Visão geral
Alexandre
Mury
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Biografia resumida
Alexandre Mury é um multiartista que trabalha com fotografia conceitual, através do autorretrato, no campo da performance. Suas obras exploram a ressignificação e conexões entre Identidade, Cultura e História da Arte. Artista multidisciplinar usa materiais alternativos e experimentais. Preocupado com composição, cor, textura, equilíbrio e beleza, também propõem posições interrogativas e subversivas para encenar personagens da cultura popular, mitos, vultos históricos e, até mesmo, a personificação de animais e plantas.
Para além de documentar as performances com fotografia e vídeo, Alexandre Mury inclui desenhos, pinturas, esculturas, instalações, cenografia e caracterização no processo. O seu trabalho está impregnado de literatura e filosofia, fazendo referência às teorias de grandes pensadores, ao mesmo tempo em que levanta questões em torno da cultura popular, identidade e noção de "eu". Mury ficou conhecido pelos seus "tableaux vivants", recriando obras canônicas de artistas significativos para a história da arte.
As obras de Alexandre Mury são marcadas por um aguçado senso de ludicidade e lirismo. O seu método é uma elaborada transgressão, que reúne assunto e técnica evocando a ironia, a apropriação, o pastiche e o kitsch. A sátira nas suas obras opõem-se ao determinismo e primazia oferecendo novas perspectivas sobre assuntos e elaborações tradicionais. A própria noção de autorretrato é subvertida radicalmente criando efeitos de humor e tensão ao referenciar imagens icônicas.
Mury desafia seus espectadores na sua estratégia estética que destaca o artifício da cultura pop, elementos autobiográficos, memorabilia e teatralidade em suas fotografias encenadas. Sendo persistente na Investigação do papel da linguagem na arte, enquanto explora narrativas implícitas nos estereótipos de personagens, questionando os valores culturais e a política do corpo — Ele se torna autor e ator de sua própria obra, seu corpo transitando entre "objeto da arte" e “objeto de arte”.
Figura importante da chamada "Pictures Generation" (1970 e 1980), a aclamanda artista americana Cindy Sherman, com quem Alexandre Mury é comparado, ambos exploram não apenas a identidade, mas também a natureza da representação e conceito de "Apropriação na Arte"; entre outros aspectos: formais, estilísticos, iconográficos e temáticos — Mury assemelha-se, também, a outros artistas relacionados, tais como: Claude Cahun, na França; Luiggi Otani, na Itália; Samuel Fosso, na África; e Yasumasa Morimura, no Japão.
Não obstante, o "Manifesto Antropofágico" (década de 1920) continua ecoando na arte brasileira, consequentemente incidindo na obra de Alexandre Mury, que produz uma arte questionadora da própria natureza da arte, uma “devoração crítica” autêntica. — Entre suas obras mais conhecidas está o "Abaporu"(2010), releitura do trabalho icônico, de 1928, da Tarsila do Amaral. Mury fricciona com a "RE-VISÃO" da arte, em uma via de mão dupla: o autor reinventa e o espectador reinterpreta promovendo infindáveis recontextualizações.
Seja como "pintura viva" ou "escultura viva", como em "Cristo Redentor" (2010); Mury tenciona com a "body art", a exemplo da videoperfomance "Lisa" (2013); as obras reformuladas, ora pelo desvio paródico, como em "A Duquesa Feia" (2011); ora dramático como em "Francis Bacon" (2011) ou um simulacro conspícuo como em "Aopkhes"(2014). Se é da "Arte Conceitual" que derivam a "fotografia coneitual", a "performance art" e tantas outras vertentes — ao transformar o gesto de fotografar em uma performance, o artista extrapola vários campos da arte... o que é genuíno na "Arte Contemporânea" caracterizada pela ausência de um princípio organizador uniforme, ideologia ou 'ismo'. Alexandre Mury produz arte no tempo que vive e vive a arte no tempo que produz.
No currículo estão importantes exposições individuais, destaque para "Fricções Históricas", que teve duas edições — 2013, Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, e em 2015, a versão ampliada, realizada no SESC Glória, em Vitória, ES, sob a curadoria de Vanda Klabin. Também se sestaca a participação em coletivas importantes, tais como — "Genealogias do Contemporâneo"(2012), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), onde expõem ao lado de nomes como Di Cavalcanti e Paulo Nazareth, sob curadoria de Luiz Camillo Osorio; a exposição “Espelho Refletido – O Surrealismo e a Arte Contemporânea Brasileira” (2012), no Centro de Arte Helio Oiticica, no Rio de Janeiro, teve a curadoria de Marcus Lontra, expondo ao lado de artistas representativos como Rodrigo Braga, Ernesto Neto e José Damasceno; e em 2015/16 "Novos Talentos: Fotografia Contemporânea no Brasil", com curadoria de Vanda Klabin, expôs ao lado de Berna Reale, Gustavo Speridião, Arthur Scovino, entre outros, sempre ao lado de grandes artistas da arte contemporânea brasileira.
