Aspectos gerais da fotografia conceitual 

HISTÓRIA E CONTEXTO

Resumo

Este ensaio historiográfico, investiga o desenvolvimento e o impacto da fotografia conceitual, um gênero que enfatiza o conceito em detrimento da técnica. Analisa as origens do gênero no Dadaísmo, no Surrealismo e na Arte Conceitual, destacando artistas emblemáticos e inovadores ao longo do desenvolvimento e das transformações do movimento artístico. O conteúdo observa a mudança da objetividade para a subjetividade, o papel da apropriação e da performance e o impacto da tecnologia digital. Disseca o papel do artista como conceitualizador e do espectador como intérprete ativo. Por fim, examina a crítica das instituições pela fotografia conceitual, a exploração de novos formatos e o envolvimento com questões sociais e políticas, enfatizando sua natureza evolutiva em resposta aos avanços culturais e tecnológicos. 

Origens e influências

O termo 'fotografia conceitual' usado para descrever um gênero pode referir-se ao uso da fotografia na arte conceitual ou na fotografia de arte contemporânea. Em ambos os casos, o termo não é amplamente utilizado ou aplicado de forma consistente. 

A arte conceitual do final dos anos 1960 e início dos anos 1970 envolvia, frequentemente, a fotografia para documentar performances, esculturas efêmeras ou ações.  O termo "fotografia conceitual" talvez tenha sido usado mais especificamente num sentido negativo para distinguir a fotografia de arte contemporânea da 'fotografia documental' ou do 'fotojornalismo'. 

A fotografia conceitual é uma vertente da arte contemporânea que tem suas raízes em uma variedade de movimentos artísticos anteriores, como o dadaísmo, o surrealismo e a arte conceitual, cada um contribuindo de diferentes maneiras para seu desenvolvimento. 

O legado da Arte Conceitual é vasto e multifacetado. Ela provocou uma ruptura radical com as noções estabelecidas de arte, desafiando as hierarquias existentes e convidando o espectador a questionar não apenas o que é arte, mas também os valores, as instituições e as estruturas sociais que a sustentam. 


Em um mundo saturado de imagens, onde a estética muitas vezes prevalece sobre o significado, a fotografia conceitual oferece uma oportunidade de transcender o mero registro visual e explorar ideias mais profundas e provocativas. Em vez de apenas capturar a superfície das coisas, os fotógrafos conceituais são desafiados a criar imagens que estimulem o pensamento crítico, questionem pressupostos arraigados e inspirem uma nova forma de ver o mundo. 


O termo "pós-conceitual" ou "neo-conceitual" pode ser visto como uma resposta a esse desafio. Reflete uma evolução da Arte Conceitual, onde os artistas continuam a explorar conceitos e ideias, mas de uma maneira que reconhece as mudanças na sociedade, na tecnologia e na cultura contemporânea. Essa abordagem não é uma rejeição do legado da Arte Conceitual, mas sim uma expansão e uma adaptação para os desafios e possibilidades do século XXI. 


Dadaísmo

O Dadaísmo, um movimento artístico e cultural que surgiu em 1916 durante e após a Primeira Guerra Mundial (principalmente em Zurique, Nova York, e Berlim), foi uma das primeiras manifestações a desafiar as convenções artísticas e sociais estabelecidas.

Os dadaístas valorizavam a espontaneidade, o absurdo e a provocação, buscando subverter as normas da arte tradicional e da sociedade em geral, caracterizado por uma abordagem antiarte e antitradicional.

Sua abordagem antiarte e uso de técnicas como a colagem, a montagem e a apropriação de imagens foram precursoras de estratégias semelhantes adotadas pela fotografia conceitual.

#Subverção

#Ilógica

#Absurdo

#Provocação

Hans Arp, "Colagem com Quadrados Dispostos Segundo as Leis do Acaso", 1916-1917 

Arp rasgou o papel em pedaços e deixou-os cair sobre uma folha maior, colando-os no local onde pousaram, permitindo assim que a gravidade ditasse a composição. Este método representou um afastamento radical do controlo artístico tradicional, abraçando o acaso como uma força criativa. Embora a obra pareça não referencial, desprovida de representação narrativa ou pictórica, um exame mais atento revela uma estrutura em forma de grelha e a utilização de papel artístico, sugerindo que Arp pode ter exercido mais controlo sobre o resultado do que inicialmente parece. Esta colagem não é apenas um produto do acaso, mas também uma representação visual do mesmo, personificando a exploração de novos processos artísticos pelos dadaístas e a sua busca pela pura abstração.

Hugo Ball - Foto de estúdio para um cartão postal de convite para a apresentação de Hugo Ball no Cabaret Voltaire em 1916

A escolha de Ball de vestir trajes absurdos e teatrais refletia o espírito anárquico e antirracional do Dadaísmo, desafiando as convenções artísticas e sociais da época. Assim como em suas performances ao vivo, Ball utilizava o acaso e a espontaneidade para criar uma experiência artística única e efêmera. Esta fotografia icônica encapsula a revolta contra a lógica e a razão, personificando a busca dos dadaístas por uma nova forma de expressão artística.

John Heartfield, "O Significado de Genebra: A Paz Não Pode Viver Onde Existe o Capital da Ganância!", 1932

Usando a técnica da fotomontagem para criar uma poderosa crítica visual à situação política da época, na década de 1930, Heartfield deixou de usar os cortes afiados e conflitantes da tesoura e começou a produzir misturas muito mais suaves e "críveis" com o uso da aerografia.  Nesta obra há um comentário mordaz sobre a hipocrisia das potências mundiais que se reuniam em Genebra sob o pretexto de promover a paz, enquanto os interesses capitalistas e a ganância continuavam a fomentar conflitos e desigualdades. Heartfield, um membro ativo do Partido Comunista Alemão, utilizou-se do meio fotográfico para transmitir mensagens políticas. Ao confrontar os espectadores com a dura realidade das consequências do capitalismo, Heartfield desafia a complacência e incita à ação e à reflexão. 

Surrealismo

Surgido na década de 1920, o Surrealismo explorou o mundo dos sonhos, do subconsciente e do irracional.

Artistas surrealistas como Man Ray, André Breton e Salvador Dalí experimentaram com técnicas de manipulação de imagens, como a sobreposição, a distorção e a montagem, para criar imagens que desafiavam a lógica e a realidade.

A abordagem surrealista da fotografia como um meio para explorar o inconsciente e transmitir ideias e emoções abstratas influenciou significativamente a fotografia conceitual, especialmente em relação à busca por novas formas de expressão visual e narrativa.

#Subconsciente

#Onírico

#Irracionalidade

#Inconsciente coletivo

Claude Cahun, ‘Autoportrait (I’m in training don’t Kiss Me), 1927

Claude Cahun é um pseudônimo que remete à androginia e à fluidez de gênero, a artista se uniu a Suzanne Malherbe, conhecida como Marcel Moore, que foi mais do que companheira de vida para Cahun. Formaram uma dupla artística singular que explorou os limites da identidade e da expressão na França do início do século XX. Colaboraram em diversas obras, incluindo fotomontagens, escritos e performances. A participação de Marcel, muitas vezes subestimada, era fundamental na produção artística de Cahun. Cahun é autora de autorretratos inovadores, explorou ambiguidade de gênero, transformação e identidade. 

René Magritte, A traição das imagens (isto não é um cachimbo), 1929, LACMA

A obra de Magritte, especialmente "A traição das imagens", pode ser vista como precursora de certos aspectos do movimento conceitualista na arte, que se tornou proeminente algumas décadas depois. Embora Magritte seja frequentemente associado ao surrealismo, suas obras muitas vezes transcendem as categorias artísticas convencionais e desafiam as expectativas dos espectadores, antecipando assim o espírito do conceitualismo.

Hans Bellmer, "Les Jeux de la Poupée", 1938 - 1949

Bellmer construiu e fotografou bonecas articuladas, desafiando as convenções de corpo e identidade de maneira perturbadora e provocadora. A série é um marco na arte surrealista, explorando temas de desejo, controle e identidade através de uma estética que combina a beleza e o grotesco. Bellmer optou por tingir cuidadosamente cada fotografia à mão, e sua escolha dos corantes de anilina rosa e amarelo. O sentimento geral é o de um conto de fadas doentio, onde a floresta contém medos de violação, ameaça e observação. 

Arte Pop

A Pop Art surgiu na década de 1950, principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, como uma reação ao expressionismo abstrato predominante na época. A primeira obra muitas vezes citada como precursora da Pop Art é a "Just What Is It that Makes Today's Homes So Different, So Appealing?" (1956) do artista britânico Richard Hamilton. Esta obra apresenta elementos icônicos da cultura popular, como figuras de revistas, produtos de consumo e imagens da mídia, em um estilo visualmente impactante.


A Pop Art frequentemente colide com a Arte Conceitual em suas abordagens e conceitos. Enquanto a Pop Art se concentra em objetos e imagens da cultura popular, frequentemente de forma irônica e crítica, a Arte Conceitual desafia a ideia de arte como objeto físico, dando mais ênfase ao conceito por trás da obra do que à sua forma visual. No entanto, ambas compartilham uma tendência de questionar as convenções tradicionais da arte e explorar novas formas de expressão. Algumas obras e artistas da Pop Art, como Andy Warhol, também influenciaram diretamente o desenvolvimento da Arte Conceitual.

#Cultura Popular

#Iconografia

#Estilo Gráfico

#Ironia e Humor

Richard Hamilton, "Just What Is It that Makes Today's Homes So Different, So Appealing?", 1956

A obra questiona os valores e aspirações da sociedade contemporânea, explorando como a identidade e o desejo são moldados pela propaganda e pelo consumismo. A escolha do título, com seu tom interrogativo e irônico, reforça essa crítica, sugerindo que a atratividade dos lares modernos é superficial e fabricada. A obra de Hamilton não só captura o zeitgeist dos anos 1950, mas também antecipa muitas das preocupações da arte pop, como a celebração e a crítica simultâneas da cultura de massa. 

Andy Warhol, "Marilyn Diptych", 1962, acrylic on canvas, 205,4 x 144,8 cm (Tate)

A obra é dividida em duas partes distintas: à esquerda, 25 imagens coloridas de Marilyn, vibrantes e saturadas; à direita, 25 imagens em preto e branco, progressivamente desvanecendo-se. Esta divisão simboliza a dualidade da fama de Marilyn Monroe, representando tanto seu glamour e vitalidade quanto sua mortalidade e decadência. A repetição da imagem sugere a onipresença da celebridade na mídia e na cultura popular, ao mesmo tempo em que desumaniza o sujeito, transformando-a em um ícone bidimensional.

 Sigmar Polke, "Namoradas (Freundinnen)", 1965-66

Usando uma variedade de técnicas de impressão fotográfica e processos químicos, Polke trabalhou em uma linha que chamou de Realismo Capitalista, que assumiu uma perspectiva irônica sobre o consumismo. Nesta obra, Polke utiliza a técnica de pintura sobre tecido de lona transparente, criando uma sobreposição de imagens que funde elementos figurativos com padrões abstratos e texturas. Polke era conhecido por sua crítica social e política disfarçada em camadas de significado visual. "Namoradas (Freundinnen)" pode ser interpretado como uma investigação da multiplicidade de identidades femininas e das complexidades das relações interpessoais.

Arte Conceitual

Surgindo na década de 1960 como uma reação às formas tradicionais de arte, a Arte Conceitual enfatizava o conceito ou a ideia por trás da obra de arte, em vez de sua realização material.

Artistas conceituais como Sol LeWitt, Joseph Kosuth e Marcel Duchamp desafiaram as noções de autoria, originalidade e valor artístico, muitas vezes utilizando estratégias como a linguagem, a documentação e a apropriação para criar obras que questionavam as instituições da arte.


Artistas conceituais usaram seu trabalho para QUESTIONAR A NOÇÃO DO QUE É ARTE e para CRITICAR AS ESTRUTURAS IDEOLÓGICAS SUBJACENTES À PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E EXIBIÇÃO ARTÍSTICA. 


