James Ensor | 2011
Detalhes / OBRA DE ARTE
Título: James Ensor
Criador: Alexandre Mury
Data de criação: 2011
Tipo: fotografia
Meio: C-print (impressão cromogênica)
Período da Arte: Contemporâneo
Movimento/Estilo: Arte Conceitual, Arte Performática
Assunto: fotografia de autorretrato, releitura, dramatização, máscaras, carnaval, chapéu
Obras Relacionadas: Self-Portrait with Masks (Ensor aux masques),1899, James Ensor
Artistas Relacionados: James Ensor
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#autorretrato #releitura #tableauvivant #arteconceitual #arteperformatica #artecontemporanea #artebrasileira
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Procedência: Alexandre Mury Coleção Particular / Acervo Pessoal de Obras de Arte
Direitos: © Alexandre Mury
A obra "James Ensor" (2011), de Alexandre Mury, é uma fotografia que presta homenagem ao pintor belga James Ensor, conhecido por suas representações de máscaras e críticas sociais. Nesta peça, Mury recria o "Autorretrato com Máscaras" (1899) de Ensor, inserindo-se na composição original e cercando-se de uma coleção de máscaras reais. Através de maquiagem e caracterização meticulosas, ele se transforma no próprio Ensor, fundindo sua identidade com a do artista homenageado.
Formalmente, a fotografia destaca-se pela cenografia elaborada, onde as máscaras, dispostas ao redor de Mury, evocam a atmosfera carnavalesca presente na obra original. A escolha de elementos reais, como as máscaras físicas, adiciona uma camada de tangibilidade à cena, enriquecendo a textura visual e aprofundando a conexão entre o espectador e a obra.
Conceitualmente, Mury explora temas de identidade, representação e a multiplicidade do eu. Ao posicionar-se no lugar de Ensor, ele reflete sobre a natureza das personas que adotamos e sobre como a arte serve como meio para questionar e desconstruir essas identidades. Essa abordagem dialoga com uma longa tradição filosófica e psicanalítica que investiga o conceito de máscara como símbolo das diversas facetas do ser humano.
A obra de Mury não se limita a uma simples imitação; ao contrário, ela propõe uma releitura crítica que transcende a mera cópia. Ao incorporar-se na cena, Mury questiona as fronteiras entre o eu e o outro, entre a realidade e a ficção, sugerindo que a identidade é uma construção fluida e multifacetada. Essa perspectiva ressoa com discussões contemporâneas na antropologia e na dramaturgia sobre o papel do disfarce e da performance na formação do self.
Além disso, ao evocar o trabalho de Ensor, Mury insere-se em uma tradição artística que utiliza a máscara como metáfora para criticar a sociedade e revelar as hipocrisias subjacentes às convenções sociais. Ensor frequentemente retratava figuras mascaradas para satirizar a burguesia de sua época, e Mury, ao revisitar esse tema, convida o espectador a refletir sobre as máscaras contemporâneas que usamos e sobre as dinâmicas de poder e identidade que elas implicam.
Em suma, "James Ensor" de Alexandre Mury é uma obra rica em camadas de significado, que combina uma execução técnica cuidadosa com uma profundidade conceitual que convida à reflexão sobre a natureza da identidade, da representação e da arte como espelho da condição humana.
James Ensor,Self Portrait with Masks1899Óleo sobre tela117 x 82 cmMenard Art Museum, Komaki
James Ensor surge entre as máscaras, literalmente — a loja de souvenirs de sua família vendia máscaras de carnaval. Ensor começou a incluir as máscaras em suas obras depois que seu pai e sua avó materna faleceram em um curto espaço de tempo. Elas serviram como mecanismos de enfrentamento ao lidar com uma realidade muito cruel e irracional.
Politizado e profundamente satírico, Ensor fez críticas e expressou sua indignação com conceitos como hipocrisia, abuso de poder e injustiça. Suas obras de arte podem ser descritas como excêntricas, rebeldes e anárquicas.
"Quem não sabe povoar sua solidão — também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão."
