uma antologia de crueldades" — Ele contrataca a censura, inroniza dizendo que queriam "reduzir o artista a um fabricante de enfeites para generais." — E sai em defesa do debate livre ao dizer que "tirar a crítica da arte é cortar o seu braço direito".


Sendo um artista comprometido com seus ideais e o momento político, suas obras abordam o sexo, a igreja e a ditadura argentina — que o levou a um auto-exílio no Brasil. Ele afirmou: "Não sou comunista, também não sou anticomunista". 

Obra de Leon Ferrari midia mista, com imagem escultórica de gesso pintada com o mesmo padrão de camuflagem militar do plano de fundo.
Centro de Estudios Legales y Sociales . Fundación Augusto y León Ferrari Arte y Acervo (FALFAA)


León Ferrari"Mimetismo"1994Cristo de gesso pintado camuflado sobre tela camuflada200 x 135 cmColección Museo Nacional de Bellas Artes

Ao longo da sua carreira Ferrari testou (ou ultrapassou, dirão uns) todos os limites da religião católica. Em uma entrevista ele diz: Hoje penso que é melhor não explicar nada [...] Não há necessidade de limitar a imaginação do observador. É por isso que tento não explicar; muitas vezes as explicações destroem o trabalho.