A fotografia conceitual compartilhava muitos dos princípios da Arte Conceitual, especialmente em relação à importância do conceito sobre a forma e à exploração de ideias complexas e abstratas por meio da imagem fotográfica.

#Antiarte

#Racionalidade

#Questionamento

#Semioticismo

Marcel Duchamp, "L.H.O.O.Q.", 1919

"L.H.O.O.Q." é uma obra icônica de Marcel Duchamp como parte de sua série de ready-mades e uma das mais provocativas intervenções na arte do século XX. A obra consiste em uma reprodução da famosa pintura "Mona Lisa" de Leonardo da Vinci, sobre a qual Duchamp acrescentou uma pequena barba e bigode com lápis, além de mudar o título para "L.H.O.O.Q.", um trocadilho em francês que pode ser lido como "Elle a chaud au cul", traduzido como "Ela está com calor no traseiro". 

Robert Rauschenberg, "Erased de Kooning Drawing", 1953

Rauschenberg apagou deliberadamente um desenho de Willem de Kooning como uma declaração artística, questionando noções de autoria, originalidade e valor da obra de arte. Embora Rauschenberg seja frequentemente associado ao expressionismo abstrato, suas obras combinando objetos encontrados e técnicas de colagem têm elementos conceituais importantes. Uma abordagem destrutiva pode ser vista como uma reação ao expressionismo abstrato, movimento do qual Willem de Kooning fazia parte. No entanto, é mais uma ruptura conceitual do que uma continuação expressiva.

Yves Klein, "Leap into the Void", 1960

Nesta obra, Klein é fotografado realizando um salto aparentemente arriscado. Dois negativos - um mostrando Klein saltando, o outro a cena ao redor (sem as lonas que o protegiam da queda) - foram então impressos juntos para criar uma fotografia "documental" perfeita. Para completar a ilusão de que era capaz de voar, Klein distribuiu um jornal falso nas bancas parisienses comemorando o evento. Foi nesta forma de produção em massa que o gesto seminal do artista foi comunicado ao público. A obra captura a estética e o espírito do movimento Nouveau Réalisme, que buscava uma nova abordagem à realidade através de técnicas inovadoras.

Desenvolvimento da fotografia conceitual

Principais artistas e obras

O que destaca no surgimento e a consolidação da fotografia conceitual como uma prática artística distinta.

Sol LeWitt


Uso de instruções e sistemas para criar obras conceituais. 

Como um dos pioneiros da Arte Conceitual, também teve um impacto significativo na fotografia conceitual. Suas "Sentenças sobre Arte Conceitual" (1968) influenciaram artistas a repensar a natureza da arte e da criação artística.

Sol LeWitt afirmou que a ideia é a parte mais importante da obra de arte e que a execução pode ser feita por qualquer pessoa seguindo as instruções do artista. Para LeWitt, o conceito guia a criação, mas ainda há uma realização física necessária. A generalidade nas declarações de LeWitt permite que a execução seja uma parte significativa do processo artístico, ainda que subordinada à ideia.

“Na arte conceitual, a ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. […] A ideia vira máquina que faz a arte. […] A arte conceitual não é necessariamente lógica. […] As ideias não precisam ser complexas. A maioria das ideias bem-sucedidas são ridiculamente simples.”– Sol LeWitt, 1967 

LeWitt também explorou a fotografia como meio de documentar suas instalações conceituais, contribuindo para a integração da fotografia na prática artística conceitual.

Uma ideia central na abordagem de LeWitt à fotografia era o conceito de que o próprio artista nem sempre precisa fazer as fotografias. LeWitt Trabalhou como designer gráfico e algumas dessas habilidades influenciariam seu trabalho como artista profissional.  


Sol LeWitt, Buried Cube Containing an Object of Importance but Little Value, 1968
Sol LeWitt, "R872 A Rectangle of Florence Without a Rectangle", c. 1980

Douglas Huebler 


Questionamento da natureza da fotografia e da autoria.

Um dos primeiros artistas a utilizar a fotografia como meio primário de expressão em sua prática artística conceitual. Em sua série "Location Piece" (1969), Huebler fotografou pessoas em lugares específicos, explorando a relação entre o indivíduo, o espaço e o tempo.

Suas obras desafiaram as convenções tradicionais da fotografia documental, deslocando o foco da imagem em si para a ideia ou conceito por trás dela. 

Huebler contribuiu para a noção de desmaterialização da arte, um conceito fundamental no Conceitualismo. Essa abordagem destaca a arte como um evento contínuo e em transformação, em vez de um objeto estático e imutável.

 Huebler focou-se na documentação de eventos e situações do cotidiano, utilizando fotografias, mapas e textos para registrar ações e fenômenos. 

Assim como outros artistas conceituais, Huebler questionava as noções tradicionais de autoria e originalidade na arte. Sua prática sugeria que a arte poderia ser o resultado de processos coletivos e sistemáticos.

“O mundo está cheio de objetos, mais ou menos interessantes”, escreveu o artista americano Douglas Huebler, ao 44 anos, em 1969. “Não desejo acrescentar mais nada”. 

Douglas Huebler, "Location Piece #1", New York - Los Angeles, February, 1969 
Douglas Huebler, "Variable Piece" #101, 1973

Joseph Kosuth


Obras que exploram a relação entre a linguagem e a arte. 

Conhecido por suas instalações conceituais que exploram a natureza da linguagem e da significação na arte. Em sua série "One and Three Chairs" (1965), Kosuth apresenta uma cadeira física, uma fotografia da mesma cadeira e uma definição do termo "cadeira", questionando a relação entre objeto, imagem e conceito.

O trabalho de Kosuth influenciou uma geração de artistas a explorar questões conceituais por meio da fotografia, contribuindo para a consolidação da fotografia conceitual como uma prática artística distinta.


As proposições de Kosuth tais como "Arte como ideia como ideia" ampliam as discussões iniciadas por Sol LeWitt. Ele enfatiza o papel da linguagem e da filosofia na arte sugerindo que a mera existência de um conceito é suficiente para constituir uma obra de arte, independentemente de qualquer representação visual ou materialização.


"A definição 'mais pura' de arte conceitual seria que ela é uma investigação sobre os fundamentos do conceito 'arte'"

José Kosuth


Joseph Kosuth, "Uma e três cadeiras", 1965
Joseph Kosuth, "Uma e três plantas", 1965

A transição da fotografia documental para a fotografia conceitual 

Os primeiros artistas da Arte Conceitual começaram a gravar suas performances e obras de arte temporárias de uma maneira que hoje é frequentemente descrita como inexpressiva. O objetivo era fazer imagens simples e realistas da obra de arte que parecessem o mais documentais possível. 

Percepção da fotografia como forma de expressão artística. Os artistas conceituais estão mais interessados na ideia por trás da fotografia do que na experiência de olhar para a fotografia. Isso significa que eles podem usar a fotografia para explorar conceitos abstratos, como a natureza da verdade, a identidade ou a memória. 

A fotografia, desde sua invenção no início do século XIX, enfrentou preconceitos no meio artístico. Inicialmente vista como uma técnica puramente mecânica e documental, muitos críticos e artistas não a consideravam uma forma de arte genuína, que era tradicionalmente associada às habilidades manuais.

O marco decisivo que começou a mudar essa percepção foi a exibição "The Family of Man", organizada por Edward Steichen em 1955 no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Essa exposição reuniu 503 fotografias de 273 fotógrafos de 68 países, apresentando a fotografia como uma forma poderosa de expressão artística e cultural. No entanto, foi nos anos 1970 que a fotografia começou a ser amplamente reconhecida como arte, em parte devido ao trabalho de curadores do MoMA, que promoveu fotógrafos como Diane Arbus, Garry Winogrand e Lee Friedlander. 


Diferentes aspectos da natureza e da prática fotográfica:


Mudança de foco

A natureza construída da imagem fotográfica 

Enquanto a fotografia documental tradicionalmente se concentrava na representação objetiva da realidade, capturando eventos, pessoas e lugares de maneira fiel e descritiva, a fotografia conceitual desviou o foco da representação literal para a exploração de ideias, conceitos e questões filosóficas por meio da imagem fotográfica.

Essa mudança de foco da objetividade para a subjetividade marcou uma transição significativa na maneira como a fotografia era percebida e praticada, ampliando suas possibilidades como forma de expressão artística.

"The Americans" (1958) de Robert Frank

"The Americans" é uma obra seminal na história da fotografia documental e da fotografia conceitual. Robert Frank viajou pelos Estados Unidos capturando uma visão pessoal e subjetiva do país, revelando as contradições e complexidades da sociedade americana.

 Frank desafiou as convenções estabelecidas da fotografia documental, adotando uma abordagem subjetiva e poética para retratar a realidade americana.

Weegee (Arthur Fellig),"Elizabeth Taylor distortion," 1962

Abandonando os cenários de crime, Weegee começou a focar sua câmera em celebridades. Weegee usou métodos variados, como derreter negativos de cópias, substituir suas lentes por caleidoscópios e utilizar vidros texturizados ou curvos entre a lente e o papel fotográfico. Essas técnicas produziram imagens caricaturais e muitas vezes chocantes de rostos conhecidos, questionando a natureza da fama e da representação na era da mídia de massa.  

Suas técnicas inovadoras não apenas expandiram os limites da fotografia documental, mas também influenciaram profundamente a maneira como vemos e entendemos a representação visual na arte contemporânea. 

Bernd Becher, Hilla Becher, "Framework houses", 1959-1971

Bernd e Hilla Becher são conhecidos por seu trabalho em fotografar estruturas industriais como torres de água, chaminés e silos. Suas fotografias são apresentadas em séries organizadas por tipo, destacando a repetição e variação dentro de um tema. 

Este método sistemático influenciou a abordagem conceitual da fotografia, destacando a importância da série e da classificação na criação de significado. 

Duane Michals, Rene Magritte, 1965

armado com uma simples câmera, desafiou a ideia de que equipamentos caros eram essenciais para a "verdadeira fotografia", ignorando figuras como Henri Cartier-Bresson. Em 1970, "Sequências" marcou sua carreira com séries de fotos como histórias cinematográficas, quebrando regras e recebendo críticas pela falta de composição e momentos decisivos. 

Inspirado por René Magritte em 1965, Michals criou fotos explorando ilusão, realidade e o invisível, usando o surrealismo como ferramenta para investigar a fotografia e a imaginação. 

Questionamento da autoria e da originalidade


A fotografia conceitual também questionou as noções tradicionais de autoria e originalidade na arte, desafiando a ideia de que o valor de uma obra de arte está intrinsecamente ligado à habilidade técnica do artista ou à singularidade da imagem capturada.

Em vez disso, os fotógrafos conceituais frequentemente se concentravam na concepção e na execução de ideias, muitas vezes delegando a realização física da obra a outras pessoas ou utilizando técnicas de apropriação para recontextualizar imagens existentes.


Os fundamentos teóricos da apropriação na arte pós-moderna estão profundamente enraizados nos escritos de filósofos e críticos culturais como Roland Barthes, Michel Foucault e Jean Baudrillard


A noção de Barthes sobre a “morte do autor” e o nascimento do leitor como criador de significados, as ideias de Foucault sobre a autoria e o que constitui a obra, e os conceitos de simulacros e hiperrealidade de Baudrillard, todos contribuem para uma estrutura dentro da qual a apropriação pode ser examinada criticamente. Estas teorias sugerem que o significado de uma obra de arte não é fixado pela intenção do artista, mas é criado na interação entre a obra e o seu público, em contextos culturais e históricos específicos.


Uma geração de artistas que inclui Barbara Kruger, Sherrie Levine, Louise Lawler e Cindy Sherman, entre outros, que começaram a usar procedimentos fotográficos para minar os mitos modernistas de autenticidade, autoria e a antipatia entre os chamados altos e baixos da arte. Apelidadas de “Geração de Imagens” em homenagem a uma exposição e ensaio produzido pelo historiador de arte Douglas Crimp, as suas diversas práticas promoveram uma interrogação radical sobre a própria natureza da representação e a sua fiabilidade. "Não estamos em busca das fontes ou origens", escreveu Crimp, "mas de estruturas de significação: por baixo de cada imagem há outra imagem" (D. Crimp, 'Pictures', October , no. 8, spring 1979, p. 87).  