— Charles Baudelaire
James EnsorMeu retrato disfarçado ou autorretrato com chapéu floridoMon portrait déguisé ou Autoportrait au chapeau fleuri 1883-1888óleo sobre tela76,5 x 61,5 cmOstend, Kunstmuseum aan Zee
Movido por seu senso de paródia e irreverência consigo mesmo, embora austero e enigmático, tem o aspecto engraçado no chapéu de palha acompanhado por pequenas flores — Neste autorretrato pintado originalmente em 1883 o chapéu e o bigode enrolado foram acrescentados em 1888.
James Ensor mistura a sua imagem com a do artista flamengo do período barroco Peter Paul Rubens, ou talvez com o autorretrato de Rembrandt. Este retrato poderia ser uma pintura acadêmica, pintado há séculos — O artista reflete as influências em sua arte por meio de um estudo formal e faz uma declaração explícita de admiração aos mestres do passado.
Ensor conviveu com as obras dos grandes pintores do seu tempo, estudou belas-artes em Bruxelas. No entanto, mantém-se fiel ao seu universo interior. Ensor não é tão fácil de colocar em um estilo de arte particular. De uma pintura que antecipa o pós- impressionismo, ele evoluiu através do fauvismo e desenvolve aspectos no seu trabalho, tornando-se precursor de uma série de movimentos artísticos — simbolismo, expressionismo, dadaísmo e surrealismo — Ele usa diferentes estilos lado a lado ao longo de sua vida.
Peter Paul Rubens Autorretrato1623óleo sobre painel de madeira85,7 x 62,2 cmThe Royal Collection Trust
RembrandtAutorretrato aos 34 anos1640Óleo sobre tela91 cm x 75 cmThe National Gallery, Londres
"O homem é menos ele mesmo quando fala na sua própria pessoa. Dê-lhe uma máscara, e ele vai te dizer a verdade"
— Oscar Wilde
Hieronymus BoschCristo Carregando a Cruz, s/d (após 1500)Óleo sobre madeira74 x 81 cmMuseum of Fine Arts Ghent, Bélgica
O quadro de Bosh, quase que totalmente preenchido por rostos muito próximos uns dos outros, repleto de cabeças caricaturadas em que Jesus, tomado de tristeza, é cercado por figuras horríveis — Neste sentido, um solitário James Ensor está em meio à grande farsa da comédia humana, cercado, mas lúcido no meio da coleção de máscaras típicas da commedia dell'arte, máscaras asiáticas, de animais e algumas de caveiras. James Ensor rejeitou as máscaras africanas que fascinou vários outros artistas ao longo do século XX.
James Ensor pode ter sido influenciado por esta obra do Hieronymus Bosch, embora a abordagem de seu autorretrato seja diferente. Ensor era um artista que zombava de si — como pessoa, estava em desacordo com seu ambiente, sua visão da humanidade era bastante sombria. — Embora fosse ateu, identifica a figura de Jesus Cristo como um alterego.
Jacob Jordaens"O rei bebe" ou "Noite de epifania"1640Óleo sobre tela156 x 210 cmMusées Royaux des Beaux-Arts, Brussels
A obra retrata uma cena da história bíblica da Epifania, em que os Três Reis Magos visitam o recém-nascido Jesus Cristo. No entanto, em vez de retratar a tradicional adoração dos Magos ao menino Jesus, Jordaens escolhe focar na figura do rei que bebe, representando, provavelmente, o rei Baltazar. Esta abordagem é única e sugere uma interpretação mais humana e terrena do evento religioso.
Jordaens foi influenciado pela tradição pictórica flamenga, bem como por artistas como Peter Paul Rubens, com quem trabalhou em seu ateliê.
"Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivela a máscara daquilo que se escolheu para representar-se e representar o mundo, o corpo ganha uma nova firmeza, a cabeça ergue-se altiva como a de quem superou um obstáculo. A pessoa é."