Alexandre Mury foi indicado ao Prêmio Pipa em 2016, possui obras nos acervos do MAM-Rio (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), MAR (Museu de Arte do Rio) e MFF (Museu da Fotografia Fortaleza). O artista é frequentemente mencionado no meio escolar e acadêmico, presente nas referências para estudos em livros didáticos e citado em monografias, dissertações e teses. Mury é graduado em Comunicação Social e não concluiu o mestrado em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Ele é brasileiro, vive e trabalha, no interior do estado do Rio de Janeiro, em São Fidélis, cidade onde nasceu, em 1976.
Inversão Reversa do Ready-Made Alexandre Mury, diante da icônica obra de Marcel Duchamp, "A fonte", 1917.
“O seu processo permanente de se apropriar e realinhar os ícones históricos da arte e inseri-los em outra estratégia discursiva pode ser uma forma de negá-los, já que vai reinscrevê-los em ritmadas oposições. Problematiza, aciona novos significados para o trabalho de arte, deslocando o seu posicionamento histórico, quebrando as fronteiras de recepção que temos desses ícones e recolocando a emergência dessa imagem em circulação e reenervar a superfície representacional atrás de diversos procedimentos, numa vitalidade insuspeitada.”
_________________por Vanda Klabin (Historiadora da Arte e Curadora)
em "FRICÇÕES HISTÓRICAS"
Trecho do texto do catálogo da exposição individual do artista Alexandre Mury
na Caixa Cultural do Rio | 2013
“Na articulação de uma linguagem própria, ele aproxima imagens cultas e triviais, sacras e profanas, sublimes e banais, que superpõem mundos diversos e solicitam a memoria do espectador/interlocutor para a produção de sentido. A arte fala sobre a arte, o presente desliza no passado e vice-versa. É neste caráter dialógico da obra, que o artista escreve seu próprio tempo e identidade.”
_________________por Elisa Byington (Historiadora da Arte e Curadora)
em "EU SOU A PINTURA"
Trecho do texto para a exposição individual do artista Alexandre Mury
na Athena Contemporânea Galeria | 2014
“A reinvenção operada por essas fotografias convoca a memória e deflagra um olhar crítico, interpretativo. Se toda a obra de Mury é uma constante reinvenção do mundo, a cada visada para os seus trabalhos temos a chance de reinventar o nosso próprio olhar para um universo que parecia estanque, dado, catalogado, já visto e estabelecido.”
_________________por Luisa Duarte (Curadora)
em "UM MUNDO REINVENTADO"
Trecho do texto do catálogo da exposição individual do artista Alexandre Mury
na Galeria Laura Marsiaj | 2011
“Por entre tantos personagens díspares e seus cenários inusitados — o conjunto todo formando um inédito cosmorama — encontra-se conforto na presença do semblante de Mury; ele está lá para receber cada observador e para, no mesmo movimento, lançar-lhe de soslaio, um olhar que faz enigma. De dentro da obra, tal qual em sua câmara fotográfica, abre e fecha o seu obturador para, através de suas lentes, receber invertida a imagem que deixa àquele que vislumbra.”
_________________por Guilherme Gutman (curador)
"MURY ATRAVÉS DO ESPELHO"
Ensaio sobre a obra de Alexandre Mury publicado na revista
Santa Art Magazine #08 | 2012
“o seu trabalho é feito de um duplo ato criativo, no qual em movimentos simultâneos ele desmente o desaparecimento do original no mesmo instante em que lhe faz substituído pela novidade dos elementos que encena. Mas ele não está sozinho. Quem suportaria a vida se não acreditasse que nem tudo já foi feito e que, por isso mesmo, é possível acrescentar algo novo ao mundo? a possibilidade desse ato criativo, que nesse ponto se confunde com a obtenção do sentido de estar no mundo, está fortemente presente em Mury.”
_________________por Guilherme Gutman (curador)
"MURY ATRAVÉS DOS TEMPOS"
Ensaio sobre a obra de Alexandre Mury publicado na revista
Santa Art Magazine #08 | 2012
“Antes, para além de sua presença, sua subjetividade se delineava à medida em que colecionava imagens e ao conjugar acréscimos e subtrações nas releituras. Agora, ela corre outros riscos, manifestando-se desde o esquema norteador até as minúcias de cada mise en scène. Ainda que a imaginação tenha agora mais peso do que a memória, permanece o diálogo cerrado com a História da Arte, anunciado desde a primeira hora de sua trajetória.”
_________________por Roberto Conduru (curador)
em "O CATADOR NA FLORESTA DE SIGNOS"
texto do catálogo da exposição individual do artista Alexandre Mury
na Galeria Roberto Alban | 2015