Billy-Apple, "Choice to Life Activity (Function) of the Subject", 1961-2

Nesta obra, Apple se apropria de um retrato de um funcionário da alfândega, usando quatro cópias repetidas ele destaca um dos retratos com neon vermelho. Apple introduz uma camada de interpretação que questiona a autoridade arbitrária e as decisões subjetivas frequentemente associadas ao controle de fronteiras e segurança. Apple mostrou a Warhol a obra. Esse momento foi significativo, pois influenciou as imagens repetidas, como no famoso díptico de Marilyn Monroe, tornando a obra de Apple seminal e subestimada na história da arte contemporânea. Durante mais de meio século, a prática interdisciplinar da Apple explorou o potencial criativo da publicidade, da ciência e da tecnologia – desde os seus primeiros trabalhos com Xerox, néon e lasers até à sua recente utilização do mapeamento genético.

Franco-Vaccari, "Photomatic d’Italia" (detalhe), 1973

Em seu projeto "Photomatic d'Italia", Vaccari utilizou cabines fotográficas de forma pioneira como parte de uma obra de arte colaborativa e democrática. Ao pedir aos visitantes que tirassem e contribuíssem com as suas próprias fotografias, ele acabou com mais de 40.000 autorretratos, resultando numa obra de arte colaborativa. Posicionar uma câmera e tirar uma fotografia não é um fato passivo: apenas ter uma lente nos observando muda nossos comportamentos e desencadeia novos.

As experiências de Franco Vaccari baseiam-se precisamente neste pressuposto, colocando a questão da relação entre fotógrafo, câmara e sujeito fotografado no centro dos seus escritos teóricos sobre o inconsciente tecnológico e da sua série de exposições em tempo real. Portanto, o ambiente não é o “espaço de exposição” nem “de ação” strictu sensu, pelo contrário é o “espaço de relacionamento”; a obra não é um “dado desenhado pelo artista”, pelo contrário é um “processo desencadeado pelo artista”.

Hans-Peter Feldmann, "Sonntagsbilder", 1976

Como um dos pioneiros da arte conceitual desde a década de 1960, ele é reconhecido por sua abordagem de colecionar e incorporar fotografias encontradas, muitas vezes sem alterações significativas. Esta prática não apenas desafia a noção tradicional de autoria, destacando a ubiquidade e efemeridade das imagens fotográficas, mas também questiona o que define uma imagem como digna de ser considerada arte. Sua função repetitiva de coletar imagens não apenas serve como um processo terapêutico, tornando o mundo tangível e claro para ele, mas também incentiva uma apreciação quase arquivística do cotidiano. Feldmann vasculha os destroços da cultura de consumo, criando justaposições excêntricas e provocativas que revelam a natureza complexa e muitas vezes contraditória da vida moderna. Seu trabalho não se limita a documentar o ordinário, mas sim a transformá-lo em um meio de reflexão crítica sobre a sociedade contemporânea e seus valores.

Sherrie Levine, "After Walker Evans", 1981

Levine ficou conhecida por sua prática de re-fotografar imagens icônicas de outros fotógrafos, desafiando as noções convencionais de autenticidade e singularidade na arte. Nesta série, Levine escolheu reproduções das fotografias de Walker Evans, tiradas durante a Grande Depressão nos Estados Unidos. Em vez de utilizar os negativos originais ou impressões diretas de Evans, ela baseou seu trabalho em reproduções encontradas em catálogos. Esse ato de apropriação não apenas questiona a autoria da obra original de Evans, mas também desafia a distinção entre original e cópia na fotografia. Por outras palavras, as reproduções de reproduções fotográficas de Levine intervêm directamente nos debates em torno do meio fotográfico – como documento ou obra de arte, como imagem única ou como cópia infinitamente reproduzível. 

Experimentação e inovação


A fotografia conceitual abriu caminho para a experimentação e inovação na prática fotográfica, encorajando os artistas a explorarem novas técnicas, abordagens e formatos.

Fotógrafos conceituais começaram a utilizar estratégias como a montagem, a manipulação digital, a performance e a apropriação de imagens para criar obras que desafiavam as convenções tradicionais da fotografia e da arte em geral.

Ed Ruscha, "Every building on the Sunset Strip", 1966, artists' books

Um livro de 7,6 metros de comprimento dobrado em sanfona mostra todas as casas da famosa Sunset Strip de Los Angeles. Ed Ruscha fotografou com uma câmera montada em um tripé no espaço de carga de uma caminhonete e documentou o vernáculo de Los Angeles com uma fotografia por segundo em grandes rolos de filme.  

Michelangelo Pistoletto, "Le orecchie di Jasper Johns (The Ears of Jasper Johns)", 1966

Pistoletto rasgou uma fotografia de Johns em três partes verticais, deixando apenas as orelhas nas extremidades e eliminando a parte central. Essa ausência central leva o observador a completar mentalmente a imagem, evocando um princípio fundamental da teoria da gestalt: a tendência da mente humana de preencher lacunas para formar um todo coerente. 

John Hilliard 765 Paper Balls1969

Hilliard criou e fotografou 765 bolas de papel jornal, suspendendo-as por fios invisíveis em uma sala vazia ao lado de uma janela. Este trabalho foi produzido exclusivamente para fins fotográficos, refletindo o compromisso do artista com a investigação dos limites e potencialidades da fotografia. Hilliard estava explorando as interseções entre fotografia, escultura, e performance já em 1969. O conceito de "campo expandido" na fotografia deriva da ideia de "campo expandido" na escultura, que foi teorizada pela crítica de arte Rosalind Krauss em seu ensaio "Sculpture in the Expanded Field", publicado em 1979. 

Roman Opalka, "OPALKA 1965/1 – ∞". 2008

Este projeto de Opalka começa em 1965, ele continuou a trabalhar nele até sua morte em 2011. "OPALKA 1965/1 – ∞" é uma obra monumental que combina fotografia, pintura e performance. Opalka fotografava-se diariamente enquanto pintava números sequenciais, documentando a passagem do tempo e a transformação física. Este projeto explora a temporalidade e a mortalidade, usando a fotografia como um meio de meditação e registro contínuo.

Eikoh Hosoe, "Kamaitachi" #17, 1968

Hosoe colaborou com o bailarino Tatsumi Hijikata (o fundador da dança ankoku butoh) para criar uma série de fotografias surreais que exploram temas do folclore japonês, memória e identidade cultural através de encenações performáticas. A série não apenas captura uma performance, mas também evoca um senso profundo de lugar, identidade e transformação cultural. Hosoe fotografou as interações espontâneas de Hijikata com a paisagem e as pessoas que encontrou. Sua abordagem inovadora continua a inspirar fotógrafos e artistas visuais que buscam explorar as fronteiras entre realidade e ficção, documento e arte.

Arthur Tress, "Boy in TV Set", 1972

No final da década de 1960, Arthur Tress iniciou um estudo inovador do inconsciente, entrevistando crianças sobre seus sonhos e pesadelos mais memoráveis. Ele então retratou essas histórias, usando as próprias crianças como atores. As fotografias de Tress ajudaram a romper preconceitos contra usos mais construtivos e encenados da fotografia, estabelecendo um precedente para trabalhos futuros que exploram temas psicológicos e surreais.

Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, "27-CC3, (Maileryn / Cosmococa Programa in Progress)", 1973

Este trabalho colaborativo entre Oiticica e D’Almeida é um exemplo de como a fotografia pode ser integrada em instalações multimídia. "Cosmococa" envolve projeções de slides, ambientes imersivos e música, criando uma experiência sensorial total. Este trabalho é significativo por sua abordagem experimental e interdisciplinar, combinando fotografia, cinema e performance para desafiar a tradicional separação entre as diferentes formas de arte.

 Helen Chadwick, "The Labours X", 1986

A artita explora uma variedade de meios artísticos, incluindo a fotografia, performance, escultura e instalação. A obra apresenta uma série de fotografias que retratam cenas enigmáticas, onde elementos corporais são intercalados com objetos geométricos para criar imagens que são tanto poéticas quanto perturbadoras, convidando o espectador a refletir sobre questões de identidade, sexualidade e poder. Chadwick desafia as normas estéticas convencionais ao explorar a corporeidade de maneira visceral e simbólica, expandindo os limites da fotografia como meio expressivo.

Ênfase no conceito e na mensagem


Na fotografia conceitual, o conceito por trás da imagem fotográfica tornou-se central, muitas vezes superando a importância da técnica ou da estética visual.

Os fotógrafos conceituais começaram a utilizar a fotografia como um meio de explorar questões sociais, políticas, culturais e filosóficas, transcendendo a mera representação da realidade para transmitir ideias abstratas e complexas.

Jan Dibbets,"Perspective correction - rectangle with 1 diagonal", 1967

Dibbets manipula a fotografia para corrigir a perspectiva de um retângulo desenhado no chão, de forma que, quando visto de um ponto de vista específico, ele se transforma em uma forma geométrica perfeita. A obra é uma série de fotografias que documentam essa correção de perspectiva questionando a relação entre a realidade objetiva e a interpretação subjetiva do espaço. 

William Anastasi, "Nine Polaroid, Photographs of a Mirror", 1967

A escolha do espelho como sujeito e a utilização das 9 fotografiaa instantâneas Polaroid destacam a natureza efêmera e ilusória da percepção visual.  Anastasi interessa-se em temas de percepção, reflexividade e o papel do observador. A utilização da Polaroid, uma tecnologia que permite a produção instantânea de fotografias, sublinha a espontaneidade e a temporalidade do ato de ver e capturar imagens.

Richard Long, "A line made by walking", 1967

Este ato simples e direto de caminhar transforma a paisagem em uma escultura temporária, destacando a interação entre o corpo humano e o ambiente natural. A obra sublinha a importância do processo e da experiência física do artista. A obra também evoca questões sobre o tempo, a transitoriedade e a memória. Esta obra que é, ao mesmo tempo, simples e profundamente poéticas, convidando o espectador a refletir sobre a relação entre a arte, a natureza e a experiência humana.

Robert Cumming, "Chair Trick", 1973.

Fugindo à orientação pela rejeição estética, Cumming, elabora com imagens meticulosamente compostas de objetos cotidianos em construções que parecem funcionais, mas que assumem aspectos desconcertantes e muitas vezes absurdos. O artista muitas vezes utiliza-se do humor e a ironia para envolver o espectador.  Pode ser interpretada como uma investigação sobre a forma e a função, bem como sobre a natureza da percepção visual. 

Mel Bochner,"Tamanho Real (Mão)", 1968

Bochner ampliou a foto até que a régua na imagem medisse 12 polegadas, sugerindo que a fotografia deveria transmitir o tamanho real do objeto retratado (uma mão humana). A referência a 12 polegadas, que no sistema americano equivale a um pé, não se alinha com a composição da imagem. Isso dá ao título uma qualidade tautológica, repetindo a evidência mensurável. Ao destacar a "tamanho real", Bochner convida o espectador a questionar a veracidade e a precisão das imagens e a refletir sobre o papel da linguagem na mediação de nossa compreensão do mundo. A obra questiona o ideal humanista de que o Homem é a medida de todas as coisas e perturba a crença nos benefícios epistêmicos da racionalidade e tecnologia.

Gina Pane,"Situation idéale: Terre-Artiste-Ciel", 1969

A presença física do artista na obra destaca a importância da experiência corporal e sensorial na arte. Nesta obra, Pane cria uma instalação que conecta a terra, o artista e o céu, simbolizando a relação íntima e simbiótica entre o ser humano e o meio ambiente. A obra envolve uma performance na qual Pane se posiciona como mediadora entre os elementos naturais, enfatizando a ideia de um equilíbrio ideal e harmonioso entre o corpo humano e a natureza. A obra pode ser interpretada como uma crítica à alienação do homem moderno em relação à natureza e um apelo ao reencontro com o mundo natural. A interação direta com os elementos naturais também pode ser vista como uma meditação sobre a fragilidade e a vulnerabilidade do corpo humano em contraste com a vastidão da natureza.