— Clarice Lispector
James EnsorChrist's Entry into Brussels1888-1889Óleo sobre tela252,6 × 431 cmThe J. Paul Getty Museum, Los Angeles, 87.PA.96
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James Ensor, um artista de personalidade nada convencional e bastante incisivo na crítica à sociedade — foi capaz de reivindicar a sua autonomia intelectual e impor o seu estilo transgressor. Ele chegou a ser preso pelos alemães durante a Primeira Guerra Mundial por retratar o imperador alemão Guilherme II como um abutre.
Durante o final do século XIX, muitos trabalhos de James Ensor foram rejeitados por serem escandalosos, em particular sua pintura "A entrada de Cristo em Bruxelas" de 1889 — No entanto, é considerada uma precursora do expressionismo do século XX.
Foram feitos vários desenhos preparatórios para a pintura. Nessa composição — quase perdido, em meio à vasta multidão carnavalesca, com máscaras grotescas, está Cristo em seu jumento; embora Ensor fosse ateu, ele se identificou com Cristo como uma vítima de zombaria. O Cristo com a auréola no centro da confusão é em parte um autorretrato: quase sempre ignorado — isolado.
Pieter Bruegel, o VelhoA Dança de Casamento1566Óleo sobre madeira119,4 cm × 157,5 cm Detroit Institute of Arts
"A Dança de Casamento" e "A Entrada de Cristo em Bruxelas" compartilham semelhanças e certos elementos composicionais, mas suas abordagens estilísticas, temáticas e contextos históricos são distintos, refletindo as sensibilidades artísticas e as preocupações sociais de seus respectivos períodos e artistas.
Bruegel utiliza uma composição complexa para retratar a multidão de figuras e atividades que ocorrem durante o evento. A obra transmite uma sensação de movimento e energia, com uma profusão de detalhes que convida o observador a explorar cada canto da cena. A paleta de cores é relativamente naturalista, com uma ênfase na representação fiel das vestimentas e dos ambientes campestres.
A composição de Ensor é caótica e cheia de detalhes surreais, com figuras distorcidas e máscaras que conferem à cena uma qualidade teatral e perturbadora. As cores são vibrantes e exageradas, contribuindo para a sensação de drama e excentricidade.
James EnsorMascarados observando uma tartaruga1894Óleo sobre tela, disposto em painel22 x 37 cmColeção particular
James EnsorDo riso às lágrimas1908Óleo sobre tela52 × 100 cmColeção particular
A acumulação de rostos em uma mesma tela, como vista nas obras de Boilly, Ensor e Bosch, sugere uma tentativa de capturar a diversidade e a complexidade da experiência humana.
Boilly viveu durante um período tumultuado da história francesa, que incluiu a Revolução Francesa, o regime de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia. Seu trabalho reflete o contexto cultural e social da França do século XIX, caracterizado por mudanças políticas, sociais e tecnológicas significativas.
Louis Léopold Boilly foi um prolífico pintor francês conhecido por suas cenas de gênero, retratos e sátiras sociais. Sua obra "Reunião de 35 Cabeças de Expressão Ridículas" (c. 1825) é um exemplo marcante de sua habilidade em capturar as nuances das expressões faciais humanas de forma caricatural e humorística.
O Carnaval era mais do que simplesmente uma festa; era uma oportunidade para as pessoas escaparem das restrições sociais e das normas estabelecidas, permitindo-lhes expressar-se de maneiras muitas vezes extravagantes e até subversivas.
Enquanto Rassenfosse explorava a beleza e a sedução da figura feminina com uma abordagem mais refinada e sutil, Ensor mergulhava nas profundezas da psique humana, revelando as máscaras que ocultam as verdadeiras faces das pessoas e explorando as tensões entre o oculto e o revelado.
Assim, enquanto ambos os artistas eram belgas e contemporâneos, suas origens e experiências pessoais moldaram suas visões artísticas de maneiras distintas. Armand Rassenfosse conhecido por suas ilustrações magistrais, especialmente sua série de 1917 para "Les Fleurs du mal" de Charles Baudelaire. Sua arte frequentemente gira em torno do arquétipo da femme fatale, retratando mulheres que cativam através de seu apelo sensual.