Robert Mapplethorpe, "PicturesSelf Portrait", 1977

Considerado controverso e dual por natureza, Robert Mapplethorpe chamou a atenção em 1977 ao realizar duas exposições simultâneas em Nova Iorque: uma na galeria comercial “Holly Solomon” e outra em um espaço de arte alternativo “The Kitchen”. Na primeira estavam seus retratos, enquanto a segunda mostrou seleções do seu “Portfolio X”, que incluía imagens graficamente explícitas de sexualidade, atos sexuais, fetichismo e BDSM. Para marcar essa separação das exposições, Mapplethorpe criou um duplo autorretrato, firmando sua própria dualidade e múltiplos alter-egos. Ambas as fotografias mostram apenas sua mão escrevendo a palavra “pictures”, simbolizando que respeitabilidade e perversão são dois lados da mesma moeda. Esta dicotomia desafia o espectador a reconsiderar suas percepções sobre identidade, respeito e moralidade. 

Anna Maria Maiolino, "Entrevidas (On the Margin of Life)", 1981

"Entrevidas" foi criada durante um período de intensa repressão política no Brasil, e pode ser vista como uma metáfora para a opressão e a resistência. A obra dialoga com a prática de arte participativa, onde o espectador não é apenas um observador passivo, mas um participante ativo na construção do significado da obra. Nesta instalação, Maiolino dispôs dezenas de ovos brancos no chão, formando uma trilha estreita e sinuosa. O público era convidado a caminhar entre os ovos, forçando uma interação cuidadosa e reflexiva com a obra. Ao criar um ambiente onde a interação física é inevitável, Maiolino desafia o público a considerar o impacto de suas ações e a consciência de sua presença no mundo. Sua abordagem destaca a interconexão entre o pessoal e o político, o íntimo e o coletivo. 

Contexto histórico e cultural

Dentro do contexto histórico e cultural das décadas de 1960 e 1970, a fotografia conceitual emergiu como uma forma significativa de arte.

A exploração de eventos e movimentos sociais influencia a prática artística nesse período, como os protestos políticos, os avanços tecnológicos e as mudanças nas percepções sociais e culturais.

Mudanças nas percepções sociais e culturais


As décadas de 1960 e 1970 foram um período de mudanças significativas nas percepções sociais e culturais, com a emergência de novas formas de pensamento e comportamento em relação à arte, à política, à sexualidade, à identidade e à tecnologia.

Essas mudanças abriram espaço para uma maior experimentação e diversidade na prática artística, permitindo que os artistas explorassem novas ideias, conceitos e formas de expressão, incluindo a fotografia conceitual.

Valie Export, "Aktionshose : Genitalpanik" ("Action pantalon : Panique génitale"), 1969

Nessa ação, Export adentrou um cinema em Munique vestindo calças com a região da virilha cortada, expondo seus genitais. Armada com uma metralhadora, ela confrontou o público do cinema, desafiando diretamente as expectativas e a passividade dos espectadores em relação ao corpo feminino e à representação da mulher na mídia. Esta performance radical abordou temas de voyeurismo, objetificação e poder.  Valie Export é uma figura seminal na arte feminista e na performance art. Sua capacidade de confrontar e desestabilizar o público através de ações audaciosas e carregadas de significado político continua a inspirar artistas contemporâneos. 

David Wojnarowicz, série: "Arthur Rimbaud in New York", 1978-1979

"Arthur Rimbaud in New York" é uma série fotográfica de David Wojnarowicz, criada entre 1978 e 1979, que consiste em imagens de várias pessoas usando uma máscara do poeta francês Arthur Rimbaud em diferentes locais de Nova York. Esta série é uma exploração da identidade, anonimato e a alienação da vida urbana. Wojnarowicz utiliza a figura de Arthur Rimbaud, um poeta símbolo da rebeldia e da vida boêmia, para comentar sobre a própria vida e a de outros marginalizados em Nova York. A escolha de Rimbaud não é acidental. Wojnarowicz, como Rimbaud, era um rebelde e um outsider. Ambos artistas desafiaram as normas sociais e artísticas de suas respectivas eras.  

Les Krims, séries: "Uranium Robots", 1976

Esta série, Krims documenta competições de construção de trajes robóticos atribuídas a seus alunos na SUNY College em Buffalo. Cada aluno fabricava sua interpretação de um traje robótico, Krims forneceu a ideia, o espaço para fotografar e o método conceitual para fazer fotografias. As imagens capturam a criatividade e a ingenuidade dos alunos, ao mesmo tempo em que satirizam a cultura pop e a crescente dependência da tecnologia na sociedade contemporânea, essa abordagem crítica reflete a tensão da época em relação ao avanço tecnológico e às preocupações com a energia nuclear. A série permanece relevante hoje, não apenas por sua crítica às questões tecnológicas e nucleares, mas também por sua exploração das fronteiras da fotografia como meio artístico. 

Paulo Bruscky, "O que é arte Para que serve", 1978

A pergunta não é apenas um título, mas uma interrogação que permeia toda a obra, desafiando o público a reconsiderar suas próprias concepções e expectativas. Durante um período de intensa repressão política no Brasil, Bruscky começou a experimentar com fotografia conceitual na década de 1970, utilizando técnicas diversas para explorar temas como comunicação e interação. Bruscky também utilizou fotocopiadoras, máquinas heliográficas, além de selos e carimbos postais, até equipamentos médicos, como nas suas criações encefalográficas.

Protestos políticos e movimentos sociais


As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por uma efervescência de protestos políticos e movimentos sociais ao redor do mundo, incluindo o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, o movimento estudantil de 1968 na Europa e os protestos contra a Guerra do Vietnã.

Esses movimentos inspiraram uma geração de artistas a se engajarem com questões políticas e sociais em suas obras, levando à emergência de formas de expressão artística mais engajadas e reflexivas, como a fotografia conceitual.

Gordon Parks, "Department Store", Mobile, Alabama, 1956

Um dos mais renomados fotógrafos afro-americanos do século 20, utilizou seu talento para documentar as injustiças sociais e raciais, trazendo visibilidade e empatia para as vidas daqueles que eram marginalizados pela sociedade. Durante um período de intensa segregação racial no sul dos Estados Unidos, a fotografia é ao mesmo tempo simples e profundamente comovente, capturando a dignidade e a resiliência da mulher e da criança, apesar das circunstâncias opressivas. A fotografia foi parte de uma série de trabalhos que Parks fez para a revista Life, onde ele documentou a vida de famílias negras no sul dos Estados Unidos. 

Nick Knight, Skinheads series, "Mad John's Bottom Lip", 1979-1980 

Uma das fotografias mais impactantes da série que é um estudo visual profundo sobre a subcultura skinhead no Reino Unido, capturando a intensidade e a complexidade de um grupo frequentemente mal compreendido e estigmatizado. Além das fotos, há várias seções escritas sobre a cultura skinhead. Knight utilizou uma abordagem que evitava estereótipos simplistas, optando por uma representação mais humana e multifacetada dos skinheads. Seu primeiro livro de fotografias, 'Skinhead', foi publicado em 1982, enquanto ainda era estudante.

Martha Rosler,  "Playboy (On View) from the series House Beautiful: Bringing the War Home, in Vietnam", c. 1967-72

Durante o período da Guerra do Vietnã, Rosler buscou expor a dissonância cognitiva entre a vida doméstica confortável dos americanos e a brutal realidade da guerra. Ela justapõe a imagem perturbadora de soldados e vítimas da guerra, e uma mulher tirada de uma revista Playboy. Rosler subverte a função original da revista, que é vender fantasia e desejo, e a transforma em um veículo de crítica política e social. Essa colagem faz parte de uma série seminal na arte conceitual e política. 

Peter Hujar. "Candy Darling on Her Deathbed". 1973

Fotógrafo americano, conhecido por seus retratos íntimos e francos, bem como por suas fotografias de animais, plantas e paisagens urbanas. A atriz transgênero Candy Darling, hospitalizada devido ao linfoma, pediu a Hujar que a fotografasse, desejando um retrato que servisse como uma despedida para seus admiradores. Hujar, conhecido por sua habilidade em capturar a essência de seus sujeitos, criou uma imagem que é ao mesmo tempo comovente e poderosa, mostrando Candy deitada em uma cama de hospital, rodeada por um ambiente estéril que contrasta com sua pose elegante e serena.

Avanços tecnológicos


As décadas de 1960 e 1970 também foram marcadas por avanços significativos na tecnologia da câmera e da fotografia, incluindo o desenvolvimento de novos materiais fotográficos, técnicas de impressão e equipamentos de câmera.

Esses avanços permitiram aos fotógrafos experimentar com novas técnicas e abordagens artísticas, ampliando as possibilidades criativas da fotografia e contribuindo para o surgimento de formas de expressão artística mais conceituais e experimentais.

 William Eggleston, Los Alamos series Untitled, 1965

Até os anos 1960, a fotografia em cores era frequentemente vista com desdém, considerada inadequada para a seriedade da arte, associada mais à publicidade e ao entretenimento. A mudança começou a ocorrer com o trabalho de William Eggleston, cuja exposição em cores no MoMA em 1976, intitulada "William Eggleston's Guide", foi um divisor de águas. Eggleston demonstrou que a fotografia em cores podia ser tão artística e profunda quanto a fotografia em preto e branco. Outro nome crucial foi Stephen Shore, cujas obras em cores capturaram a vida cotidiana com uma sensibilidade estética inovadora.

1861: Thomas Sutton cria a primeira fotografia colorida.

Década de 1930: A Agfa lança o filme Kodachrome, o primeiro filme colorido comercialmente viável.


Andy Warhol, "self-portrait", 1969

A escolha da técnica de xerox para um autorretrato é significativa no contexto da Pop Art, movimento que Warhol ajudou a definir. A Pop Art, com sua celebração da cultura popular e crítica às formas tradicionais de arte, encontrou na xerox uma ferramenta perfeita para explorar temas de repetição, comercialização e a superficialidade da cultura de consumo. Warhol usou a máquina de xerox para criar uma série de autorretratos, uma abordagem que refletia seu interesse em processos de reprodução e a banalização da imagem na era da mídia de massa. A xerox, ou fotocópia, permitiu a Warhol explorar a repetição e a serialidade de sua própria imagem, temas recorrentes em sua obra.

William Larson, "Untitled, Fireflies series",1972

Larson empregou uma teleimpressora DEX 1 da Graphic Sciences, uma máquina de fax avançada para a época, que transformava imagens, textos e sons em sinais de áudio gerados digitalmente. Esses sinais eram então transmitidos via linha telefônica, e uma caneta especial gravava a imagem em papel à base de carbono, resultando em um "desenho eletrônico" único. A sobreposição eletrônica de imagens, textos e representações visuais de som, criando justaposições quase aleatórias e carregadas de potencial simbólico ou poético, remetendo às "operações imperfeitas da memória ou dos sonhos".  As criações de Larson na série "Fireflies" são marcos na intersecção entre arte e tecnologia, demonstrando o potencial das ferramentas digitais para criar obras de arte complexas e evocativas. 

Richard Hamilton, "Palindrome", 1974

Esta obra marcou a experimentação de Hamilton com uma nova tecnologia: impressão lenticular, laminada e tridimensional. A impressão lenticular permite criar imagens que parecem tridimensionais e podem mudar ou se mover conforme o ângulo de visão é alterado. Este trabalho permite a visualização simultânea das costas da mão e do braço estendidos, junto com a frente do rosto e do corpo do artista. O título "Palindrome" deriva das palavras gregas “rápido” (palin) e “retorno” ou “rebote” (dromos), referindo-se a palavras, números ou frases que são lidas da mesma forma de trás para frente ou para frente (por exemplo, “olho”) e a fótons refletidos em uma superfície reflexiva.

Lucas Samaras,"Photo-Transformation", 1976

 Cada elemento da cena é cuidadosamente construído, Samaras é o protagonista de suas próprias imagens, e a natureza performativa das "Photo-Transformations" estabelece um precedente importante para Cindy Sherman, em 1977, e segue influenciando gerações de artistas que exploram a identidade e a auto-representação. Entre as manipulações químicas que o artista fez nas imagens Polaroid durante a revelação, ele arranhava, esfregava e raspava a delicada superfície da impressão, introduzindo uma estética de agitação controlada que transforma a imagem de puramente fotográfica para algo que se assemelha a desenho, gravura ou pintura. 

Ana Mendieta, "Untitled", 1973-1976

O uso do retroprojetor para sobrepor imagens na superfície de seu corpo, cria uma tridimensionalidade e um efeito fantasmagórico.  Essas imagens, ao serem projetadas, criavam uma fusão entre o corpo e as representações visuais, explorando a relação entre a identidade, o corpo e a ciência. Ana Mendieta utilizou seu próprio corpo como uma tela. Suas obras frequentemente apresentavam silhuetas de seu corpo encaixando na natureza, criando uma fusão entre o eu e o ambiente, e questionando os limites entre o interior e o exterior. 

Abordagens e técnicas

Algumas das abordagens e técnicas utilizadas pelos artistas da fotografia conceitual para explorar ideias, conceitos e questões filosóficas por meio da imagem fotográfica. Cada uma dessas técnicas oferece possibilidades únicas de expressão e reflexão, contribuindo para a diversidade e a riqueza da fotografia conceitual como uma forma de arte contemporânea. 


Montagem

A montagem é uma técnica frequentemente utilizada por artistas conceituais para criar novas narrativas visuais a partir da combinação de diferentes elementos fotográficos, como imagens, textos, objetos e materiais.

Através da montagem, os artistas podem subverter a lógica narrativa tradicional, criar associações inesperadas e explorar ideias complexas e abstratas por meio da composição visual.

Exemplos de montagem na fotografia conceitual incluem obras de artistas como John Baldessari, Hannah Höch e Martha Rosler.

Montagem

A montagem é uma técnica frequentemente utilizada na fotografia conceitual para combinar diferentes imagens, elementos visuais ou materiais para criar uma narrativa ou transmitir uma mensagem.

Os artistas conceituais podem utilizar a montagem para criar composições visuais complexas que desafiam as noções tradicionais de espaço, tempo e realidade.

A montagem pode ser realizada tanto de maneira física, através de colagem manual de fotografias ou outros materiais, quanto digitalmente, utilizando softwares de edição de imagem.

John Baldessari, "Wrong", 1966
Duane Michals,"Paradise Regained", 1968
Vito Acconci, "Following Piece", 1969
John Hilliard, "Causes of Death", 1974
Robert Smithson "Torn Photograph from the Second Stop (Rubble) (Second mountain of 6 Stops on a Section)", Offset lit, 1970 
Douglas Prince, "Floating Fan", 1967 
Alighiero Boetti, "Gemelli", 1968
Michael Snow, "Of a ladder", 1971
David Hockney, "Sun on the Pool" 1982
 Helen Chadwick, "Enfleshings I e II", 1989
Cassils,“Cuts A Traditional Sculpture”, 2011-2013, Six month durational performance

Apropriação de imagens

Com base no trabalho de artistas Neo-Dada e Pop, os artistas da Pictures Generation se apropriaram de imagens existentes e as recontextualizaram para minar sua intenção original. Enquanto o Pop brincava e examinava a produção de imagens conscientes do design, os artistas da Pictures apropriavam-se mais tipicamente das imagens para questionar e criticar as estruturas de poder inerentes às imagens de circulação em massa.  

A apropriação de imagens é uma prática comum na fotografia conceitual, na qual os artistas utilizam imagens pré-existentes, de diversas fontes, encontradas ou produzidas por outros, como material para criar novas obras.

A apropriação de imagens permite aos artistas questionar a autoria, a originalidade e a autenticidade na era da cultura visual digital, recontextualizando imagens familiares e subvertendo seu significado original.

Artistas como Sherrie Levine, Richard Prince e Barbara Kruger são conhecidos por seu uso da apropriação de imagens como uma forma de crítica cultural e reflexão sobre a natureza da representação visual.

Walter Benjamin: "a única obra verdadeiramente dotada de sentido, de senso crítico, deveria ser uma colagem de citações, fragmentos, ecos de outras obras."

Robert Heinecken, "Untitled", 1970
Larry Sultan e Mike Mandel, "Untitled Evidence_horse", 1977
Anna Bella Geiger, "Brasil nativo, Brasil alienígena", 1976-1977
Rosângela Rennó, "Sem título, (America e Cristo) série Cicatriz", c. 1996–98
kennardphillipps (Peter Kennard and Cat Phillipps), "Tony Blair, 'Photo Op'", 2006
Gillian Wearing, "Me as Cahun Holding a Mask of My Face", 2012
Omar Victor Diop, "Jean-Baptiste Belley", 2014
Mishka Henner, "Coronado Feeders, Dalhart, Texas", 2013

Performance e Performatividade


Na fotografia contemporânea, a Fotografia Conceitual continua a evoluir e se adaptar, muitas vezes influenciada pelo legado da Arte Conceitual. Os artistas exploram uma variedade de temas e abordagens, utilizando a fotografia como meio para investigar ideias conceituais, questões sociais, políticas e filosóficas. Isso pode incluir o uso de performances fotográficas, instalações fotográficas ou sequências narrativas que desafiam as convenções tradicionais da fotografia documental. 

A performance é uma das abordagens utilizada por artistas conceituais para explorar questões de identidade, corpo e espaço por meio da ação ao vivo registrada fotográfica ou videograficamente.

As performances fotográficas muitas vezes envolvem o artista como sujeito, executando uma série de ações planejadas ou improvisadas diante da câmera, buscando transmitir uma ideia ou conceito específico.

A fotografia, tradicionalmente vista como um registro fiel da realidade, torna-se na performance um elemento construído e artificial, moldado pela intenção do artista e pela encenação da performance. Essa ruptura com a indexicalidade abre um leque de possibilidades para a expressão artística.

Performance

A performance é uma abordagem menos convencional na fotografia conceitual, mas que tem sido cada vez mais explorada por artistas contemporâneos.

Os artistas conceituais podem utilizar performances como meio de expressão artística, incorporando elementos de teatro, dança, música e outras formas de expressão performática em suas obras fotográficas.

A performance na fotografia conceitual pode envolver tanto o próprio artista como protagonista da obra, quanto a interação com outros indivíduos, objetos ou ambientes para criar imagens que capturam momentos efêmeros e experiências sensoriais.

A encenação é uma técnica comum na fotografia conceitual, onde o fotógrafo cria uma cena para ser fotografada. Isso pode ser usado para controlar a mensagem da fotografia e para criar um senso de artificialidade. 

Joseph Beuys, "How to Explain Paintings to a Dead Hare", Nov. 26, 1965
Billy Apple®, "Autorretratos (Apple vê vermelho sobre verde)", 1962-1963
Dennis Oppenheim, "Reading position for second degree burn", 1970
 Bruce Nauman, "Self Portrait as a Fountain", 1966
Sigmar Polke, "Higher Beings Ordain", 1968
Adrian Piper, "I am the Locus" #2, 1975
Cindy Sherman, "Untitled Film Still #21A, City Girl Close-Up", 1978 
Lynn Hershman Leeson, "Roberta Múltiplos", 1978
Mladen Stilinovic, "Artist at Work", 1978
Teching Hsieh, "Time Clock Piece", 1980-1981
Jo Spence, "Property of Jo Spence", in "Remodelling Photo History: Revisualization", 1981-1982
Annie Leibovitz. "Keith Haring", 1986
Catherine Opie, Self-Portrait, "Cutting", 1993
David Nebreda, "Face covered in excrement", 1989-1990
Spencer Tunick. "Mexico City 7", 2007
Dread Scott, "Burning the US Constitution", 2011

Manipulação digital

Com o avanço da tecnologia digital, os artistas da fotografia conceitual começaram a explorar novas possibilidades criativas por meio da manipulação digital de imagens, permitindo aos artistas explorarem as fronteiras entre o real e o simulado, o analógico e o digital. 

A fotografia pós-conceitual valoriza a materialidade das obras e o impacto visual proporcionado por imagens de alta qualidade. No entanto, alguns artistas reconhecem o potencial da "imagem pobre" como crítica social e exploração estética. A força da ideia supera questões técnicas como a resolução da imagem. 


A manipulação digital permite aos artistas criar imagens que desafiam a percepção da realidade, subvertendo e distorcendo elementos visuais para transmitir ideias e conceitos específicos.

Em 1990, a Adobe Systems lançou o Photoshop 1.0. A introdução de câmeras digitais para consumidores aconteceu no final da década de 1990, tornando a manipulação fotográfica amplamente difundida e acessível. 

Quase todo tipo de manipulação que associamos ao agora onipresente software Photoshop da Adobe também fazia parte do repertório pré-digital da fotografia, desde cinturas emagrecedoras e suavização de rugas até adicionar pessoas (ou removê-las) de fotos, sem falar na fabricação de eventos que nunca aconteceram. Na verdade, o desejo e a determinação de modificar a imagem da câmara são tão antigos como a própria fotografia – apenas os métodos mudaram. 

Embora o uso do Photoshop tenha popularizado a manipulação digital, houve artistas nos anos 1980 que usaram sistemas como Scitex e Quantel Paintbox para criar obras inovadoras que exploravam as possibilidades da manipulação digital. Artistas como Nancy Burson, David Hockney, Lynn Hershman Leeson, Sonia Landy Sheridan e Lillian F. Schwartz foram pioneiros na integração dessas tecnologias em suas práticas artísticas, estabelecendo fundamentos importantes para a fotografia digital e a arte computacional. 

Nancy BursonEvolution II, Chimpanzeeand Man1984

A partir do início da década de 1980, em colaboração com pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Burson começou a produzir retratos compostos gerados por computador.  Nesta imagem, Nancy Burson combinou o rosto de um homem com o de um chimpanzé. Não é uma imagem cientificamente precisa da evolução, mas um retrato imaginário que liga os humanos a um dos seus antepassados ​​genéticos. Desde o início, o trabalho de Burson foi conceitualmente desafiador, pois abordou questões não apenas relativas à ciência, mas também à raça, à biologia, à política, à ética e muito mais.

Richard Hamilton,"Just what is it that makes today's homes so different",1992

Na sua revisitação de 1992, "Just what is it that makes today's homes so different?", Hamilton utilizou o sistema Quantel Paintbox, uma ferramenta digital avançada para a época. Isso demonstrou sua capacidade de incorporar novas tecnologias em sua prática artística, mantendo-se relevante e inovador ao longo das décadas.  Richard Hamilton foi um visionário que soube capturar e criticar a essência de sua época através da arte. Seu pioneirismo na utilização de novas tecnologias, sua crítica contínua da sociedade de consumo e sua habilidade de transformar elementos da cultura popular em arte significativa fizeram dele uma figura central na história da arte conceitual.

Jeff Wall, "A Sudden Gust of Wind (After Hokusai)", 1993

Jeff Wall é conhecido por suas fotografias encenadas que frequentemente fazem analogias com a história da arte e a vida contemporânea. Em "A Sudden Gust of Wind (after Hokusai)" (1993), Wall recria uma cena de uma gravura japonesa clássica do artista Hokusai, usando uma composição fotográfica moderna. A obra faz uma analogia entre a tradição artística antiga e as técnicas contemporâneas, explorando temas como a influência cultural e a passagem do tempo. A cena encenada, com papéis voando ao vento, evoca a original, mas em um contexto moderno, criando uma ponte entre épocas e estilos. 

Andreas Gursky, "99 Cent", 1999

Andreas Gursky é famoso por suas fotografias de grande escala que frequentemente usam metáforas visuais para comentar sobre a globalização e a economia. Em sua obra "99 Cent II Diptychon" (2001), Gursky fotografa o interior de um supermercado com prateleiras abarrotadas de produtos baratos. A imagem, embora uma representação direta de um supermercado, serve como uma metáfora para o consumismo e a saturação do mercado na sociedade moderna. A repetição e a uniformidade dos produtos criam uma metáfora visual sobre a homogeneização cultural e a perda de individualidade. 

Thomas Demand, "Kitchen", 2004
Aziz + Cucher (Anthony Aziz Sammy Cucher), "Maria", The Dystopia series, 1994-95
AES+F, Islamic Project series,"New Liberty ", 1996
Nick Knight, "Devon Aoki for Alexander McQueen", 1997
Orlan, "Self-hybridation, Precolombienne, n. 6", 1998
Erwin Olaf, "Royal Blood - Di", 2000
Tomoko Sawada, "School Days", 2004
Ruud van Empel, "World #28", 2006
David LaChapelle, "Rape of Africa", 2009
Karen Knor, "The Queen's Room", Zanana, Udaipur City Palace, 2010
Cindy Sherman, "untitled", 2017

Fotografia documental

A fotografia documental experimentou uma transformação notável ao longo das décadas, influenciada pelo movimento conceitualista e por uma busca pela essência da experiência humana e social. Fotógrafos proeminentes como Robert Frank, Garry Winogrand e Lee Friedlander romperam com a objetividade tradicional, adotando uma abordagem mais subjetiva e carregada de significado.

Essa mudança se manifestou de diversas maneiras, incluindo a incorporação de elementos conceituais na prática fotográfica. Manipulação digital, combinação de imagens e elementos performáticos tornaram-se ferramentas para questionar não apenas a realidade social, mas também os próprios meios de representação fotográfica.

À medida que a fotografia documental se tornou mais conceitualizada, surgiram novas interpretações e abordagens para descrever essa evolução. Críticos e historiadores da arte começaram a usar termos como "neo-conceitualismo" ou "pós-conceitualismo" para descrever essa nova fase na prática fotográfica, onde artistas como Nan Goldin, Sally Mann e Larry Sultan exploraram questões pessoais e familiares, desafiando as fronteiras entre o público e o privado, o pessoal e o político.

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Robert Frank, Garry Winogrand, Lee Friedlander, Larry Sultan, Ernst Haas e Stephen Shore, são frequentemente associados à fotografia conceitual devido às maneiras inovadoras como abordaram o meio fotográfico e expandiram os limites da prática documental e artística. Aqui estão algumas maneiras pelas quais eles entram na história da fotografia conceitual:

A fotografia documental mudou após o surgimento da fotografia conceitual e essa operação se dá vice-versa, é importante reconhecer que houve uma interação significativa entre esses dois campos ao longo do tempo. Enquanto a fotografia documental foi influenciada pela abordagem conceitual mais subjetiva e experimental, a fotografia conceitual por sua vez também foi enriquecida pela tradição documental, incorporando elementos da observação direta e da narrativa visual em seu próprio repertório estilístico.

Esses fotógrafos da origem documental, do jornalismo e da publicidade são muitas vezes mencionados como conceituais devido à maneira como expandiram os limites do meio fotográfico, contribuindo para uma compreensão mais ampla da fotografia como forma de arte e expressão pessoal.


Ernst Haas, "Oil Spot. New York City", 1953
Garry Winogrand, "New York", 1965
Lee Friedlander, "Street photography, New York", 1966
Stephen Shore, "Pleasant Street and North Main Street", Concord, New Hampshire, July 16, 1974
Lewis Baltz, "East Wall, Western Carpet Mills, 1231 Warner, Tustin", 1974
Larry Sultan, "My mother posing for me from pictures of home", 1984
Sally Mann, "Candy cigarret", 1989
Thomas Struth, "National Gallery I, London", 1989

O texto escrito

A representação semântica na fotografia conceitual envolve o uso de imagens para transmitir significados complexos, muitas vezes através de símbolos, metáforas e analogias. Isso exige que o espectador decodifique esses elementos para compreender a mensagem subjacente. A fotografia torna-se, assim, uma linguagem visual rica em camadas de significado. 

Embora o uso de texto escrito na arte não fosse novo na década de 1960 - o texto aparece ao lado de outros elementos visuais nas pinturas cubistas, por exemplo - artistas como Lawrence Weiner, Joseph Kosuth, Ed Ruscha e John Baldessari adotaram o texto como o elemento dominante de uma obra de arte visual. Ao contrário dos seus antecessores, esta geração de artistas obteve frequentemente diplomas universitários, o que em parte explica a fé no intelectualismo e especialmente a influência dos estudos linguísticos do século XX. 


Os artistas incorporam palavras em sua prática: como narrativa, objeto encontrado, significante, comentário social e político ou em brincadeira. A arte baseada em texto costumava usar formulações abstratas, muitas vezes na forma de comandos abruptos, declarações ambíguas ou apenas uma única palavra para criar associações para o espectador. Embora os conceitualistas da primeira onda, permaneçam ativos hoje, eles inspiraram artistas mais jovens a continuar a prática baseada em palavras e a expandir os limites da arte e de suas definições. 

A genealogia do texto na prática artística como emergente do movimento internacional de poesia concreta de meados da década de 1950 a 1971 (incluindo o trabalho de Décio Pignatari, ou Haraldo de Campos), ou da arte conceitual de meados da década de 1960-início da década de 1970 (incluindo o trabalho de Joseph Kosuth, Art & Language, Robert Smithson ou Mel Bochner).

Paul Strand, "Blind", 1916
Ben Vautier, "La Vie est Art ", 1962
Robert Morris, "I-Box", 1962
Timm Ulrichs, "The End (Augenlidtätowierung)", 1970
Bruce Nauman, "Eating My Words", 1967
Gilbert & George, "George the Cunt e Gilbert the Shit", 1969
Robert Smithson, "The Monuments of Passaic The Bridge Monument Showing Wooden Sidewalks", 1967
Victor Burgin, "UK 76", 1976
Martha Rosler, "The Bowery in two inadequate descriptive systems", 1974-1975
James Lee Byars, "The perfect love letter is I writeI love you backwards in the air", 1974
Hannah Wilke, "Marxism and Art Beware of Fascist Feminism", 1977
Luis Camnitzer, "The Photograph", 1981
Jim Goldberg, "Vickie Figueroa, San Francisco, California", 1982
León Ferrari, "Union Libre" (poem by André Breton embossed in Braille on a photograph), 2004

Crítica institucional e contestação do meio artístico

No geral, a fotografia conceitual desempenha um papel fundamental na crítica institucional do meio artístico, desafiando noções estabelecidas de autoria, originalidade e valor artístico e ampliando os horizontes da arte contemporânea. Essa discussão em torno da fotografia conceitual ajuda a promover um diálogo mais amplo sobre os papéis e responsabilidades dos artistas, curadores, críticos e espectadores dentro do contexto da arte contemporânea. 

Louise Lawle, "Pollock and Tureen, Arranged by Mr. and Mrs. Burton Tremaine, Connecticut Louis , 1984

Desafio à originalidade


A fotografia conceitual também levanta questões sobre a originalidade na arte, questionando se a verdadeira inovação reside na concepção da ideia ou na execução técnica da obra.

Muitos artistas conceituais utilizam estratégias como a apropriação de imagens ou a recontextualização de materiais existentes para criar novas obras, desafiando a ideia de que a originalidade está intrinsecamente ligada à criação de algo completamente novo.

Esse desafio à originalidade destaca a importância da ideia ou conceito por trás da obra, em vez de sua realização física, na determinação de seu valor artístico.

Richard Prince, "Untitled" (cowboy), 1980-1989

Questionamento da autoria


A fotografia conceitual muitas vezes desafia as noções tradicionais de autoria na arte, questionando quem é o verdadeiro autor de uma obra fotográfica.

Em muitos casos, os artistas conceituais delegam a realização física da obra a outras pessoas, como assistentes ou técnicos de laboratório, desafiando a ideia de que o artista deve ser o único responsável pela criação da obra.

Esse questionamento da autoria destaca a natureza colaborativa e coletiva da produção artística, subvertendo hierarquias e estruturas de poder dentro do meio artístico.

"Untitled (Cowboy)" (1998) de Richard Prince

Esta obra de Richard Prince é uma fotografia de uma imagem publicitária de um cowboy em um cenário desértico. Prince removeu o texto original da imagem, deixando apenas o cowboy solitário.

IMPACTO

 Prince questiona a autoria e a originalidade na arte, ao mesmo tempo em que critica os estereótipos da masculinidade e da cultura americana.

Sophie Calle,  detalhe: "room #30", da série: "The Hotel", 2021

Reavaliação do valor artístico


A fotografia conceitual também provoca uma reavaliação do valor artístico, questionando o que constitui uma obra de arte e como ela deve ser avaliada.

Em vez de se concentrar apenas na técnica ou na estética visual, a fotografia conceitual enfatiza o significado e o contexto da obra, desafiando os espectadores a considerarem questões mais amplas sobre sua relevância e importância.

Essa reavaliação do valor artístico destaca a importância da reflexão crítica e do engajamento intelectual na apreciação da arte conceitual, subvertendo noções convencionais de beleza e habilidade técnica como critérios exclusivos de valor artístico.

Expressão, distribuição e engajamento

Ao analisar as estratégias utilizadas pelos artistas da fotografia conceitual para desafiar convenções artísticas e institucionais, percebe-se uma busca de formas alternativas de expressão, distribuição e engajamento que reflitam seus valores e preocupações estéticas, sociais e políticas. Essa abordagem não apenas reconfigura a prática artística, mas também contribui para uma reavaliação mais ampla do papel da arte na sociedade contemporânea.

Crítica ao mercado de arte comercial


Muitos artistas da fotografia conceitual têm uma postura crítica em relação ao mercado de arte comercial, questionando seu papel na valorização da arte e na consolidação de hierarquias artísticas.

Alguns artistas optam por evitar a participação no mercado de arte tradicional, recusando-se a vender suas obras ou a se envolver em transações financeiras, como uma forma de resistência ao capitalismo e à comercialização da arte.

Hans Haacke, "Shapolsky et al. Manhattan Real Estate Holdings, a Real-Time Social System, as of May 1, 1971", 1971
Paulo Nazareth, Performance: "Banana Market - Art Market" 2011
Ai Weiwei, "Dropping a Han Dynasty Urn", 1995

Busca por autonomia e independência


Muitos artistas da fotografia conceitual buscam autonomia e independência em relação às instituições tradicionais da arte, como galerias, museus e casas de leilão.

Em vez de depender dessas instituições para promover e distribuir suas obras, os artistas conceituais frequentemente buscam formas alternativas de exposição e distribuição, como publicações independentes, sites pessoais e espaços não convencionais.

Eleanor Antin, "100 Boots at the Beach", Solana Beach, California, 1972
Lynda Benglis, "Artforum magazine intervention advertisement", 1974 
Victor Burgin, "possession", 1975
Nan Goldin, Heart-sha, série: "The Ballad of Sexual Dependency", 1980
Maurizio Cattelan, "Shit", Toilet Paper, Issue, 10, 2014
Mariko Mori, "Mini Play With Me", 1994/2017
Justin Aversano, "Twin Flames #83. Bahareh & Farzaneh Safarani", 2017-2018
Joachim Schmid, "Other People's Photographs", 2008-2011

Exploração de novos formatos e mídias


A fotografia conceitual muitas vezes se manifesta em formas não tradicionais de imagem, como instalações, performances, livros de artista e projetos participativos.

Ao explorar esses novos formatos e mídias, os artistas conceituais desafiam as expectativas convencionais sobre o que constitui uma obra de arte fotográfica e expandem os limites da prática fotográfica, muitas vezes, para além do espaço da galeria ou do museu.

Robert Heinecken,"Fractured Figure Sections", 1967
Marcel Broodthaers, "Pot avec photo noir et blanc" autoportrait, 1967
Sigmar Polke, "Bunnies", 1966
Victor Burgin, "Photopath", 1967-1969
Braco Dimitrijevic, "Casual Passer by",  I met at 11.09-AM, 1971
Keith Smith,"Untitled", 1972
Steven Pippin,"Self-Portrait", made using a house converted into a 'Pinhole Camera', 1986
 Richard Hamilton, "Testament", 1993
Dayanita Singh, "Blue Book ", 2009 - 23 color postcards bound into a cardboard folder46 pages
Felix Gonzalez Torres, "Untitled", artwork print, 1991
Annegret Soltau, "Getelltes Selbst", 2019
Sam Taylor Woood, "Soliloquy I", 1998

Participação em movimentos sociais e políticos


Muitos artistas da fotografia conceitual são engajados em questões sociais e políticas e veem sua prática artística como uma forma de ativismo e protesto.

Esses artistas frequentemente se envolvem em movimentos sociais e políticos, utilizando suas obras para levantar questões importantes e promover a conscientização sobre questões como justiça social, direitos humanos e igualdade.


Jacques Rancier é um filósofo cuja teoria sobre a relação entre política e arte tem sido altamente influente nas últimas décadas.

Ele argumenta que a política na arte não está necessariamente nos conteúdos políticos ou mensagens transmitidas pela obra, mas sim na própria distância que a arte mantém em relação à ação política direta.

Rancier sugere que tanto a política quanto a estética podem criar novas formas de experiência e redistribuir o sensível, ou seja, as maneiras pelas quais fazemos sentido do mundo.

Seu conceito desafia a ideia de que arte e política são separadas e opostas, defendendo que mesmo obras aparentemente apolíticas podem ter significado político.

Barbara Kruger, Untitled (Your body is a battleground), 1989
Sebastião SalgadoCamponeses sem-terra celebram a desapropriação da fazenda Cuiabá, em Sergipe, série: "Trabalhadores", 1996
Sheng Qi, Memories series "My Left Hand (Me)", 2000

Taryn Simon, "The Innocents", 2002

Charles Irvin Fain Scene of the crime, Snake River, Melba, Idaho. Served 18 years of a death sentence.

Edward Burtynsky, Silver Lake Operations #1, Lake Lefroy, Western Australia, Australia, 2007

Lalla Essaydi, "Bullets Revisited" #47, 2017

NEO-CONCEITUALISMO 

Revisão histórica da proposição conceitual


Mais importante do que classificar rigidamente uma imagem em uma categoria específica é entender como ela se encaixa em um contexto mais amplo e como ela comunica suas ideias e conceitos ao espectador. 

Ao revisar a História da Arte é possível compreender mais profundamente as origens da fotografia conceitual e como ela se desenvolveu a partir de movimentos artísticos anteriores. Além disso, essa análise permite entender como a fotografia conceitual se posiciona no contexto da História da Arte e suas tendências para o futuro, à medida que continua a evoluir e se adaptar às mudanças na percepção e na prática da fotografia como forma de expressão artística.


O pós-conceitualismo não tem um marco temporal específico de início, pois emerge gradualmente como uma resposta às práticas e ideias do conceptualismo. No entanto, podemos observar exemplos de obras pós-conceituais surgindo nas décadas de 1980 e 1990, e continuando até os dias atuais. É importante reconhecer que o movimento continua a evoluir e se transformar conforme novos artistas e ideias surgem na cena artística contemporânea. 


O Neo-Conceitualismo é uma abordagem artística que transcende categorias tradicionais, permitindo que os artistas combinem elementos da arte conceitual com tradições artísticas convencionais. Essa abordagem valoriza a liberdade criativa do artista, permitindo que ele explore uma ampla gama de técnicas e ideias sem se sentir restrito por definições preestabelecidas. O Neo-Conceitualismo promove uma síntese entre o conceitual e o estético, resultando em obras profundamente reflexivas e visualmente cativantes. 

Na fotografia conceitual, o valor estético pode ser tanto uma parte do conceito quanto uma ferramenta para atrair e engajar o espectador na mensagem subjacente. 


O uso generalizado do termo “conceitual” como prefixo para todo tipo de arte "pós-moderna" é problemático, e tem servido para qualquer arte baseada em qualquer tipo de ideia (diferente daquela que resulta do instinto, do gosto ou dos materiais).  As características que definem uma fotografia conceitual podem variar ao longo do tempo e refletir as preocupações, técnicas e tecnologias predominantes em cada período. No entanto, por mais que ainda exista artistas trabalhando segundo os aspectos formais do conceitualismo, o pós-conceitualismo funciona como um demarcador histórico de desdobramento de correntes artísticas vinculantes a uma prática neo-conceitual.


Nos Estados Unidos, a Arte Conceitual se desenvolveu em paralelo com movimentos artísticos como o Minimalismo e a Arte Pop. O Movimento Fluxus é definitivamente parte desse contexto e teve uma influência significativa no desenvolvimento da Arte Conceitual, especialmente na Europa. Nos EUA, questões sobre a natureza da arte, a relação entre arte e linguagem, e críticas à cultura de consumo e à instituição artística. Na Europa, a arte concetual apresenta  questões como o colonialismo, o capitalismo e as tensões da Guerra Fria. Na América Latina, a arte concetual apresentou-se como uma forma de resistência contra regimes autoritários, injustiças sociais e questões relacionadas à identidade e à colonialidade.


No que tange às tendências futuras, a fotografia conceitual continua a evoluir em resposta aos avanços tecnológicos, sociais e culturais. A crescente digitalização e globalização moldam novas abordagens, explorando questões de identidade, interconexão e a experiência humana na era digital. Além disso, a interdisciplinaridade floresce, com fotógrafos conceituais contemporâneos incorporando performance, instalação, vídeo e arte digital em suas práticas, promovendo uma integração ainda mais profunda entre as formas de expressão artística. 


Anos 60:

Anos 80:

Anos 2000 até os dias de hoje:


Principais características e temas abordados

Ênfase no conceito


A interpretação da arte envolve a análise e compreensão das intenções do artista, o contexto da obra, e os significados que podem ser inferidos a partir dela. Na fotografia conceitual, a interpretação é crucial, pois o objetivo é frequentemente provocar uma reflexão mais profunda sobre temas específicos através da linguagem visual. 


Uma das características mais distintivas da fotografia conceitual é a primazia do conceito sobre a técnica ou a estética visual. Os artistas conceituais utilizam frequentemente a fotografia como um meio de explorar ideias, conceitos e questões filosóficas, transmitindo mensagens abstratas e complexas por meio da imagem fotográfica.

A abstração pode ser uma ferramenta estilística ou formal usada por fotógrafos para criar imagens visualmente interessantes ou expressivas, sem necessariamente estar ancorada em conceitos ou ideias abstratas. No entanto, em alguns casos, a abstração na fotografia pode ser usada como meio de expressão conceitual, onde as formas e os elementos visuais são empregados para transmitir significados mais profundos ou explorar questões filosóficas, sociais ou culturais. 

Conceito Explícito ou Temático

Metáfora Visual

Uso de Simbolismo

Narrativa Visual

Abstração e Ambiguidade

Subversão de Expectativas

Contexto e Intertextualidade

Intencionalidade do Artista

Rineke Dijkstra, “Kolobrzeg, Poland, July 26, 1992,” from Beach Portraits, 1992
Anne and Patrick Poirier, "fragility", 1996
Sarah Lucas,
"Chicken Knickers, 2000 - C-type photograph
 2732 x 1963 cm
Samuel Fosso, "Autoportrait From the series -Black Pope", 2017
Wolfgang Tillmans,Série: "Concorde Grid"1997
Hiroshi Sugimoto, "Movie theatre,  Akron Civic, Ohio", 1980
Andreas Gursky, "Rhein II", 1999

Esta fotografia de um trecho do rio Reno, que foi digitalmente alterada para remover qualquer construção humana, pode ser vista como uma metáfora para a relação entre natureza e intervenção humana. A pureza e a simplicidade da imagem contrastam com o impacto da urbanização. 

Thomas Ruff, "Substrat 1 III", 2001
Erwin Wurm, One Minute Sculpture", 1997
Marysa Dowling,"Nathan, London, UK", 2012
 Trish Morrissey, "Racheal Hobson, September 2nd, 2007", 2007
Yinka Shonibare CBE, "The Sleep of Reason Produces Monsters (Asia)", 2008

Subjetividade e interpretação


A fotografia conceitual muitas vezes envolve uma forte dose de subjetividade e interpretação por parte do espectador. As obras conceituais desafiam frequentemente os espectadores a refletirem sobre o significado e a intenção por trás da imagem, convidando-os a participar ativamente na construção do sentido da obra.

No pós-conceitualismo, há uma ênfase renovada na participação ativa e colaborativa do espectador na criação e interpretação da obra de arte. Os artistas podem criar experiências imersivas ou interativas que convidam o espectador a se envolver diretamente com questões sociais e políticas, promovendo um maior senso de empatia, reflexão e engajamento crítico.

Ambiguidade Visual

Ausência de Contexto Explícito

Uso de Metáforas Visuais

Exploração de Emoções e Sensações

Estilo e Técnica Fotográfica

Interpretação Pessoal do Espectador

Intencionalidade do Artista

Felix Gonzalez-Torres, "Untitled", 1991
Lorna Simpson, "Guarded Conditions", 1989
Glenn Ligon, ‘Self-Portrait Exaggerating My Black Features’, and ‘Self-Portrait Exaggerating My White Features’, 1997
Torbjørn Rødland, "Midlife Dilemma", 2015
David LaChapelle, "Drew Barrymore: a waitress", 1995
Sarah Lucas, "Self-Portrait with Fried Eggs", 1996
Gregory Crewdson, "Ophelia", Twilight series, 2000-2001
Zackary Drucker & Rhys Ernst, "Relationship", #33, 2008-2014

Crítica institucional e social 


Muitas obras de fotografia conceitual são críticas em relação às instituições da arte, à sociedade e à cultura em geral. Os artistas conceituais frequentemente utilizam suas obras para levantar questões importantes e provocativas sobre temas como poder, identidade, gênero, raça, política e globalização.

Temática da Crítica Social

Símbolos e Metáforas Visuais

Contexto Histórico e Cultural

Desconstrução de Narrativas Dominantes

Questionamento de Instituições e Poderes Estabelecidos

Estilo e Estética Subversiva

Engajamento do Espectador

Intencionalidade do Artista

Martin-Parr, "Untitled-New-Brighton" 1983-85
Paul Graham, “Beyond Caring”, 1986
Andres Serrano, series Immersions "Piss Christ", 1987
Orlan, "L'origine de la guerre", 1989
Ai Weiwei, série: "Study of Perspective" - "The White House", 1995–2003
Allan Sekula, "Chapter Six - True Cross - from Fish Story 28", 1988–1995
Olafur Eliasson, "Glacier Melt", 1999-2019
Trevor Paglen, "Limit Telephotography and The Other Night Sky series", 2000s
Vandy Rattana, "Takeo" series “Bomb Ponds”, 2009
Sin-Wai-Kin, "It's Always You Signed Poster (Wai King)", 2021
Martine Gutierrez, "Joan from ANTI-ICON - APOKALYPSIS", 2021
Isaac Julien Black, "Apollo (Once Again... Statues Never Die)", 2022

Desconstrução da realidade


A fotografia conceitual muitas vezes desafia a noção de realidade objetiva, explorando as maneiras pelas quais a fotografia pode ser usada para distorcer, subverter ou reconfigurar a percepção da realidade.

Os artistas conceituais frequentemente brincam com a manipulação da imagem, criando obras que desafiam as expectativas do espectador e questionam a veracidade da representação fotográfica.

Em "Simulacra and Simulation" (1981), Jean Baudrillard discutiu como a realidade e a representação se tornaram indistinguíveis na era da mídia e da publicidade. 

Manipulação da Imagem

Contraste entre Realidade e Ficção

Exploração de Ilusões Ópticas

Incorporação de Elementos Surreais

Narrativa Fragmentada ou Não Linear

Uso de Simbolismo e Metáforas

Questionamento da Veracidade Fotográfica

Intencionalidade do Artista

Joan Fontcuberta, "Herbarium series, "Guillumeta polymorpha", 1982
Christopher Williams, "Angola to Vietnam", 1989
Hiroshi Sugimoto, "Earliest Human Relatives", 1994
Julian Charrière & Julius von Bismarck, "Canyonlands, We Must Ask You to Leave ", 2018

Jeff Wall, "Dead Troops Talk (A Vision After an Ambush of a Red Army Patrol", 1992
Nikki S. Lee, "The Hip Hop Project (2)", 2001
Alison Jackson, "Camilla Wearing the Crown", 2005

Experimentação e inovação técnica


Os artistas da fotografia conceitual experimentam frequentemente com uma variedade de técnicas e processos fotográficos, explorando novas maneiras de criar e apresentar imagens que desafiam as expectativas do espectador.


Técnicas Fotográficas Não Convencionais

Manipulação Digital

Montagem e Colagem

Performance Fotográfica

Apropriação de Imagens

Experimentação com Meios Analógicos e Digitais

Desconstrução da Fotografia Tradicional

Richard Hamilton, "Kent State", 1970
Ouka Leele, "El Beso", 1980
Joana Hadjithomas & Khalil Joreige, "Postcards of war", 1997-2006 Part 2 of Wonder Beirut project
Kiki Smith, "My Blue Lake", 1995
Wim Delvoy, "Blow 1", 2001
Abelardo Morell, "Florence Landscape", 2009
Thomas Mailaender, "Illustrated People", 2011
Thomas Ruff, "Jpeg ny01", 2004
Jon Rafman, "9-eyes" (screenshot, Street View, Google Maps), 2008
Richard Mosse, "Men of Good Fortune" (Infra series), 2011 
Antoine d’Agata, "Virus", 2020

Hibridização de mídias

No neo-conceitualismo, vemos uma maior hibridização de mídias e uma integração mais estreita da fotografia com outras formas de expressão artística, como instalação, escultura, performance, vídeo, entre outras. Isso pode levar a uma abordagem mais expansiva e interdisciplinar das questões sociais e políticas, permitindo que os artistas explorem esses temas de maneiras mais criativas e inovadoras. 

O conceito de "O Campo Expandido da Fotografia", introduzido por Rosalind Krauss em seu ensaio de 1979, "Photography's Expanded Field", é uma tentativa de redefinir e expandir os limites da fotografia como uma forma de arte. Anteriormente, a fotografia era vista principalmente como um meio para capturar a realidade de maneira objetiva, mas Krauss argumenta que a fotografia pode transcender essas limitações e se tornar um meio artístico mais complexo e conceitual.

Integração e interação entre diferentes materias e suportes

Integração Estreita com outras Formas de Expressão Artística

Inclusão de Instalação, Escultura, Performance, Vídeo, entre outras

Abordagem Expansiva e Interdisciplinar de Questões Sociais e Políticas

Exploração Criativa e Inovadora dos Temas


António Manuel, "Corpobra (Bodywork)", 1970
Robert Filliou, "Autoportrait bien fait, mal fait, pas fait" ("Self-Portrait Well Made, Badly Made, Not Made"), 1973
Sandy Skoglund, "Radioactive Cats", 1980
Oscar_Munoz, "Cortinas de baño", 1986
Christian Boltanski, "Lycée Chases", 1987
Cady Noland, "Cowboy with Holes, Eating", 1990
Pedro Meyer, "I Photograph To Remember", 1991
Vik Muniz, "Medusa Marinara", 1997
Dinh Q. Lê, ‘Untitled’ 1998
Paul Pfeiffer, "Fragment of a Crucifixion" (After Francis Bacon), 1999
Doug Aitken, "Utopia", 2011
Barbara Kasten, "Progression Fifteen", 2019 

O PAPEL DO AUTOR 

Questionamentos sobre autoria, subjetividade e legitimidade

Ao aprofundar o conhecimento sobre a fotografia conceitual é fundamental explorar os aspectos e questionamentos, que fornecem insights valiosos sobre a natureza da criação artística e as complexidades da expressão conceitual na fotografia contemporânea. 

Questionamentos sobre autoria

Na fotografia conceitual, o conceito muitas vezes é considerado mais importante do que a técnica ou a habilidade técnica do fotógrafo.

Os artistas conceituais frequentemente questionam as noções tradicionais de autoria, explorando a colaboração, a apropriação e a manipulação de imagens para transmitir suas ideias.

Thomas Ruff,  "Nudes ez14", 1999-2002
Penelope Umbrico, "5,377,183 Suns (from Sunsets) from Flickr", 2018 (installation view)

Exploração da subjetividade

A fotografia conceitual muitas vezes envolve uma forte dose de subjetividade por parte do autor, que pode utilizar suas experiências pessoais, crenças e perspectivas para informar o conteúdo e o significado de suas obras.

A subjetividade do autor pode influenciar a interpretação da obra pelo espectador, levando a uma variedade de significados e associações possíveis.

Roger Ballen, "Flattened", 2020
Archie Moore, "Archie Moore Blood Fraction", 2015

Desafios à originalidade

A originalidade na fotografia conceitual muitas vezes é questionada, uma vez que os artistas frequentemente utilizam estratégias como a apropriação de imagens ou a recontextualização de materiais existentes.

Os artistas conceituais podem explorar a ideia de originalidade de maneiras que desafiam as noções convencionais de autoria e criatividade, questionando o que constitui uma obra de arte original na era da cultura visual digital.

Richard Prince,"Untitled (Portrait), 2014
Curtis Mann,"Scratch", 2009

Evolução da prática artística

Ao longo do tempo, a recepção da fotografia conceitual tem sido moldada pela evolução da prática artística e pelas mudanças nas tecnologias e convenções da fotografia. Novas abordagens, técnicas e temáticas emergem continuamente na fotografia conceitual, desafiando e expandindo as fronteiras da arte fotográfica.

As imagens digitais promoveram a aceitação das ideias fundamentais da fotografia feita à mão, de que a fotografia não é necessariamente autêntica e que pode ser legitimamente manipulada para expressar uma gama de ideias. Mas a facilidade com que os computadores permitiram aos fotógrafos concretizar os seus objetivos provocou, num primeiro momento, uma diminuição da utilização de técnicas artesanais. Mais recentemente, porém, houve uma reação à criação de imagens digitais e um retorno às técnicas artesanais. 

Osang Gwon, Bust (YW), 2016. C-print, Mixed media, 70x64x40cm
Boris Eldagsen,"The Electrician",  Pseudomnesia series, 2022

O PAPEL DO ESPECTADOR

A interpretação da obra fotográfica conceitual e sua relação com o contexto cultural e social

A fotografia conceitual continua a ser uma forma de arte vibrante e dinâmica que desafia e inspira os espectadores a se engajarem com questões profundas e urgentes da experiência humana.

Alguns aspectos importantes a serem observados para se ter um panorama da recepção da fotografia conceitual e as transformações históricas.

O valor cognitivo da arte se refere ao potencial de uma obra para estimular o pensamento crítico, expandir o entendimento e proporcionar novas percepções. Na fotografia conceitual, esse valor é particularmente evidente, pois as imagens são criadas com o objetivo de comunicar ideias complexas e desafiar o espectador a pensar além da superfície da imagem. 

Contexto cultural e social

A recepção da fotografia conceitual é fortemente influenciada pelo contexto cultural e social em que é criada e exibida. Questões como identidade, política, gênero e globalização desempenham um papel significativo na interpretação das obras.

Transformações históricas, como mudanças nas percepções sociais e culturais ao longo do tempo, afetam como as obras de fotografia conceitual são recebidas e compreendidas pelos espectadores.

Hank Willis Thomas, série: "Unbranded A Century of White Women, 1990-2015", 2015
Shirin Neshat, "Rebellious Silence",1994

Intertextualidade e referências

Muitas obras de fotografia conceitual fazem referência a outras formas de arte, teoria crítica e cultura popular. A compreensão dessas referências e intertextualidades pode enriquecer a experiência do espectador e fornecer insights mais profundos sobre as obras.

A capacidade do espectador de reconhecer e interpretar essas referências pode variar dependendo de sua familiaridade com o contexto cultural e as obras de arte relacionadas.

Victor Burgin, "Section from Office at Night", 1986 
Joel Peter Witkin, "Three kinds of women", 1992

Participação ativa do espectador

A fotografia conceitual muitas vezes desafia as expectativas do espectador e exige uma participação ativa na interpretação da obra. O espectador é convidado a se envolver intelectual e emocionalmente com a obra, explorando suas camadas de significado e reflexão.

A abertura à ambiguidade, interpretação subjetiva e múltiplas leituras é uma característica fundamental da fotografia conceitual, incentivando o espectador a questionar suas próprias percepções e pressupostos.


Philip-Lorca diCorcia, "Tim Morgan Jr., 21 years old, Los Angeles, California, $25 / Joe Egure, 18 years old, Los Angeles, California, $25", 1990

Santiago Sierra, Veteran of the Wars of Cambodia, Rwanda, Bosnia and Kosovo Facing the Corner, 2013. Dimensões: 200 x 100 cm

REVISÃO DE APONTAMENTOS GERAIS

O panorama dos aspectos gerais da fotografia conceitual revela uma forma de arte dinâmica e multifacetada que desafia as convenções tradicionais da fotografia e da expressão artística. Ao longo de sua história, a fotografia conceitual tem evoluído em resposta a mudanças sociais, culturais e tecnológicas, refletindo e influenciando as transformações do mundo ao seu redor.

A fotografia conceitual emerge das raízes de movimentos artísticos anteriores, como o dadaísmo, o surrealismo e a arte conceitual, assimilando e reinterpretando ideias e técnicas para criar uma linguagem visual própria. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, vemos a consolidação da fotografia conceitual como uma prática artística distinta, impulsionada por eventos e movimentos sociais, avanços tecnológicos e mudanças nas percepções sociais e culturais.

Exploramos as diferentes abordagens e técnicas utilizadas pelos artistas da fotografia conceitual, desde a montagem e a manipulação digital até a performance e a apropriação de imagens, destacando como essas estratégias desafiam as convenções artísticas e institucionais, questionando autoria, originalidade e valor artístico.

O Conceitualismo abrange uma ampla gama de práticas e ideias, o que pode tornar difícil definir o que é e o que não é "arte conceitual". Alguns críticos e historiadores de arte argumentam que o termo "arte conceitual" implica uma prioridade excessiva para a ideia por trás da obra em detrimento de sua forma ou estética. Isso pode ser visto como uma desvalorização da habilidade técnica e do valor estético da obra de arte, tornando desconfortável para artistas que valorizam suas habilidades e a singularidade de sua expressão pessoal.

Além disso, examinamos a influência da fotografia conceitual na transformação das práticas curatoriais, educacionais e críticas no campo da arte contemporânea, bem como seu impacto na evolução da fotografia digital, da arte baseada em mídia e das discussões sobre imagem, representação e cultura visual.

Por fim, refletimos sobre o papel do espectador na interpretação da obra fotográfica conceitual e sua relação com o contexto cultural e social, destacando como a participação ativa do espectador é essencial para a compreensão e apreciação plena dessas obras.

Neste panorama abrangente, fica evidente que a fotografia conceitual continua a desafiar fronteiras e a inspirar reflexões profundas sobre questões fundamentais da experiência humana. Sua capacidade de provocar, engajar e transformar a percepção do mundo ao nosso redor torna-a uma forma de arte verdadeiramente impactante e duradoura.

ANOTAÇÕES

A superfície da fotografia 

Intervenções literais e manipulação visual

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O formato físico: tamanho e suporte

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Análise formal

Diferenciando "Plástica" e "Estética"

Ao analisar uma imagem, é importante considerar tanto seus aspectos formais quanto interpretativos, buscando entender como estes se inter-relacionam para criar uma experiência visual rica e significativa. 

A compreensão dos elementos plásticos permite uma análise mais profunda da estética da imagem, enquanto a apreciação estética leva a uma valorização mais completa da técnica e da composição. 

Visão crítica e reflexiva da fotografia

Disciplinas como a Semiótica, a Análise do Discurso e os Estudos Culturais oferecem ferramentas valiosas para a análise crítica da fotografia, complementando a dimensão estética com perspectivas interdisciplinares. 



A Estética na fotografia não se limita à subjetividade e à beleza. Ao incorporarmos a Filosofia da Arte e disciplinas interdisciplinares à nossa análise, podemos desvendar os múltiplos significados das imagens, questionar seus impactos e construir uma visão crítica e reflexiva da fotografia em suas diversas vertentes. 


Modelo de Estrutura de Apresentação e Análise Preliminar de uma Fotografia Artística para Fins Documentais e Museológicos:

I. Identificação:

II. Descrição Formal:

III. Análise e Interpretação:

IV. Considerações Adicionais:

V. Documentação Fotográfica:

VI. Anotações e Observações:

Observações:

Lembre-se: